Banners amarelos, com mensagens alusivas à preservação da vida e à prevenção ao suicídio, estão instalados por todo o campus da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). As peças fazem parte da programação da instituição para o Setembro Amarelo, e trazem o mote: Precisamos nos entender. O acolhimento também é o tema do vídeo institucional produzido pela Diretoria de Imagem Institucional da universidade, em parceria com a Diretoria de Ações Afirmativas (Diaaf), da Pró-Reitoria de Assistência Estudantil, e do Centro de Psicologia Aplicada (CPA), que foi disponibilizado pela instituição para outras universidades, para que elas anexem informações sobre o atendimento em seus ambientes.
“Trata-se de um tema muito sensível, e a nossa intenção é fazer com que as pessoas conheçam mais sobre os recursos disponibilizados pelas universidades, despertando a comunidade para uma necessidade cada vez maior de abrir espaço para perceber a carência e as dificuldades dos outros”, destaca o diretor de Imagem Institucional, Márcio Guerra.
Ele reforça que, quanto mais se tocar no assunto, com a sensibilidade que ele merece, mais vidas podem ser salvas do autoextermínio. “Todos temos dificuldade em falar sobre o suicídio. Tanto a imprensa, quanto a comunidade acadêmica, porque sempre foi tabu. (O Setembro Amarelo) faz com que a gente tenha a consciência de que há um adoecimento mental na sociedade como um todo, e também é papel das instituições de ensino superior trabalhar em relação a isso. Lidamos nessa dimensão para que as pessoas se ajudem, percebendo seus valores individuais e nas relações em um âmbito mais complexo.”
As pressões e as conjunturas atuais somam ansiedades e muitas dificuldades em todos os níveis da sociedade. Marcos Freitas, pró-reitor de Assistência Estudantil, destaca que esse ambiente de insegurança, de ódio e de falta de garantia de coisas básicas para a sobrevivência, geram um clima de tensão muito grande. “Especificamente dentro da academia, o que temos trabalhado é a possibilidade de transformar esse espaço, que é de construção de conhecimento, em um local em que a liberdade de expressão é verdadeiramente respeitada, de forma que nos dedicamos à construção de um ambiente organizacional mais humanizado. Queremos que as pessoas sejam respeitadas nas suas diferenças, em seus direitos, nas suas pluralidades. Que todos possam se respeitar e aproveitar dessas diferenças para crescer. Enquanto não temos esse ambiente mais saudável, abrimos espaço para que o estudante tenha voz, para que a comunidade acadêmica possa fazer a denúncia.”
Para isso, a universidade criou uma ouvidoria especializada, em que todas as questões são apuradas e investigadas e as violações sejam punidas. Durante o mês, várias atividades estão previstas na UFJF. A Proae promove um seminário no dia 25, envolvendo temas como a prevenção do suicídio na juventude, a comunicação como prevenção e a necessidade de falar sobre o tema.
A importância do acolhimento
Desde o início do mês, alunos da UFJF se reúnem para ‘abraçar’ outros estudantes, abrindo caminho para a informação sobre como chegar à ajuda especializada, por meio de mensagens deixadas em papéis pelo campus e por meio da página do Instagram @intensize. “Apoiamos totalmente esse tipo de iniciativa. Esse é um caminho importantíssimo. A UFJF é muito rica em suas diversas manifestações. Temos vários coletivos e organizações e isso é uma virtude. Particularmente, vejo a ação de valorização da vida como uma atividades transversal. Deve ser executada e desenvolvida tanto pelos estudantes, quanto pelos técnicos-administrativos e professores. Também temos vários programas ofertados pela Proae aos estudantes, sobre assuntos como ansiedade, por exemplo. Ampliamos os espaços institucionais para que as pessoas tenham condições de dialogar, trazer suas questões”, explica o pró-reitor Marcos Freitas.
Saber onde encontrar ajuda é fundamental, pontua o médico psiquiatra Bruno Cruz, vice-presidente da Associação Psiquiátrica de Juiz de Fora e colunista do Papo Cabeça, da Rádio CBN Juiz de Fora. “Conseguimos evitar o suicídio, mas a forma de fazer (a prevenção) é tratando o transtorno mental, buscando a atenção em saúde mental. Se a pessoa não procura o atendimento, perde-se a chance de salvar essa pessoa. Essa rede que sinaliza a forma de encontrar ajuda é fundamental.”
Preconceito
Ele ressalta ainda que os indivíduos não devem ter seus sofrimentos ignorados. “Não temos que ter medo de conversar a respeito, não devemos achar que é frescura, ou que vai passar. É preciso entender que os transtornos psiquiátricos são doenças sérias, mas têm tratamento, e que o preconceito deve ser deixado de lado, para que quem precisa possa chegar a um psicólogo ou a um psiquiatra. São doenças que trazem muito preconceito, e isso tem que ser mudado.”
As pessoas podem encontrar amparo por meio de serviços de saúde, como Centros de Atendimento Psicossociais (Caps), Unidades Básicas de Saúde (UBSs), entre outros serviços públicos, inclusive as unidades de urgência e emergência. O Centro de Valorização da Vida, que atende pelo telefone 141( ligação paga), via site (www.cvv.org.br), para chat, skype e email, é outra opção.
Sua vida vale ouro
Outro evento que abordará a relevância da prevenção será realizado pela Unimed, na Sociedade de Medicina e Cirurgia de Juiz de Fora, no dia 25 de setembro, às 19h30. Assim como o seminário da UFJF, o evento promoverá uma abordagem multidisciplinar do suicídio. A médica psiquiatra Elimar Jacob Salzer, destaca que os transtornos emocionais que podem levar ao suicídio devem ser entendidos dentro de sua complexidade, o que relaciona sua origem, sintomatologia, evolução, tratamento e prognóstico.
“A frequência e a gravidade dos sintomas indicam o grau de comprometimento da pessoa em suas diversas áreas de relação: pessoal, profissional, e de lazer. Ao se detectar o risco, a postura terapêutica vai lançar mão de toda a ajuda possível, incluindo familiares e amigos, presença constante, atividades de grupo, religiosas, tentando-se, em cada caso, o que for mais aceito e adequado ao paciente.” Elimar também reitera a força e a importância da presença e da palavra, mesmo em situações não terapêuticas. “Esse auxílio pode ser recebido de todos que manifestem real interesse na ajuda.”
O papel dos profissionais em suas atividades, do assistente social ao psiquiatra, também estará contemplado no simpósio, que tem entrada gratuita, mas limitada pela lotação do espaço. Os interessados devem se inscrever pelo email ceduc@unimedjf.coop.br.