Há cinco anos, quem passa pela Praça Áureo Gomes Carneiro, no Grama, se depara com uma construção em inoperacionalidade. O posto policial do bairro foi construído com recurso da comunidade no segundo mandato do ex-prefeito Tarcísio Delgado, em modelo de orçamento participativo. Desde então, muitos desafios vêm ganhando forma no que diz respeito às condições de permanência da Polícia Militar no local.
Atualmente, o posto mais próximo para a população registrar ocorrências está localizado no Bom Clima. Para Roberta Lempk, moradora do Grama há 36 anos, a distância é um fator dificultoso e, por vezes, impeditivo na hora de procurar a polícia. “Quando lá está fechado, temos que procurar outro lugar. Muitas pessoas desanimam de fazer a ocorrência por conta desses empecilhos”, relata.
Fernando César, dono de comércio no Grama, participou da construção do posto à época. Após esse período, ele saiu do bairro e, quando retornou, viu o local desativado. A violência aumentou, e a gente se sente muito desprotegido. À noite há muitos abusos, inclusive no trânsito”, conta.
A possibilidade concreta de transformar essa situação começou quando a Associação de Moradores do Bairro Grama, junto com a Associação de Moradores do Parque Independência, reivindicou, perante a Prefeitura, o direito de a comunidade da Região Nordeste usufruir do espaço de maneira a construir projetos em prol da segurança pública.
Em 5 de junho deste ano, a Prefeitura publicou chamamento público para definir as condições de cessão do uso da área do antigo posto policial. O edital estabelece que os selecionados deverão se responsabilizar pela implantação de ações comunitárias, como reuniões de moradores, atividades educacionais, intervenções culturais, base de apoio a órgãos públicos e de interesse público em geral, na forma da legislação municipal. A vencedora do certame foi a Associação de Moradores do Grama.
Preocupação com a segurança pública
Com o direito conquistado, Francisco de Oliveira, integrante da Associação de Moradores do Grama, articula, junto a líderes e comunidade, os próximos passos. “É necessário defender a importância de manter o posto, assegurando a segurança pública. Para isso, queremos estabelecer um ponto de apoio da Polícia Militar no local.”
A conversa entre os representantes da comunidade com a PM foi mediada pela deputada federal Ione Barbosa. No ofício 031/2023 destinado à ela, o chefe de Estado-Maior da 4º Região da PM, o tenente-coronel Silas Florenzano, teria colocado a PM disponível para prestar serviço de qualidade e atendimento às demandas da região, caso a população se responsabilizasse pela reforma e manutenção do espaço.
Algumas das condições citadas no documento, o qual a Tribuna teve acesso, são: instalação de banheiro em boas condições de uso, bebedouro para água filtrada, fornecimento de mobília mínima para prestação do serviço, como, mesa e cadeiras, bem como equipamento para registro de REDS, sendo computador completo, com sistema operacional instalado e fornecimento de internet para acesso aos sistemas corporativos.
Para alcançar o objetivo de criar um ponto de apoio da polícia, Francisco destaca a necessidade de mobilizar a comunidade e dar início às conversas com comerciantes e moradores em prol da revitalização do espaço. “É muito importante chamar a população a nosso favor para que possamos, o mais rápido possível, deixar o posto em condições de a polícia assumir.” Em sua avaliação, a volta da PM, por meio do ponto de apoio, trará muitos benefícios. “Será um grande ganho para nós, que estamos sem policiamento nenhum. Nós vamos ter a presença da polícia praticamente constante. As ocorrências se fazem a toda hora.”
Ganhos para além do Grama
O presidente da Associação de Moradores do Parque Independência, Leandro Campos, destaca que a conquista do ponto de apoio não vai privilegiar um bairro, mas contribuirá para zelar por toda a Região Nordeste, desde Santa Terezinha até Filgueiras. “A união da população é muito importante, porque não se trata do Bairro Grama ou do Parque Independência separadamente. É para toda a nossa região”, comenta.
Para João Vitor Lopes, trabalhador de lotérica no Bairro Grama, a volta da PM trará suporte ao comércio e à população. “Tenho certeza de que todos os comerciantes e o povo estão muito dispostos a ajudar com estrutura e fornecimento de equipamentos, porque tudo isso é priorizar a segurança da nossa região.”
Conseguir estabelecer o posto é o primeiro passo, segundo Francisco, da busca pela aproximação contínua com a comunidade. “A associação quer desenvolver e potencializar ações de cultura e lazer no espaço e, futuramente, quem sabe, conseguir um ponto de apoio do Corpo de Bombeiros.”
Procurada pela Tribuna, a Polícia Militar (PM) afirmou que não havia informações a acrescentar, além das constantes no ofício.