A Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), por meio da Superintendência Regional de Saúde de Juiz de Fora (SRS-JF), divulgou, nesta quarta-feira (9), nota técnica sobre o relatório de inspeção elaborado após visita técnica das equipes da Vigilância Sanitária e da Vigilância Epidemiológica da Regional de Saúde em sala de vacinação contra a Covid-19 no município, no dia 2 de junho. Em nota, a SRS destacou que, durante a vistoria, foram constatados procedimentos realizados de “forma inadequada” em algumas etapas no processo de vacinação contra a Covid-19 no município. De acordo com a SRS, “tais procedimentos podem comprometer a adequada utilização do insumo contido em cada frasco de vacina”. A visita é uma das medidas adotadas pelo Estado para averiguar a perda de 10.769 doses no município, que, segundo a Prefeitura, teria ocorrido em razão de incompatibilidades entre os fracos do imunizante e as seringas enviadas ao Município.
O relatório de inspeção à sala de vacinação do município, ao qual a Tribuna teve acesso, aponta que a contagem de doses da vacina Coronavac extraídas dos frascos é realizada “por meio de processo que pode apresentar fragilidades”. Além disso, segundo a SES, os técnicos também teriam identificado que não há “anotação do número de doses extraídas em todos os recipientes” utilizados na imunização contra a Covid-19. No total, são registrados seis pontos observados pela equipe técnica que efetuou a visita.
Apesar de a SRS apontar inadequações, por outro lado, a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) manifestou satisfação sobre o ponto 2 do item IV do documento, que confirmaria que a aplicação de doses obedece “as boas práticas de vacinação, não sendo observado o emprego de técnicas incorretas”. A PJF ainda cita que o relatório ressalta que “não foi notado ajustes de dose fora do frasco ou excessivos”, o que confirmaria a eficiência do processo de aplicação do imunizante.
Em seu posicionamento oficial, enviado à Tribuna, a Prefeitura citou que o documento também atesta, em seu ponto 6 (do mesmo item IV), a presença de volume morto nas seringas, “confirmando mais uma vez o que havia sido informado pela Secretaria Municipal de Saúde e causa última da perda técnica em debate. Desse modo, o relatório faz cair por terra a possível interpretação de que há imperícia no processo de aplicação de doses”. Por fim, a PJF lembrou que a equipe empenhada na visita técnica ao ponto de vacinação se constituía como autoridade competente no local. “Caso fosse constatada alguma irregularidade, os técnicos seriam obrigados a interromper o processo de vacinação imediatamente, o que não ocorreu.”
O que diz o relatório
O documento, que relata a visita técnica realizada no Sport Clube na semana passada, destaca a análise técnica do processo de vacinação. Entre eles, o ponto 2 do item IV, destacado pela PJF, que diz que o “processo de aspiração das doses foi realizado de acordo com as boas práticas de vacinação, não sendo observado o emprego de técnicas incorretas”. O item ainda aponta, também conforme alega a PJF, que não foi notado ajustes de dose fora do frasco ou excessivos. “Em alguns momentos, utilizou-se a região central da tampa e não circundante ao centro delimitado, conforme recomendação do fabricante da vacina Coronavac”.
Apesar disso, o laudo sinaliza que “a contagem das doses extraídas de cada frasco da vacina Coronavac é realizada por processo que apresenta várias fragilidades”. Entre elas, o documento registra que a equipe que atuava no local no momento da vacinação relatou que a cada frasco de vacina são separadas 11 seringas em cima da mesa. Destas, cerca de oito a dez seringas de 1 ml seriam milimetradas em intervalos de 0,1 ml. Para se retirar a última dose, no entanto, uma seringa de 1 ml milimetrada em intervalos de 0,01 ml estaria sendo utilizada.
Além disso, o relatório também cita que a anotação das doses extraídas de cada frasco é registrada diretamente no frasco do imunizante com caneta hidrocor. Dos seis frascos de Coronavac utilizados no momento da inspeção, dois não tiveram a marcação da quantidade de doses extraídas. Após a inspeção, no entanto, a equipe que fazia a imunização teria anotado que, destes vidros, foram extraídas nove doses de cada.
Outra inadequação sinalizada no documento diz respeito à ausência de instrumento para registro de perdas técnicas e/ou físicas da doses. O relatório afirma que, segundo informações obtidas pela equipe de inspeção com responsáveis pela sala de imunização, as perdas técnicas, até a data da visita, eram contabilizadas ao fim do dia na Central da Rede de Frio Municipal, com base no número de doses aplicadas e frascos utilizados no dia.
Além disso, o documento aponta que foi verificado, após a aplicação, volume morto nas seringas e nos vidros. O volume morto ou volume residual é a quantidade de vacina que “sobra” e fica armazenada entre a ponta da seringa e a agulha.
Além dos pontos acima, a equipe técnica também concluiu, conforme mostra o relatório, que o transporte dos frascos da vacina para serem avaliados por outra equipe (durante a vacinação) podem causar extravio ou mistura de frascos de outros postos de vacinação, o que também pode constituir em vulnerabilidade para o rastreamento das doses utilizadas.
SES faz recomendações à PJF
A partir do relatório e com o objetivo de otimizar o uso dos insumos envolvidos na vacinação, a pasta estadual informou, em nota técnica enviada à Tribuna, que recomendou ações ao Município de Juiz de Fora. São elas: implementação de instrumento de registro das perdas técnicas e físicas na vacinação extramuros; realizar novo treinamento com as equipes de imunização com base nas orientações do fabricante da vacina Coronavac; monitorar e avaliar as perdas técnicas/ físicas por unidade, lote e tipo de vacinador para que possam ser identificadas possíveis falhas.
Sobre as recomendações sugeridas no documento, a Prefeitura informou que manifesta interesse em estudá-las.
Seringas serão avaliadas pela Funed
A visita técnica de inspeção é uma das medidas adotadas pelo Governo do estado para averiguar se as seringas compradas e distribuídas ao Município, de fato, são inadequadas, conforme afirma a Prefeitura de Juiz de Fora. Na semana passada, a pasta estadual informou que solicitou ao fabricante dos insumos os laudos de liberação dos lotes das seringas enviadas a Juiz de Fora.
Nesta quarta, a SES informou ainda que para qualificar o processo de investigação relacionado ao caso, foi realizada a coleta de 90 unidades de cada lote de seringas, na Central Estadual de Rede de Frio, para serem encaminhados à Fundação Ezequiel Dias (Funed). A instituição fará análises de rotulagem, teste de esterilidade e volumetria dos insumos. A conclusão da análise deve ser finalizada em 30 dias.