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Pacientes de cidades vizinhas ocupam cerca de 20% dos leitos em JF

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Almas reiterou que Juiz de Fora deverá demorar mais para sair da fase restritiva, e destacou que os muitos municípios da microrregião, como Chácara, Belmiro Braga, Pedro Teixeira e Ewbanck da Câmara não têm capacidade de resposta à pandemia (Foto: Reprodução)
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Cerca de 20% da ocupação dos leitos de UTI e de enfermaria em Juiz de Fora é formada por pacientes que residem nos outros 23 municípios da microrregião polarizada pela cidade. O dado foi apresentado pelo prefeito Antônio Almas (PSDB) durante debate na manhã desta terça-feira (9) na Rádio CBN. Na oportunidade, ele reforçou a necessidade das questões relacionadas à pandemia do novo coronavírus (Covid-19) serem tratadas, ao menos, de forma microrregional. A discussão girou em torno da adesão do Município ao programa Minas Consciente, do Governo de Minas, que propõe a retomada gradual das atividades comerciais e produtivas por meio de quatro etapas. A cidade permanece na chamada onda verde, que libera a abertura dos serviços essenciais. O debate contou com a presença do prefeito de Ubá, Edson Teixeira Filho (PHS), que se prepara para decretar, possivelmente na próxima semana, o avanço para a onda branca, que inclui serviços considerados de baixo risco.

Já Almas, reiterou que Juiz de Fora deverá demorar mais para sair da fase restritiva. Para ele, a análise sobre a migração passar a ser feita em nível microrregional, como deverá ser deliberado pelo Estado, e não mais de forma macrorregional, quando eram levados em conta outros 93 municípios, em nada modifica sua visão. “Vinte por cento da ocupação de leitos, tanto da enfermaria, quanto de UTI, tem sido por pacientes da microrregião, e não da cidade de Juiz de Fora. Por conta disso, sempre foi minha defesa de que precisamos de uma discussão, pelo menos, microrregional. Enquanto cidade, sede de micro e de macro, Juiz de Fora tem essa responsabilidade regional dentro do processo de assistência no SUS. A ação do prefeito não passa de um metro da fronteira, e essas ações de saúde são maiores, têm necessidade de ir um pouco além.”

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Em Juiz de Fora, conforme o chefe do Executivo, a situação atual não permite mudança de onda dentro do Minas Consciente. “Os números de ontem (8) são os maiores que nós temos de ocupação de leitos por Covid nos últimos, pelo menos, 15 a 20 dias. Chegamos a 43 leitos de UTI ocupados por Covid e 85 leitos de UTI ocupados por não Covid.” Almas acrescentou que, dos leitos do SUS “vocacionados” para pacientes do novo coronavírus, 78% estão em uso, enquanto os demais, destinados a qualquer tipo de doença, estão com taxa de 83%. “Isso dá uma ordem de ocupação de mais de 80% dos leitos totais. Essa é uma preocupação, porque inclusive é um parâmetro para mudar de onda. Por outro lado, fizemos um grande esforço para aumentar o número de leitos. Conseguimos ampliar em 42%, mas esses ainda não estão habilitados em sua totalidade pelo Ministério da Saúde. Isso também já impõe uma responsabilidade maior para a Prefeitura, porque, se não se concretizarem essas habilitações, por algum motivo, o pagamento dessas diárias vão ficar sob responsabilidade do Município.”

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Almas reforçou que, diante do quadro, não vê como Juiz de Fora “avançar” no Minas Consciente. As avaliações são feitas semanalmente, às segundas-feiras. O prefeito destacou que os muitos municípios da microrregião, como Chácara, Belmiro Braga, Pedro Teixeira e Ewbanck da Câmara não têm capacidade de resposta à pandemia, porque não contam com unidades hospitalares. “Aqueles que têm, levando em consideração São João Nepomuceno, têm hospitais de média complexidade. E o paciente crítico, grave na Covid, exige UTI, alta complexidade. Até porque pode precisar inclusive de tratamento de hemodiálise.”

‘Estamos nos exaurindo’

Sobre os questionamentos a respeito da situação econômica, perante a paralisação de boa parte das atividades, Almas disse que o setor empresarial está sempre presente nas discussões realizadas às terças-feiras pelo Comitê Municipal de Enfrentamento e Prevenção à Covid-19. “Também estamos incorporando técnicos da universidade (UFJF) e da própria Prefeitura para encaminhar orientações do ponto de vista técnico, epidemiológico e assistencial. Precisamos de parâmetros para as coisas serem feitas de maneira segura, por um lado e pelo outro. Não posso colocar em risco o sistema de saúde em troca da questão econômica, mas também não posso penalizar o setor econômico em um ambiente que esteja estritamente seguro do ponto de vista sanitário.”

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Almas falou também do cansaço de cada indivíduo. “Estamos nos exaurindo do ponto de vista do comprometimento com o isolamento, o que não é bom. É importante que cada um de nós se comprometa com o outro. Se não tem razão para estar na rua, que fique em casa. Significa também manter o distanciamento social, estabelecendo sempre distância de dois metros. Em contrapartida, é fundamental usar a máscara. O que tem mais me causado desconforto hoje, que mais me agride, é o cidadão sem máscara em ambiente social, caminhando na rua ou fazendo compras. Essas, que parecem pequenas ações, nos permitirão ter segurança, a médio prazo, para a flexibilização segura, do ponto de vista de saúde pública.”

Apesar do aparente “esgotamento das pessoas” com o isolamento, o prefeito afirmou que os índices permanecem superiores a 50%. “Vamos para 90 dias em casa, as pessoas estão se cansando disso. Mas nos melhores números não passamos de 54% de isolamento. Hoje, estamos com 51%.”

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Segundo Almas, a doença ainda pode estar concentrada em uma camada da população de classe média. “Ainda não chegou nos bairros periféricos na intensidade que pode chegar? É outra interrogação que estamos fazendo.” De acordo com ele, as pessoas precisavam colaborar mais. “São coisas simples, que dependem só do indivíduo: manter distanciamento, usar máscara.”

Prefeito admite falhas no Minas Consciente

O prefeito de Juiz de Fora, Antônio Almas, ponderou que o Minas Consciente é uma ferramenta que tem falhas, porque “todos estamos aprendendo”: “Situação semelhante aconteceu há um século atrás. Não temos conhecimento pleno. A todo momento vemos na imprensa especializada mudanças de orientação, discussões diferentes. Então o Minas Consciente não é uma ferramenta completa.” Ele ponderou que, apesar disso, o programa permite as visões regionais. “Hoje, ainda sem interiorização maior da doença, Juiz de Fora já responde com 20% de seus leitos para a microrregião. Não dava para só Juiz de Fora ou Ubá tomar a decisão de fechar, se o entorno não fechasse. O vírus poderia chegar a uma cidade do entorno, causar impacto, e não teria como coordenar.”

Questionado se não deveria haver um aumento da capacidade hospitalar para que a cidade avançasse nas “ondas” do Minas Consciente, Almas afirmou que essa é a discussão do Município com as autoridades estaduais e federais. “Já encaminhamos, através de entidade representativa do setor empresarial, a solicitação de nos ajudar a obter ventiladores mecânicos para podermos ampliar o número de leitos. Estamos tendo dificuldade. Não cabe exclusivamente a nós.”

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Almas acrescentou que foram ampliadas em 42,6% as vagas para alta complexidade. “Saímos de 108 leitos de UTI no SUS antes da Covid para 157 hoje. Aumentamos em 49, mas só 10 foram habilitados. Não é falta de esforço, trabalho e responsabilidade do setor municipal.
Estamos encaminhando, solicitando a toda hora. Ainda temos capacidade grande de espaço na rede hospitalar de Juiz de Fora, mas precisamos que o Estado e o Governo federal garantam. Não conseguimos comprar ventiladores no mercado, não existe quem venda. O Governo federal chamou para ele a responsabilidade de compra. Hospitais aqui se dispõem a ampliar, desde que tenham os aparelhos, como os ventiladores e os monitores cardíacos. Está se criando uma falácia de que precisamos de hospital de campanha. Nós precisamos é de leitos”, disparou o prefeito, acrescentando que hospital de campanha não significa UTI e que Juiz de Fora tem mais de 700 leitos SUS de enfermaria livres, com acesso a oxigênio.

Reforça econômico

Para o prefeito, a solução para a questão econômica está diretamente ligada ao Executivo nacional. “Todos os países estão buscando dar garantia às suas empresas, inclusive com emissão de moeda, para garantir o dinheiro circulando. Não vão ser as prefeituras que terão condições de dar reforço econômico.” Almas disse, ainda, haver um “descompasso nítido” entre a percepção do Governo federal com a pandemia e o que a maioria dos estados e grande parte dos prefeitos têm.

Sobre a quantidade de testes, ele admite que, apesar do aumento, ainda está longe do necessário. “Temos um entendimento do processo que estamos vivendo. O Minas Consciente é para enfrentarmos isso de uma maneira mais eficaz e organizada”, pontuou, não descartando mudar de ferramenta caso essa pare de dar as respostas que acredita. “Se vermos que esse processo está colocando em risco a saúde da população ou aumentando o risco econômico, vamos rediscutir e podemos retomar outra forma de gestão, mas temos que lembrar que existe ordenamento jurídico.”

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O prefeito ressaltou que o avanço na área sanitária está muito ligado à capacidade de resposta dos governos estadual e federal. “Vejo o crescimento da ocupação dos leitos de UTI em Juiz de Fora e não consigo ampliação. Isso me coloca a responsabilidade de não correr risco. Ainda não enfrentamos nenhuma dificuldade para internar paciente em UTI, mas ficamos nessa angústia de ver o que vai acontecer se as pessoas não se comprometerem e mudarem suas atitudes. E não é com fiscalização que vamos resolver o problema do isolamento.
Precisamos ter essa consciência de que o que parece hoje ser uma situação tranquila do ponto de vista sanitário pode não ser daqui a 15, 20 dias. Nós temos a certeza de que estamos buscando construir aquilo que é mais adequado para esse momento.”

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