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Larvas do Aedes já nascem infectadas

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Um estudo inédito sobre a situação da dengue em Juiz de Fora, realizado por pesquisadores da UFJF, mostra que a população não deve relaxar em relação ao combate à doença, ainda que a epidemia dê sinais de enfraquecimento. A pesquisa comprova que algumas larvas do Aedes aegypti já nascem infectadas. Isso significa que o mosquito não precisaria picar um doente para que o vírus seja introduzido em seu organismo. Desta forma, o desenvolvimento poderia ocorrer mesmo sem haver pacientes com a moléstia ou viajantes que tenham trazido o vírus de outro município. As investigações também comprovam a circulação dos sorotipos 1 e 2 da dengue em Juiz de Fora.

A coordenadora da pesquisa, Betânia Drumond Andrade, do Departamento de Microbiologia da UFJF, informa que, de todos os ovos depositados pela fêmea do Aedes aegypti, entre 0,01% e 1% já estão infectados. Das 37 mil larvas recolhidas em Juiz de Fora, desde 2011, 30% foram analisadas pelos integrantes do estudo, e em 0,02% foi encontrado o vírus. "A transmissão transovariana, em que o mosquito passa a infecção para o ovo e da larva para o adulto, é uma forma de manutenção do vírus na natureza", explica a professora. Ela acrescenta que estudos do tipo são realizados em diferentes regiões do país e do mundo.

"Uma vez que a larva está infectada, vai permanecer assim para o resto da vida. Mas não quer dizer que todos os ovos vão ser infectados, nem que todos os ovos infectados vão alcançar a fase adulta", explica. A pesquisadora acrescenta que isso pode acontecer em todos os sorotipos da doença. Betânia observa ainda que, no período de seca, geralmente do meio do ano a outubro, diminui a circulação do vírus em ambientes urbanos. No entanto, os ovos depositados podem sobreviver, em média, de seis meses a um ano, e reiniciar seu desenvolvimento quando em contato com a água. Assim, ainda que não haja pacientes com dengue, é possível o nascimento de larvas já infectadas.

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"Se o mosquito já vem com o vírus assim que nasce, favorece a transmissão da dengue", explica Betânia. A professora alerta também que, por isso, é importante manter as residências sem água parada, que possam se tornar criadouro do Aedes aegypti.

 

Pesquisa

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A pesquisa, denominada "Detecção, caracterização molecular e filogenia de dengue vírus circulantes em Juiz de Fora", tem por objetivo caracterizar o vírus da doença e seus aspectos genéticos, assim como o Aedes aegypti (o hospedeiro) circulante na cidade. O estudo, realizado desde 2011, visa ainda a verificar quais características podem estar relacionadas à ocorrência de casos severos, como a febre hemorrágica.

Betânia ressalta que cada um dos sorotipos da doença possui um genótipo ou constituição genética. Na composição dos genes, existem ainda variações denominadas linhagens, sendo que alguns destes subtipos estão relacionados a formas mais severas da doença. "É importante para a vigilância epidemiológica ver que tipo de vírus está circulando, se está associado a doenças mais brandas ou mais graves, para fazer campanhas de prevenção mais intensas e evitar a circulação dos que causam doenças mais graves." A pesquisa dos genes ainda começará a ser realizada pela equipe.

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De acordo com a docente, o estudo é importante ainda para verificar se há cocirculação de diferentes sorotipos da dengue, pois isso também aumenta a chance de casos mais sérios. "O anticorpo contra o vírus de um tipo pode se ligar inespecificamente a um outro tipo, por exemplo, e isso facilita a entrada da infecção."

 

 

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Amostras de sangue e mosquitos

Além de larvas, houve coleta de sangue de 170 pessoas e 1.600 mosquitos. Do total, cerca de 53 amostras de pacientes já foram estudadas e quatro estavam infectadas. Em relação ao Aedes aegypti, 70% foram analisados, mas nenhum tinha o vírus. "É mais fácil achar o mosquito do que a larva infectada, mas nós não encontramos", relata a pesquisadora Betânia Drumond Andrade.As larvas e os mosquitos são recolhidas por agentes de endemia da PJF. Já as amostras de pacientes são do Hospital Universitário (HU), do Laboratório Lawal e da Santa Casa. "Os pacientes atendidos nestes locais são informados sobre a pesquisa e, se aceitam participar, uma parte do soro vem para a gente", esclarece Betânia. Os estudos têm participação de seis pesquisadores e oito alunos de graduação e mestrado, contando ainda com apoio da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) – MG. O financiamento é da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) e da Pró-Reitoria de Pesquisa da UFJF.

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