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Inquérito apura imagens de jovens ostentando armas no Chapadão

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A Delegacia Especializada em Homicídios instaurou inquérito para apurar os vídeos de jovens ostentando armas em um evento realizado no Chapadão, no Bairro Dom Bosco, Cidade Alta, em plena luz do dia. As imagens circulam nas redes sociais desde a última semana. A investigação é presidida pelo delegado titular da Especializada, Rodrigo Rolli, e detalhes não foram repassados à reportagem. Já o delegado regional Armando Avólio garantiu que, nos próximos dias, a comunidade terá uma resposta.
Pelo menos duas publicações foram divulgadas logo após a passagem de ano, quando, segundo moradores, as imagens teriam sido gravadas. Em um dos vídeos, um suspeito atira para o alto e, no outro, sete rapazes exibem armamentos e cantam uma música. Em determinando momento, um deles diz “só na testa viado”, apontando a arma para sua própria cabeça. Outro jovem mostra três armas e aparenta estar usando um colete balístico.

A Polícia Militar confirmou que as imagens são do Chapadão, mas não afirmou se os fatos aconteceram no dia 1º de janeiro de 2019. A apuração do setor de inteligência deve revelar se os vídeos foram gravados, de fato, durante baile realizado nessa data, assim como se o suposto colete era o mesmo usado pelas forças armadas. Anteriormente, como informou a própria corporação, operações foram realizadas para garantir a segurança no local, já que os eventos convocados pelas redes sociais são irregulares, uma vez que não possuem autorização dos órgãos públicos. No entanto, a concentração de pessoas ocorreu tanto no Natal, quanto no Réveillon, sem o uso de música ou qualquer outro fator que configurasse uma festa, informou a PM. Somente pela avaliação das imagens a PM informou que os integrantes poderão responder pelos crimes de ameaça, porte ilegal de arma de fogo e formação de quadrilha.

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Problemas recorrentes

Há um ano e cinco meses no comando da 99ª Companhia da Polícia Militar, o capitão Flávio Luiz de Campos, responsável pela segurança da Cidade Alta, que engloba 72 bairros e condomínios, garantiu que a PM já enfrentava problemas com relação aos bailes realizados de maneira clandestina no Chapadão anteriormente a este período de fim de ano. Um duplo homicídio ocorreu no local, em abril de 2017, ao final de um deste eventos. Charles Patrick Carvalho de Souza, 25 anos, e Pedro Paulo Mendes, 21, morreram depois de serem baleados por criminosos. O rapaz mais velho era o condutor do veículo interceptado por atiradores, e seu corpo foi localizado dentro do automóvel na Rua Silvério da Silveira. O carro só parou depois de chocar-se com outros sete que estavam estacionados na Rua Antônio Marinho Saraiva. O rapaz mais novo, apesar de ter sido socorrido, não resistiu aos tiros no tórax e na cabeça e veio a óbito horas depois. Um terceiro ocupante, 22, teve ferimentos no braço, recebeu atendimento médico e foi liberado.

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No ano passado, um garoto, 17, e uma mulher, 37, também foram vítimas de tentativa de homicídio durante uma festa no Chapadão. Uma das vítimas contou à PM que bandidos encapuzados chegaram ao endereço e, em determinado momento, deram início a uma troca de tiros com outras pessoas. Os dois foram feridos e deram entrada no hospital Monte Sinai. Apesar de a unidade afirmar que os atendimentos dos dois ocorreu dentro da normalidade, houve denúncia de que dois criminosos teriam invadido o hospital a fim de “terminarem o serviço”. À época, a motivação do tiroteio não foi esclarecida pela PM.

Combate à criminalidade

Para evitar crimes violentos como estes, além de roubos e tráfico de drogas, a PM vem realizando operações na localidade. Na avaliação da corporação, tais ações têm surtido efeito. No carnaval de 2018, de acordo com dados divulgados pela PM a pedido da Tribuna, foram cumpridos 20 mandados de busca e apreensão no Bairro Dom Bosco durante uma única manobra, que contou com a participação de 120 policiais. No mesmo ano, foram desencadeadas 268 operações e apreendidas quatro armas de fogo. No período, a PM contabilizou oito roubos e um homicídio, contra dez assaltos e três mortes violentas em 2017. No comparativo com o ano passado, o número de operações foi maior, sendo desencadeadas 301 ações. Para a PM, a queda representa a eficácia do trabalho desenvolvido na comunidade e as apreensões realizadas em anos anteriores. “As recorrentes batidas que desencadeamos no bairro têm tranquilizado moradores e coibido ações criminosas”, afirmou Campos.

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Apesar do decréscimo nas estatísticas, o comandante pontuou que há subnotificação de crimes. “Muitos deles, principalmente os roubos, caem na conta da 32ª Cia. da PM, pois é responsável pela região Sul. É sabido que moradores do Dom Bosco cometem assaltos, principalmente a frequentadores do shopping. Entretanto, os dados são registrados pela 32ª, uma vez que ali é divisa de área.”

O comandante disse ainda temer que durante o período carnavalesco esses números aumentem. “Nossa preocupação é para o caso de não haver eventos oficiais realizados pela Prefeitura, pois, assim, há maior possibilidade de eles organizarem este tipo de baile irregular. É um período propício para a ocorrência de crimes”, garantiu o policial. A Prefeitura já confirmou a realização do Corredor da Folia para este ano, entretanto, a Funalfa esclareceu que, pelo menos até 2018, os blocos carnavalescos do Bairro Dom Bosco não faziam parte da programação oficial.  Para isso, é necessário preencher um cadastro e cumprir uma série de determinações e requisitos, não apenas da Prefeitura como também do Corpo de Bombeiros.

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Aproximação com a comunidade

Outra medida adotada pela PM são os projetos de aproximação com a comunidade, desenvolvidos com moradores em parceria com Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Por meio de projetos de extensão, as instituições buscam ressignificar o espaço. Em 2018, de janeiro a setembro, pelo menos 27 casos de roubos e furtos foram registrados na universidade e nas proximidades de acesso ao campus, conforme dados do sistema de Registro de Eventos de Defesa Social (Reds). Em um único fim de semana, porém, o número de casos subiu para 33, com mais seis assaltos. Buscando a mudança desta realidade, a universidade desenvolve 24 projetos de extensão ligados ao Programa Boa Vizinhança, que atendem o Bairro Dom Bosco e adjacências. “A população participa ativamente de iniciativas nas áreas de educação, cultura, saúde e direitos humanos e justiça, e conta com parcerias com escolas e Organizações Não Governamentais”, garantiu a universidade, em nota.

A instituição ressaltou também que por meio da Pró-Reitoria de Extensão são desenvolvidas ações pontuais coordenadas, como a realizada no dia 10 de agosto de 2018, nas quais são atendidas demandas dos moradores, como atendimentos nas áreas de saúde e de assistência jurídica, por exemplo. A iniciativa também foi lembrada pelo capitão Flávio Campos, que destacou que já há, em estudo, novos projetos por parte da PM. “Aquela comunidade possui muitas casas inacabadas, sem reboco, e conseguimos parceria com lojas de materiais de construção para que os próprios moradores terminem suas moradias e vivam num local mais digno. Está também nos planos melhorar a escada de acesso entre a Universidade e o bairro, que é usada como rota de fuga, mas também é usada pelos trabalhadores que utilizam o transporte público. A grande maioria é gente de bem, por isso, temos que apostar neles e não em uma minoria desordeira”, finalizou.

(Nota da redação: Na manhã desta quinta-feira, após a publicação desta reportagem, a Funalfa informou que, até 2018, os blocos carnavalescos do Bairro Dom Bosco não estavam autorizados a promover eventos dentro da programação do Corredor da Folia)

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