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Expectativa de vida no Brasil aumenta para 76,4 anos; especialista analisa cenário de Juiz de Fora

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(Foto: Leonardo Costa)

expectativa de vida juiz de fora
Número de pessoas com mais de 60 anos em JF representa 20% do total de habitantes, e deve aumentar nos próximos 15 anos (Foto: Leonardo Costa)
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Na última semana, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou dados sobre a expectativa de vida da população brasileira. Pela primeira vez após a pandemia,  o índice superou o anterior a pandemia de Covid-19, que era de 76,2 anos, e subiu para 76,4 anos. Os dados mostram um acelerado envelhecimento da população, e Juiz de Fora acompanha a tendência nacional, já que a cidade ocupa o 13º lugar no ranking dos grandes municípios (mais de 100 mil habitantes) com maior percentual de idosos, de acordo com dados do Censo Demográfico 2022. O número de pessoas com mais de 60 anos que vivem no município representa 20% do total de habitantes. 

São 109.366 idosos em Juiz de Fora, e a expectativa é de que esse número aumente consideravelmente nos próximos 15 anos. O  professor do Departamento de Geociências da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Wagner Batella aponta o aumento da expectativa de vida e a queda da taxa de fecundidade – número médio de filhos que uma mulher terá durante o seu período reprodutivo- como os principais fatores que vão contribuir para que, nos próximos anos, a população seja predominantemente idosa. 

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“Esses valores expressam mudanças sociais observadas nas últimas décadas, sobretudo nas conquistas relacionadas às condições de saúde e as transformações envolvendo as vidas das mulheres, que cada vez mais ampliam seus papeis sociais e sua inserção no mercado de trabalho, e nas famílias, que optam por ter menos filhos”, evidencia o professor, que ressalta os desafios que tais transformações implicam, como “as questões previdenciárias, na definição de prioridades para o investimento público e nas novas perspectivas de urbanização, com cidades cada vez mais voltadas para acolher essa população idosa”. 

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A esperança de vida ao nascer é determinada com base na taxa de mortalidade em todas as idades. Ao nascer, a estimativa é de que um brasileiro viva, em média, até os 76,4 anos. Porém, vale ressaltar que isso não quer dizer que, para quem chegou até os 70 anos, restam apenas cinco anos de vida. Segundo o IBGE, as pessoas que chegam a essa idade têm uma expectativa de vida adicional de 15,1 anos. Ou seja, se um adulto conseguiu chegar aos 70 anos, suas chances de ultrapassar o patamar esperado ao nascer são maiores. O dado é fundamental, pois ajuda na hora de calcular o fator previdenciário nas aposentadorias dos trabalhadores que estão sob o Regime Geral de Previdência Social. 

Apesar de ter crescido 11,3 meses em relação a 2022, o índice de esperança de vida de 2023 poderia ser ainda maior se não fosse a pandemia, que fez com que os dados caíssem em duas medições. “Durante a pandemia, experimentamos um excesso de mortes pela Covid-19. A superação desse terrível momento, expresso pela retomada do crescimento da expectativa de vida, mostra que as medidas de enfrentamento, como as vacinas, foram eficazes. Talvez, se tivéssemos adotado a ampla vacinação logo que estavam disponíveis, esses indicadores seriam ainda melhores. Mesmo assim, os dados mostram uma retomada da expectativa de vida ao nascer, fruto de melhorias nas condições de vida, de avanços na área de saúde e no combate às questões sociais, como a fome e falta de saneamento básico.” 

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Mulheres vivem mais que os homens 

Os dados ainda apontam que a taxa de mortalidade é maior entre os jovens adultos homens, de 15 a 29 anos. Isso e outros fatores fazem com que as mulheres vivam 6,6 anos a mais que os homens. Entre elas, a esperança de vida ao nascer é de 79,7 anos. Para eles, é de apenas 73,1 anos. Em comparação com o ano passado, mulheres aumentaram sua expectativa em 0,7 ano (antes 79) e homens em 1,1 ano (antes 72). Essa diferença é recorrente no país e pode estar ligada a comportamentos diferentes dos dois gêneros, como os relacionados à saúde. As mulheres procuram mais atendimento médico e cuidam mais da saúde do que os homens, por exemplo. 

“Em grande medida, isso está relacionado às taxas de mortes por causas externas ou não naturais, mais intensas entre a população masculina. É importante observar não apenas as taxas, mas como esses valores se alteram em diferentes espaços da cidade, sendo mais recorrentes nas áreas mais vulneráveis. Ademais, os dados do Atlas  da Violência 2024 já haviam demonstrado a prevalência de homens jovens e negros dentre as vítimas de mortes por causas externas”, acrescenta o professor. 

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Juiz de Fora: ‘ainda há muito o que fazer’ 

Hoje, a maior parte da população da cidade é composta por adultos. Segundo o Censo 2022, 313.120 pessoas com idade entre 20 e 59 anos vivem na cidade, seguido pela população idosa. Como uma cidade de porte médio, Juiz de Fora funciona por meio de uma dinâmica migratória, que atrai pessoas em idade de trabalho, por isso, a maioria dos habitantes é adulto. Além disso, o município tem apresentado uma queda de fecundidade, ou seja, o número médio de filhos que uma juiz-forana teria ao longo de seu período reprodutivo é cada vez menor. Isso leva, consequentemente, a uma queda no número de nascimentos que, conforme o especialista, já vem acontecendo há mais de dez anos. Esses fatores contribuem para que a população adulta, hoje, seja maior, mas levam também ao processo de envelhecimento da população. 

Tendo em vista esse cenário, políticas públicas que pensem no bem-estar dos idosos se tornam ainda mais fundamentais. Ao ser perguntado se a cidade está preparada para atender as necessidades da população idosa, o especialista diz que ainda há muito o que fazer em Juiz de Fora e em outras cidades brasileiras. “As cidades ainda são entendidas numa lógica voltada para a produção. A população idosa de hoje, em grande medida, é muito ativa, produtiva, e anseia por participar da vida urbana. É importante que essa população, expressivamente numerosa hoje, e que será predominante no futuro, veja que as políticas públicas também a consideram como prioridade. Muito está sendo feito em Juiz de Fora, mas há muito o que se fazer e o horizonte temporal é curto, pois é previsto que a população brasileira se estabilizará e deixará de crescer nas próximas duas décadas”, alerta. 

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