Além do confronto em campo, o clássico Real e Barça carrega uma rivalidade que ultrapassa o esporte. Durante este mês, nos jogos do time de Neymar no Camp Nou, quando o tempo marca 17min14s, a torcida se silencia por um instante e grita “independência!”, para rememorar a heroica resistência do seu povo ao Cerco de Barcelona, que durou até setembro de 1714. Apesar dos séculos de rivalidade, todos torcem pela seleção espanhola. As fronteiras são outras quando Cristiano Ronaldo está para Portugal, e Messi, para Argentina.
Por falar dos nossos vizinhos, quem não se lembra do gol do Maradona, contra a Inglaterra, na Copa de 1986? Mais do que a vitória nas quatro linhas, Diego devolveu na mão leve uma parte do orgulho do povo argentino, perdido poucos anos antes, na Guerra das Malvinas (para uns) ou Falklands (para outros). Talvez se o gol fosse com o pé não tivesse a magia que aquela rivalidade histórica carregava. A rusga entre os países não impediu que os argentinos virassem ídolos no futebol inglês: Carlitos Tevez teve seu nome gritado por três torcidas no país da Rainha.
No Brasil, o caô não é diferente. Hoje é o peruano Guerrero que sacode a torcida rubro-negra, que já reverenciou o Pet da Sérvia que já foi Iugoslávia. O boliviano Marcelo Moreno já foi ídolo na torcida cruzeirense, e hoje o argentino Pratto está nas graças da torcida atleticana. Na hora que convém, na hora do gol, na hora da alegria, da vibração, as fronteiras, os preconceitos e as diferenças desaparecem.