O casal venezuelano Rogério e Ianira chegou a Juiz de Fora há três semanas, com dois filhos pequenos, de quatro anos e um ano e meio, respectivamente. Eles são refugiados e estão em busca de reconstruir suas vidas no Brasil. Escapando da crise no país que faz fronteira com o Norte do Brasil, o casal pede ajuda financeira e trabalho pelas ruas centrais de Juiz de Fora. Há uma vaquinha ativa para levantar recursos para que eles consigam não só lidar com as necessidades mais urgentes, como alimentação e fralda para as crianças, mas também para que eles consigam alugar um imóvel.
A história foi descoberta pela advogada e presidente da Comissão de Direito Internacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB- Juiz de Fora), Paula Infante. Ela conta que, desde 2016, a comissão desenvolve um projeto para auxiliar refugiados e imigrantes com questões legais. Os advogados acompanham essas pessoas na regularização da situação migratória e em outras questões relacionadas a esses processos, como o pedido de refúgio. Essa atuação, no entanto, acaba esbarrando em outras necessidades.
Paula encontrou a família de Rogério e Ianira carregando um cartaz na rua, com o pedido de contribuições para que eles possam comprar comida e fraldas. Ela abordou o casal e conheceu um pouco mais sobre a história deles. “Eles estão em um hotel no centro da cidade, sem emprego e precisando de tudo. Não têm casa, não têm nada. Eles estão vivendo das doações que recebem. Há uma dificuldade de encontrar emprego também por causa da situação agravada pela pandemia.”
Ao verificar que o casal já tem situação migratória regular e pedido de refúgio protocolado, Paula decidiu tentar colaborar por outras vias. Foi criada uma vaquinha virtual para que eles possam alugar um imóvel, atender as necessidades urgentes e consigam ter acesso a um emprego. As pessoas que quiserem contribuir podem fazer por meio da página da vaquinha.
Além do desafio de conseguir um trabalho, há a necessidade de que um deles cuide dos dois filhos. Para Paula, Rogério contou que trabalhava como servente de pedreiro e pintor. À Tribuna, ele disse que também trabalhou com limpeza. Interessados em oferecer uma vaga ou fazer a doação de roupas, móveis, alimentos, roupas e brinquedos podem fazer contato com a advogada por meio do instagram @paulacinfante.
Paula relatou que o que mais impressiona no relato do casal é que, ao sair da Venezuela, eles vieram para o Brasil e estavam em João Pessoa (PB), de onde vieram a pé para Juiz de Fora. Ela reforça que todo o dinheiro arrecadado será utilizado em prol da família e que será feita a devida prestação de contas a quem participar da vaquinha. “É muito difícil sair do seu país de origem, deixar a família para trás com filhos pequenos e recomeçar em outro lugar em que não se conhece ninguém.”
Fé em dias melhores
“A Venezuela ficou muito mal com a crise. Acabou o alimento, o trabalho, tudo. O país não funciona. Mesmo com dinheiro, não conseguimos comprar alimento, arroz, frango, porque o valor não alcança, é muito caro. Por isso, deixamos a Venezuela”, detalha Rogério. Ele diz que precisa de uma oportunidade para que possa ter uma vida digna no Brasil. Nas ruas de Juiz de Fora, comenta, eles encontram certa resistência entre as pessoas, por conta da origem deles. Ele, no entanto, acredita que vai conseguir uma vida melhor para a família. Rogério conta com a fé, diz que frequenta a igreja e acredita que as coisas vão mudar e eles, enfim, vão encontrar a tranquilidade que vieram buscar em solo brasileiro.
Histórias como a de Rogério e Ianira sempre são recebidas na Comissão de Direito Internacional da OAB. Eles já ajudaram outras famílias venezuelanas, que também vieram em busca de melhores perspectivas. Outras vaquinhas realizadas em prol de pessoas refugiadas em Juiz de Fora ajudaram, por exemplo, a trazer mãe e irmão para o Brasil. A advogada explica que a intenção com a família de Rogério é semelhante, conseguir oferecer, pelo menos o mínimo, para que eles tenham como seguir.