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Bairros vulneráveis tiveram mais mortes por Covid, aponta pesquisa da UFJF

teste covid by myke sena MS
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Uma pesquisa desenvolvida por professores da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) apontou que as áreas em vulnerabilidade econômica da cidade foram as que tiveram mais mortes por Covid-19. Em contrapartida, os bairros mais favorecidos apresentaram maior número de casos da doença. O estudo levou em conta dados da Secretaria Municipal de Saúde e fez um recorte do período mais crítico da pandemia em Juiz de Fora, entre março e novembro de 2020.

A pesquisa apontou que as localidades com maior mortalidade estão principalmente na Zona Oeste da cidade, que abriga bairros como Cruzeiro Santo Antônio, São Pedro e Aeroporto. Um dos autores do artigo, o professor da Faculdade de Medicina Fernando Colugnati explicou que a pesquisa utilizou uma categorização por regiões urbanas, que não engloba necessariamente a divisão por bairros. “Nós tivemos acesso à planilha da Vigilância Epidemiológica do Município, então sabíamos o CEP da pessoa infectada por Covid. Por isso foi possível realizar esse levantamento mais detalhado.”

Com base nesses dados, o estudo encontrou paridade entre maior número de óbitos e áreas classificadas como mais vulneráveis. “A Região Oeste é uma zona de alta vulnerabilidade e teve uma grande incidência de óbitos.”

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Falta de testes em regiões mais carentes

Já o maior número de casos positivos para Covid-19 foi notado em bairros localizados nas áreas centrais da cidade, mais favorecidas economicamente. Colugnati afirma que tais regiões tiveram acesso a testes, principalmente da rede privada. “Em meados de 2020, cerca de 60% dos testes eram realizados na rede privada e não pela Prefeitura.” No entanto, a alta positividade para Covid-19 também foi notada em áreas mais vulneráveis, como a Zona Oeste. O professor explica que isso ocorreu porque, quando o paciente era internado, tinha que fazer o teste para Covid-19. “Isso fica claro quando vemos o gráfico de mortes e hospitalizações, que apontou maior incidência nos bairros mais vulneráveis.”

Para fazer a classificação das zonas mais vulneráveis e das mais favorecidas, a pesquisa utilizou o Índice de Vulnerabilidade em Saúde (HVI na sigla em inglês), que tem por base dados do último censo demográfico de 2010. “Ele leva em conta alguns índices, como o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), saneamento básico, coleta de lixo e razão de residentes por domicílio, entre outros indicadores que mostram o quão vulnerável é aquela região.”

Iniquidade na saúde pública

“O Índice de Vulnerabilidade em Saúde deixa claro que o acesso aos testes era muito mais difícil nos bairros com maior vulnerabilidade”, afirma o professor. Para ele, um dos pilares do Sistema Único de Saúde (SUS) é a equidade no atendimento, algo que não está sendo alcançado. “Há grandes problemas nas redes de atenção primária e secundária, que não dão o encaminhamento correto ao paciente. Isso ficou muito claro na pandemia. Uma das principais dificuldades que as secretarias de saúde ao redor do Brasil tinham era justamente esquematizar esse fluxo de pacientes para melhor atender a todos.”

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O também professor da Faculdade de Medicina e autor do estudo, Mário Nogueira, afirma que o resultado da pesquisa apontou um efeito importante do trabalho das Unidades Básicas de Saúde (UBS), que foram responsáveis por sinalizar os casos suspeitos da doença. Por outro lado, a desigualdade no acesso a testes confirmatórios mostra que há um pior prognóstico em locais de maior vulnerabilidade social.

“O estudo aponta para a importância de se continuar apoiando a estratégia de saúde da família como fundamental no sistema de saúde, mas também para a necessidade de se investir nos outros níveis de atenção no SUS, bem como em políticas sociais e econômicas que minorem a vulnerabilidade social.”

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