O primeiro treinamento pré-simulado de rompimento de barragem realizado pela Nexa Resources, antiga Votorantim Metais, nas comunidades de Igrejinha e da Vila São João Batista, realizado na manhã deste sábado (8), atingiu resultados satisfatórios. Conforme a empresa, a taxa de adesão foi de 44%, o que corresponde ao comparecimento de 355 pessoas nos seis pontos de encontros montados em ambas as comunidades, localizados fora da zona de autossalvamento, ou seja, à margem do território a ser atingido em caso de eventual rompimento da Barragem da Pedra. A ação teve como objetivo preparar os moradores que residem no entorno da empresa e os demais agentes envolvidos para o simulado, previsto para outubro, como última etapa do Plano de Ações de Emergência (PAE).
O percentual de participação obtido nos exercícios de evacuação, segundo a coordenadora de Meio Ambiente da Nexa, Milena Alves Moreira, mostra que os mesmos atingiram o seu objetivo. “No Brasil não é comum ter o envolvimento das pessoas em simulados, por entenderem que trata-se de um treinamento sem risco. Mas neste caso específico, que envolve barragem, chegar a 30% de participação pode ser considerado um êxito. Conseguimos levar às comunidades informações de que as barragens da Nexa estão seguras, como é feito esse controle e também orientamos os moradores como devem se dirigir até os pontos de encontro com segurança”, destaca. O levantamento inicial feito pela Nexa apontou que 800 pessoas habitam a área nas duas comunidades. Na parte da tarde, outra simulação foi realizada na planta industrial da empresa.
Os trabalhos em Igrejinha, que corresponderam à primeira etapa do exercício, começaram às 9h, com a interdição total da BR-267 no trecho entre os quilômetros 120 a 122. Durante toda a ação, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) realizou o patrulhamento na área para evitar intercorrências. Quatro carros de som percorreram as ruas do bairro, informando a população sobre a pré-simulação e convidando as pessoas para se descolarem até um dos quatro pontos de encontro estabelecidos dentro da localidade. Também foram colocadas placas indicando as rotas de fuga. Conforme o estudo de ruptura hipotética feito pela Nexa, para o alagamento de toda a área serão necessários 19 minutos. De acordo com o Relatório de Segurança de Barragens da Agência Nacional das Águas (ANA) de 2017 – última edição publicada pelo órgão -, o dano potencial associado às barragens da Pedra e dos Peixes (estrutura inativa, mas ainda mantida) é classificado como alto, isto é, em caso de rompimento, as consequências seriam graves, considerada a ocupação da área abaixo da barragem.
Comunidade adere a teste, mas há preocupação
A Tribuna acompanhou a chegada dos moradores no ponto de encontro 4, localizado no ponto de ônibus em frente ao posto de combustíveis, às margens da rodovia. Assim que eles se aproximavam da tenda, funcionários da Nexa aplicavam um questionário para levantar informações sobre o trajeto, bem como dificuldades que encontraram pelo caminho, volume do som, visualização das informações e o tempo gasto no percurso. No total, o ponto recebeu 115 pessoas. O clima era de tranquilidade, apesar de ainda existir uma certa preocupação. “Existe uma apreensão na comunidade, mas, ao mesmo tempo, é confortante saber onde podemos ficar seguros em caso de um rompimento e que a empresa se preocupa com a gente. A gente não quer que aconteça nenhum acidente, mas, se acontecer, já temos um norte e sabemos para onde ir”, apontou a analista de RH, Graciana Costa, 33 anos. A cozinheira Karina Moreira, 39, teve o mesmo sentimento: “O teste foi ótimo, mas na prática não vai funcionar assim não. No calor do momento, o instinto fala mais forte”.
A cigana Maria Helena Cezário de Oliveira, 43, que tem parentes em Mariana, sentia muito medo de acontecer em Juiz de Fora o que aconteceu com a barragem do Fundão. “Felizmente nenhuma pessoa da minha família foi atingida nesta tragédia, mas conhecíamos muita gente lá que foi. Cheguei a ouvir boatos de que a barragem aqui em Juiz de Fora iria estourar também, mas quando as reuniões entre a Nexa e os moradores começaram, fiquei muito mais tranquila”.
O presidente da Associação de Moradores dos bairros Igrejinha, Luís Carlos Barbosa, conhecido popularmente como Cachoeira, avaliou que o simulado tranquilizou um pouco a comunidade, mas não significa que os moradores vão parar de fiscalizar as barragens. “Vamos continuar cobrando, levantando informações para que todos fiquem mais tranquilos. Por mais que a gente tenha estimulado a participação de todos, a comunidade ainda está apreensiva e insegura.” As atividades em Igrejinha foram encerradas às 9h30. As mesmas foram retomadas na Vila São João Batista às 11h.
Órgãos municipais aprovam a iniciativa
O pré-simulado realizado pela Nexa contou com o apoio de outros órgãos municipais que atuam na segurança. Além da PRF e da Polícia Militar, o Corpo de Bombeiros esteve entre os parceiros que desenharam a ação. “A gente não quer trabalhar só na resposta, mas também na preparação, criando o que chamamos de consciência percebida. Quando as pessoas passam a ter noção do risco e conhecimento das instruções de segurança, sabem como se portar diante de um acidente”, aponta o comandante do 4º Batalhão de Bombeiros Militar, tenente coronel Emerson Ramalho. Por parte da Defesa Civil, o subsecretário Jefferson Rodrigues destacou que a ação da Nexa vem ao encontro da essência do órgão, de se preocupar com a população e proteger vidas.
O prefeito Antônio Almas (PSDB) reforçou que não há riscos de rompimento, contudo, para não haver o sentimento de insegurança, medidas preventivas como essa são necessárias e importantes. A audiência pública realizada em fevereiro na Câmara Municipal foi lembrada pelo vereador Luiz Otávio Coelho (Pardal, PTC), atual presidente do legislativo. Ele destacou que, na ocasião, foram discutidas medidas cautelares para manter a integridade dessas comunidades. “É importante ter, por parte da empresa, essa conscientização, o que demonstra cuidado com toda essa população”.
Simulação prevista em lei
Desde 2010, quando sancionada a Política Nacional de Segurança de Barragens (Lei 12.334), os simulados são exigências do PAE, que deve estabelecer as ações a serem executadas pelo empreendedor da barragem em caso de situação de emergência, bem como identificar os agentes a serem notificados em virtude da ocorrência. Dentre as prerrogativas do plano, estão “estratégia e meio de divulgação e alerta para as comunidades potencialmente afetadas em situação de emergência”. A Barragem dos Peixes, primeira da Nexa em Juiz de Fora, entrou em operação ainda em 1998; a Barragem da Pedra armazena resíduos industriais desde 2006.
As conversas entre a comunidade e a empresa começaram em dezembro de 2018, quando as lideranças dos bairros solicitaram informações sobre as barragens e as providências a serem tomadas em situações de emergência. Frente a esta cobrança, foram iniciadas as reuniões com a população de Igrejinha e da Vila São João Batista para tratarem do assunto. A simulação oficial está prevista para acontecer em outubro próximo, mas, antes, em setembro, também está programada a instalação das sirenes para alertar a comunidade em caso de emergência.