A sinalização horizontal tem como objetivo orientar motoristas e pedestres sobre a situação da via em que estão trafegando. Em Juiz de Fora, no entanto, o desgaste das pinturas dessas sinalizações tem impedido que isso ocorra de forma adequada, causando transtornos para quem trafega em ruas e avenidas. A Tribuna esteve em alguns desses pontos e registrou o problema, que acontece em bairros de várias regiões da cidade e se agrava onde há mais circulação de veículos.
A reportagem identificou pontos problemáticos nos bairros Santa Luzia, Ipiranga, Bom Pastor, Poço Rico, Vila Ideal, Vitorino Braga, Bom Jardim, Três Moinhos, Mariano Procópio, Centro, Benfica, São Pedro, Monte Castelo, Jóquei Clube I, Araújo, Cidade do Sol e Bairro Industrial. Em todos eles, há trechos totalmente sem pintura ou com a tinta desgastada, prejudicando a sinalização nas faixas de pedestres e de divisão das pistas – o que deixa a situação ainda mais arriscada tanto para os condutores quanto para os que precisam fazer a travessia das vias.
O motorista de aplicativo Sostenes Josué conta que, ao percorrer as ruas, tem que lidar com esses problemas muitas vezes. “Já aconteceu comigo de entrar na rua e não saber se tinha que parar ou seguir em frente. Isso causa risco de batidas; inclusive isso quase aconteceu comigo. Dependendo da nossa velocidade, se não tiver uma sinalização bem pintada, você fica na dúvida do que fazer”, explica. Para ele, a situação é ainda pior em bairros afastados, que acabam tendo pouquíssimas ou nenhuma sinalização horizontal. “Só não acontecem mais acidentes porque geralmente se anda em baixa velocidade.”
O problema não é recente. Em matérias da Tribuna de 2019 e de 2021 , é possível ver que condutores e pedestres já sinalizavam esse problema, já que atinge ambas as partes. Os motoristas sentem dificuldade em saber o que fazer no trânsito, enquanto os pedestres se sentem inseguros em relação ao ponto exato no qual devem fazer as travessias sem riscos. No trecho da Avenida dos Andradas, próximo ao Museu Mariano Procópio, visitado pela Tribuna em 2021 e novamente em 2022, é possível ver isso com clareza.
Acesso Norte: sem sinalização adequada e asfalto com muitos buracos
Dos pontos visitados pela Tribuna, o Acesso Norte foi aquele em que a situação estava mais agravada. Nos cerca de oito quilômetros entre os bairros Cerâmica e Benfica, foi possível conferir a falta de pintura de sinalização horizontal, o asfalto deteriorado, a grande quantidade de buracos e ainda pontos com depressão em diversas áreas devido às obras que estão sendo realizadas.
O motorista de aplicativo Sostenes afirma que o Acesso Norte é um dos locais em que se encontram mais dificuldades. “É uma via de tráfego rápido, mas o motorista não consegue velocidade por conta dos buracos e da falta de sinalização horizontal. Não adianta mais ficar só tapando buraco, precisa de um recapeamento mesmo. Já recebi também vários relatos de outros motoristas que tiveram problemas lá, ainda mais no período noturno”, conta.
A passagem dos carros nesse trecho é realmente desafiadora. Um condutor que pediu para não ser identificado conta que atravessa o Acesso Norte quase diariamente e que a situação tem se tornado cada vez pior. “Nós não temos segurança para dirigir aqui. Não tem placa de ‘pare’, não tem sinalização horizontal ou divisão das pistas. Fora que o asfalto do jeito que está sempre causa danos aos carros.”
Associação de Moradores do Poço Rico e de Santa Luzia relatam problemas
Para o presidente da Associação de Moradores e Comerciantes do Bairro Poço Rico, Alexandre Bigode, a falta de revitalização da sinalização é uma das principais demandas da região. Ele explica que no bairro há pontos em que deveria ter pintura horizontal, para que os moradores pudessem fazer a travessia com segurança, mas ainda não tem.
“Um anseio antigo dos moradores é uma faixa de pedestre na Rua Osório de Almeida, em frente à Praça da República, próximo do ponto de ônibus do Cemitério Municipal, porque para quem mora do outro lado da praça e desce do ônibus é praticamente impossível atravessar, devido ao alto fluxo do trânsito”, reivindica.
Alexandre afirma que há outros pontos críticos sem faixa para pedestre no bairro, como os que ficam próximos ao novo viaduto e ao Estádio Municipal Radialista Mário Helênio. Além disso, segundo relata, o bairro está necessitando de revitalização de sinais de “pare” nos cruzamentos. “Na Rua Dr. Villaça com Herculano Pena, tem acidente quase todos os dias.” Ele explica que, ainda em 2021, a associação pediu que a Secretaria de Mobilidade Urbana (SMU) acompanhasse os pontos mais críticos, mas ainda não tiveram respostas.
Resposta vaga
O presidente da Associação de Moradores de Santa Luzia, Benoni Flávio da Costa, conta que o bairro passa por problemas sérios de sinalização horizontal e vertical. “Todos os cruzamentos de Santa Luzia estão com problemas na sinalização horizontal, porque tivemos muitas chuvas em janeiro e aqui o centro do bairro é baixo, então se acumulam detritos e isso causa muito desgaste”, explica.
De acordo com Benoni, a associação tem tentando resolver essa situação com a SMU. “Mandamos abaixo assinado com aproximadamente 500 nomes há aproximadamente um ano, falando sobre essa questão da sinalização e tivemos uma resposta vaga”, explica.
Para ele, o problema mais grave está na esquina da Avenida Santa Luzia com a Rua José Nunes Leal, onde não há sinalização vertical para os pedestres. “Com o alto fluxo dos carros, vemos os moradores passarem correndo”.
SMU: demanda acumulada
A SMU explicou que “a sinalização horizontal da cidade está com demanda acumulada há alguns anos”.
A secretaria informou que, durante o ano passado, realizou 14 ações de sinalização horizontal e vertical em Santa Luzia e, este ano, já atendeu ao bairro em duas ocasiões. No Poço Rico, foram dez atendimentos executados ao longo de 2021, e, ainda segundo a pasta, atualmente está sendo feita uma obra “de revitalização e acessibilidade para pedestres”. Para as outras solicitações, a secretaria afirma que já foram emitidas ordem de serviço para execução. A SMU também pontua que sua equipe está se dedicando para atender os pedidos, que chegam diariamente por meio do Gabinete Comunitário.
A solicitação pode ser encaminhada via WhatsApp ou telefone por meio do número 3690-7241.
Especialista explica a importância dessa sinalização para o trânsito
O especialista em trânsito e mestre em engenharia de transportes José Luiz Britto explica que a sinalização viária é um conjunto de símbolos divididos em diferentes formatos e serve justamente para organizar o trânsito no mundo inteiro. “Essa sinalização padronizada traz mais segurança e é destinada a todas as categorias de usuários: condutores de veículos, ciclistas e pedestres”, explica.
Para ele, é bastante claro que a falta de sinalização aumenta o risco de acidentes. “O motorista entra em um curva, sem a velocidade adequada, e não saberá qual decisão tomar. Na visão dele é inconcebível uma via estar aberta para os condutores sem que esteja plenamente sinalizada. Para que uma rodovia seja inaugurada, ela deve estar completa”, exemplifica.
Britto reforça que, de modo geral, o desgaste da sinalização horizontal das vias tem relação com alguns fatores: o nível de utilização da pista, a qualidade dos materiais empregados, a geometria do traçado, a ação do tráfego e das intempéries. E todos esses problemas ocorrem tanto em áreas urbanas quanto nas áreas rurais. No período chuvoso, inclusive, a sinalização tende a piorar, sobretudo quando aparecem defeitos no pavimento.
Ele também informa que a pintura da sinalização horizontal viária pode ser feita a quente ou a frio. De acordo com ele, a pintura a quente tem duração de aproximadamente dois anos, ou seja, quatro vezes superior em tempo à pintura a frio, que dura cerca de seis meses. “Isso significa um maior espaço de tempo em que as equipes vão voltar para refazer a sinalização em um mesmo local”.
O especialista também esclarece que, para evitar esses problemas, é preciso fazer a manutenção preventiva nas vias no tempo certo, antes que ocorra a deterioração do pavimento pelo intenso uso da via e pelas próprias intempéries ou mesmo pelas obras de reparo.
Em sua visão, no entanto, os problemas do trânsito no município e no Brasil estão fortemente relacionados com a priorização do automóvel no espaço público. “De modo geral, as autoridades estão sempre voltadas para desenvolver condições gerais de fluidez do trânsito, e, nesse sentido, o pedestre é sempre prejudicado e fica exposto aos riscos oferecidos pelos automóveis”, diz.
Para Britto, seria preciso encontrar melhores condições para o transporte público e para a viabilidade de alternativas, como as bicicletas, a fim de que as cidades ficassem de fato mais seguras e agradáveis.