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Excesso de sódio causa problemas cardiovasculares

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O brasileiro está ingerindo muito mais sódio do que a quantidade recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS). O consumo excessivo da substância, presente em todos os alimentos, e com concentração elevada nos produtos industrializados, pode causar doenças, como insuficiência renal e hipertensão, com risco de evoluir para problemas cardiovasculares, como enfarte e acidentes vasculares encefálicos, conhecidos como derrames. Em novembro de 2010, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) divulgou uma pesquisa que revela dados alarmantes: ao comer uma única porção de macarrão instantâneo com tempero, por exemplo, o consumidor pode ingerir até 167% a mais da quantidade de sódio recomendada por dia para um adulto (ver quadro). De acordo com o médico do serviço de cardiologia do Hospital Universitário (HU) da UFJF e membro da Sociedade Brasileira de Cardiologia, José Marcos Girardi, o brasileiro consome, em média, de 15g a 20g de sódio por dia, enquanto a quantidade diária recomendada para um adulto é de 6g. "Cerca de 2% vêm dos alimentos in natura. As pessoas se esquecem que não é preciso acrescentar sal ou tempero para que haja ingestão de sódio. Com isso, e com a alta concentração dos produtos industrializados, os 6% recomendados são facilmente ultrapassados."

Segundo o médico, o sódio aumenta o volume sanguíneo circulante, porque provoca maior retenção de água. "Isso causa o aumento da pressão arterial, e a hipertensão é responsável por 20% dos quadros de doença renal crônica, por cerca de 50% dos casos de doenças cardiovasculares, como enfarte e angina, e por 60% das ocorrências de acidentes vasculares." Ele aponta que o consumo moderado de sódio é uma iniciativa essencial para evitar o desenvolvimento destas doenças. Com atenção voltada para esta questão, um termo de compromisso entre o Ministério da Saúde e os produtores de alimentos processados foi assinado, visando à redução da concentração do componente em industrializados. Conforme a assessoria de comunicação do ministério, o documento estabelece um plano de redução gradual na quantidade de sódio para 16 categorias de alimentos que incluem, entre outros, massas instantâneas, pães e bisnaguinhas.

Atenção aos riscos

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Para a nutricionista do Departamento de Nutrição e Dietética do HU Lidiane Prata de Faria, a medida é um passo importante para a criação de hábitos alimentares mais saudáveis. "Além de consumir menos sódio involuntariamente, o consumidor passa a ficar mais atento aos perigos que o excesso da substância pode causar e começa a fazer uma reeducação alimentar, evitando exageros. Foi o que aconteceu quando foi instituída a redução de gorduras trans nos alimentos." Girardi destaca que a medida deve ser aliada a ações educativas, e que precisa ser dada atenção especial às classes com menor poder aquisitivo, que têm menos acesso à informação. "A iniciativa tem que ter um caráter multidisciplinar e envolver o trabalho de médicos, nutricionistas, profissionais de educação física e outros. Também é preciso mostrar à população mais carente que, ao contrário do que se imagina, a alimentação saudável não é um investimento caro. A maioria das verduras, legumes e grãos tem preço bastante acessível."

 

Segundo os médicos, risco de doenças é maior nas crianças

Produtos, como bisnaguinhas, salgadinhos de milho e massas instantâneas, apontados pela Anvisa como vilões devido à elevada concentração de sódio, têm um agravante: são os alimentos preferidos de muitas crianças. Conforme a especialista em nutrologia pediátrica Nely Medeiros da Silva, o consumo de sódio para crianças de 2 a 9 anos deve ser limitado a 300 miligramas por dia. "Metade de um pacote de salgadinho à base de milho já contém este teor de sódio. Normalmente, as crianças comem o pacote inteiro e já ultrapassam a cota diária da substância só fazendo isso. Contando a concentração do sódio nos outros alimentos que comerem ao longo do dia, os índices podem ser altíssimos."

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O médico do setor de cardiologia do HU, José Marcos Girardi, explica que crianças que ingerem sódio em excesso têm chances de desenvolver doenças cardiovasculares na idade adulta. Nely Medeiros alerta, ainda, que casos de hipertensão estão se tornando cada vez mais comuns entre meninos e meninas de 6 e 7 anos. "Não se pode provar que isso está ligado apenas ao consumo de sódio. Mas a presença da substância em diversos alimentos relacionados ao paladar infantil certamente é um fator de risco neste contexto."

O médico do HU diz que é preciso prestar atenção especial aos produtos light e zero que possuem elevado teor de sódio. "É o caso dos refrigerantes. A versão light ou zero de algumas marcas chega a apresentar 280 miligramas de sódio a cada copo de 200 ml, enquanto a tradicional tem cerca de um terço desta concentração."

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Reeducação alimentar aliada a hábitos saudáveis

A determinação do Ministério da Saúde define o teor máximo de sódio que cada cem gramas em alimentos industrializados podem apresentar. Algumas metas devem ser cumpridas pelo setor produtivo até o final de 2012 e aprofundadas até 2014. Para as massas instantâneas, a quantidade fica limitada a 1,9g até o ano que vem, o que representa uma diminuição de até 30% aos valores atuais, já que há variação da concentração do componente entre as diversas marcas. Já os pães de forma podem ter, no máximo, 645 miligramas de sódio até 2012, e 522 miligramas até 2014. Para as bisnaginhas, o limite será de 531 e 430 miligramas, nas mesmas datas. Essas metas correspondem a uma redução de 10% ao ano. Outros produtos, como pratos e temperos prontos, também entrarão na lista, pois contêm conservantes à base de sódio.

Conforme a nutricionista do Departamento de Nutrição e Dietética do HU, o consumo de produtos prontos é cada vez mais comum entre os brasileiros. "Na correria do dia a dia, muitas pessoas não têm tempo de preparar as refeições e acabam ingerindo alimentos prontos." Ela aponta que azeites, ervas e vinagre podem ser utilizados como temperos alternativos ao sal e aos industrializados.

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O cardiologista José Marcos Girardi lembra que uma dieta rica em frutas e vegetais, de baixa densidade calórica e baixo teor de gorduras saturadas, reduz a mortalidade por doenças cardíacas em até 15%. Além disso, ele recomenda o combate ao tabagismo, o controle de peso e a prática de 30 minutos de exercícios físicos de três a cinco vezes por semana.

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