“A nossa luta é todo dia. Mulher não é mercadoria.” Acompanhando o som do batuque, militantes entoaram gritos de guerra para chamar a atenção da população de Juiz de Fora para a saúde da mulher, em um ato conjunto realizado no início da noite desta terça (8), no Parque Halfeld. Trazendo a questão da legalização do aborto, os coletivos lembraram das milhares de vidas de mulheres que se perdem no Brasil em virtude das más condições dos abortos clandestinos e pediram pelo direito a decidir sobre o próprio corpo.
Neste 8 de março, os movimentos também querem chamar os homens para a responsabilidade de dividir com as mulheres a jornada tripla. “A mulher sofre, trabalhando fora, cuidando da casa e dos filhos, enquanto os homens são livres para apenas trabalhar fora. Essa jornada precisa ser dividida com os homens”, enfatiza Laiz Perrut, membro do coletivo Maria Maria – Mulheres em Movimento. A militante questiona ainda a falta de mulheres na política. “Em Juiz de Fora, por exemplo, temos uma vereadora e uma deputada, o que é insuficiente para fortalecer nossa luta.”
O movimento também pedia para que as mulheres não paguem pela crise, já que as trabalhadoras têm sido as mais afetadas pelos cortes. “Muitas empresas têm cortados os benefícios, que atingem principalmente as mulheres, como a creche. Sem creche, as mulheres não têm como trabalhar”, justifica Tatiana dos Santos, do movimento Mulheres em Luta. “Todo dia 8 de março fazemos esse ato. Anteriormente, acontecia na Feira de Benfica. Neste ano, trouxemos para o Parque Halfeld, buscando atingir mais pessoas”, completa.
Violência contra a mulher
Dos 4.762 homicídios de mulheres registrados em 2013, 50,3% foram cometidos por familiares, sendo a maioria desses crimes (33,2%) cometidos por parceiros ou ex-parceiros. Isso significa que a cada sete feminicídios, quatro foram praticados por pessoas que tiveram ou tinham relações íntimas de afeto com a mulher. No Brasil, pesquisa do Instituto Avon/Data Popular sobre violência contra a mulher no ambiente universitário (realizada em 2015 com 1.823 alunos de graduação e pós-graduação de todo o país) mostra que 67% das mulheres alegaram já ter sofrido algum tipo de violência nas dependências da instituição de ensino superior em que estudam ou em festas acadêmicas. Dentre as entrevistadas, 42% já sentiram medo de sofrer violência no ambiente universitário e 36% já deixaram de fazer alguma atividade na universidade por medo de sofrer violência. No entanto, 63% admitem não ter formalizado denúncia.
Na UFJF, diante do número de denúncias de assédio e violência contra alunas, vindo tanto de outros alunos como de professores, a Diretoria de Ações Afirmativas lançou a campanha “A Universidade é pública, meu corpo não.” “Decidimos pensar uma estrutura para capacitação das assistentes sociais e psicólogos para lidar com essas alunas e buscar formas institucionais de punir com medidas socioeducativas os agressores, tanto no âmbito interno quanto no externo, com a participação da Casa da Mulher”, explica a diretora de Ações Afirmativas da UFJF, Carolina Bezerra.
Na noite desta terça, ocorreu a “Enfrentando a violência contra a mulher no ambiente público”, aberta ao público. Nesta quarta (9), a partir das 14h, haverá os grupos de trabalho. “Esses grupos irão encaminhar ações institucionais de inclusão do tema em cursos e vamos levar questões institucionais para o Consu, para que ocorra a mudança no regimento. Nesse primeiro momento, queremos mobilizar a sociedade, sensibilizar e acolher as vítimas”, comenta a diretora.