Uma infecção levou o jovem atleta Davi Costa Nascimento, de 17 anos, a uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) no dia 14 de dezembro de 2021. A família chegou a pensar que os sintomas pudessem ser de Covid-19. O rapaz precisou ficar internado, porque o quadro se agravou. Na madrugada entre o dia 14 e o dia 15 de dezembro, precisou ser transferido para o Hospital Doutor João Penido. O diagnóstico só foi confirmado quatro dias depois, no dia 19 de dezembro: a infecção foi agravada pela Síndrome Hemolítico-Urêmica (SHU). O caso implicou na amputação de oito dedos nos pés do rapaz, que precisa passar por procedimentos cirúrgicos nos dois olhos, por ter sofrido uma hemorragia no local, o que tem mobilizado familiares e amigos nos últimos dias.
No Hospital Doutor João Penido, Davi realizou outros exames e permaneceu internado no Centro de Tratamento Intensivo (CTI). O pai de Davi, Luís Carlos foi à visita, na tarde do dia 15 de dezembro, quando teria recebido a informação de que o jovem teria apenas mais três horas de vida. “O médico disse que ele estava com uma infecção generalizada. Pediu que o Luis Carlos procurasse saber o que ele tinha comido e bebido, porque a infecção se espalhou rapidamente pelo organismo”, narra a tia Eliza Boti Nascimento. Ela é considerada uma mãe por Davi, por ter abraçado a criação do rapaz, depois que a mãe dele foi assassinada no portão de casa, quando ele tinha apenas 8 anos.
Eliza conta que, naquele momento, a família se mobilizou pela fé. “Somos evangélicos e começamos a espalhar correntes de orações pelas redes sociais, pedindo que as pessoas orassem por ele. Ele ficou dois dias com o organismo todo parado, fazendo hemodiálise.” No dia 17 de dezembro, Davi foi entubado, recebeu uma transfusão de sangue e o organismo dele começou a reagir. O diagnóstico veio dois dias depois.
Síndrome Hemolítico-Urêmica é rara e grave
De acordo com o Ministério da Saúde, a SHU é uma doença rara e grave. O distúrbio forma coágulos sanguíneos pelo corpo, que bloqueiam a passagem do sangue pelos vasos, o que pode danificar órgãos. Davi teve a circulação dos pés afetada. Eliza disse que a equipe de médicos se reuniu com a família e informou que a amputação seria necessária, para que a inflamação não voltasse. “Eles precisariam fazer a amputação para preservar a vida dele, porque se viesse outra infecção, ele não iria suportar.”
Além da amputação, no dia 30 de dezembro, Luís Carlos percebeu que o filho tinha dificuldades para enxergar as pessoas. Ele pedia que elas se aproximassem, porque não conseguia vê-las à distância. Descobriram durante o processo que ocorreu uma hemorragia, nos dois olhos, que afetou a visão do rapaz. No momento, ele aguarda na fila pela cirurgia oftalmológica pelo SUS. O procedimento, pela via particular, custaria R$ 14 mil, sendo R$ 7 mil para cada olho, e a família busca ajuda para tentar viabilizá-lo.
Solidariedade
Davi conta que só tem memórias de momentos posteriores à sedação. “Não sabia o que tinha acontecido comigo. Meu pai me contou devagarzinho, porque eu ainda estava confuso e lento. Reparei que estava enxergando poucas coisas de um lado e nada do outro. Disseram para mim que podia ser do medicamento.” O rapaz conta que estava ansioso para voltar para casa. “Fiquei muito tempo no hospital depois que eu acordei. Agora, estou esperando para resolver a questão da vista, e os pés terminarem de cicatrizar.”
A volta para casa
A volta para casa foi outro desafio. Davi mora no terceiro andar de um prédio e precisava lidar com muitas escadas. As saídas para os médicos e as consultas começaram a dificultar a rotina do jovem e de seus familiares. Eles precisaram providenciar uma série de objetos para que o rapaz tivesse a assistência que precisava em casa, como cama hospitalar, cadeira de rodas e cadeira para banho. Eles também descobriram que seria necessário ter uma cadeira escaladora, para que ele pudesse ter mais acessibilidade para sair e chegar em casa.
A cadeira escaladora é alugada por semana, não por mês, como outros equipamentos que se tornaram necessários. A irmã de Davi, Jenifer, criou uma vaquinha virtual para comprar uma cadeira escaladora para ele. A arrecadação superou o valor inicial. “Não sabia, não tinha nem noção de que tinha tanta gente que gostava de mim. Nas horas ruins é bom saber que a gente tem tanto apoio. Eu só quero voltar à minha vida normal”, disse Davi, grato pelo gesto de mobilização das pessoas.
A família, no entanto, continua lidando com uma série de gastos, que envolvem do profissional de nutrição e alimentação especial até o material para o curativo. Jenifer mantém em sua página pessoal um espaço para a atualização de informações sobre o tratamento de Davi, que pode ser acompanhado pelo Instagram (https://www.instagram.com/jeniiangel/). Por meio dessa página, pessoas interessadas em ajudar de alguma forma podem fazer contato por meio do perfil dela.
Trajetória de atleta
A família cuida, com orgulho, de todas as lembranças relacionadas à trajetória de atleta de Davi. Os uniformes, as fotos desde a infância e as medalhas dos campeonatos dos quais saiu vitorioso. “Com 5 anos, ele começou a treinar no Cruzeirinho, depois foi para o Sport Club e, de lá, para a UFJF. Também passou pelo Tupynambás. Ele teve uma oportunidade de fazer teste em São Paulo. Ficou uma semana no centro de treinamento. Em julho, voltou para Juiz de Fora, porque teve uma lesão no joelho. Nada grave, fisioterapia resolveria o problema. No fim do ano, enquanto ele se recuperava, tudo isso aconteceu”, relata Eliza.
Com apreensão, a família aguarda por uma resposta em relação à cirurgia dos olhos. “Ele é um vitorioso. Os médicos falaram conosco: ‘ele é o milagre do nosso CTI’. As plaquetas e a pressão arterial dele foram a zero. Ele tem o sonho de se tornar um grande jogador de futebol. Nós vamos estar aqui para apoiá-lo”, afirma a tia/mãe.