Dois imóveis em Juiz de Fora encontram-se em situação de abandono: um localizado na Rua Christovam Molinari, 65, no Bairro Santa Catarina; e o outro na Avenida dos Andradas, 301, no Morro da Glória. Ambos os prédios abandonados eram sede de serviços municipais de saúde, que, na década passada, foram transferidos para outros locais. Devido às condições nas quais se encontram os imóveis, o Ministério Público de Minas Gerais, responsável pela fiscalização, instaurou inquéritos civis para cobrar soluções e andamentos.
A Tribuna foi até ambos os locais para apurar as condições. O primeiro endereço sediava o Departamento de Saúde do Trabalhador de Juiz de Fora, que inclusive chegou a receber o status de Centro de Referência Regional em Saúde do Trabalhador (Cerest Regional). Atualmente, o serviço funciona no Centro de Vigilância em Saúde, no Morro da Glória. O imóvel abandonado, atualmente, gera insegurança nos comerciantes dos arredores.
O proprietário de um restaurante próximo ao local conta que seu estabelecimento já foi invadido duas vezes, bem como outros comércios da região. Além disso, segundo ele, pessoas entravam no imóvel abandonado para usar drogas, bem como já furtaram partes da estrutura para ameaçar pedestres que transitavam por ali. Havia, ainda, focos de dengue, ratos e escorpiões. A situação, segundo ele, melhorou há cerca de um ano, quando construíram um muro em volta do antigo Departamento de Saúde.
Entretanto, surgiu um novo problema: “hoje, ninguém sabe o que acontece lá dentro. Inclusive os órgãos públicos”, conta outro dono de estabelecimento da região. “Há tempos não vemos qualquer fiscalização ali. O Poder Público só aparece quando ateiam fogo. Quem mora no edifício ao lado comenta da sujeira. Usuários de drogas continuam entrando pela rua de cima e já presenciamos confusões. Resumindo: o problema foi escondido, mas não resolvido”, lamenta.
Torres da antiga fábrica geram preocupações
As torres, que pertenciam à fábrica de tecidos Ferreira Guimarães, também preocupam. O MPMG, inclusive, relata a degradação das estruturas com altura superior a 15 metros – ambas tombadas pelo valor histórico, nos termos do Decreto Municipal 7913/03.
“Ressalta-se que é possível observar o surgimento de trincas laterais, a queda de alguns blocos de sustentação, bem como a reabertura da base de uma das torres, o que poderá comprometer a estabilidade das mesmas, podendo levar ao colapso das estruturas, colocando em risco o patrimônio histórico tombado assim como os imóveis e pessoas vizinhas”, completa o MP. Foi requisitada, segundo o órgão, diligência junto à Funalfa e é aguardada resposta.
Antigo PAM Andradas também segue abandonado
O outro prédio era sede do PAM Andradas. O atendimento foi desativado pela Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) no fim de 2018 e, desde então, o local está fechado e encontra-se abandonado. O inquérito civil, nesse caso, foi remetido pela Procuradoria da República em São João del-Rei. A denúncia se refere à situação de abandono, depredação e ocupação irregular do prédio público, que estaria no Inventário Municipal de Proteção do Acervo Cultural.
Conforme o MP, foi requerida diligência e é aguardada a resposta do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural (Comppac). Uma parte dos serviços prestados no antigo PAM Andradas foi transferida para o PAM Marechal, que funciona na Rua Marechal Deodoro, 496. Pelo lado de fora, é possível ver que o prédio está completamente aberto, inclusive sem algumas janelas, e em péssimas condições.
Em novembro de 2021, a Tribuna noticiou que cerca de 150 crianças em situação de vulnerabilidade socioeconômica, acolhidas pelo Centro Educacional Maria Helena, estavam sem frequentar a instituição após a creche ser invadida. O centro educacional está localizado ao lado do antigo PAM Andradas.
Até hoje, a situação segue semelhante. Um empreendimento ao lado do imóvel já foi assaltado por pessoas que invadem o local abandonado. Segundo uma trabalhadora do estabelecimento, fizeram um buraco na parede que é vizinha imediata. Outros comércios da região passaram pelo mesmo problema, com um deles sendo impactado por incêndio.
Além disso, ela diz que os próprios comerciantes se uniram para trancar o portão e colocar grades por cima – que ainda são transpassadas – para impedir a entrada de pessoas. “Somos responsáveis até pela limpeza de lá. Está nessas condições há um bom tempo, sem qualquer intervenção ou comunicação pública.”
Prefeitura se posiciona sobre prédios abandonados
A Tribuna demandou a PJF a respeito da responsabilidade dos dois imóveis. Além disso, foram questionados os motivos para os equipamentos de saúde do Município terem parado de funcionar nos locais e se há algum plano para ocupação dos prédios. Também foi pedido um posicionamento da Funalfa/Comppac a respeito do andamento do inquérito que depende da resposta do órgão e se a Defesa Civil foi até o local das duas torres para avaliar as condições estruturais.
Em nota, a resposta foi que a Defesa Civil e a Funalfa estiveram na edificação localizada na Rua Christovam Molinari para avaliar a estrutura em mais de um momento. “Na última vistoria (realizada em junho de 2025), a equipe da Defesa Civil não identificou evolução dos sinais de degradação nas torres desde a última visita.”
Ainda segundo o Município, no local, foram identificadas “avarias por conta da exposição contínua do ambiente” e, durante a vistoria, “não foi identificado risco de colapso iminente”. “Tanto a Defesa Civil quanto a Funalfa reforçam a importância da realização de manutenção corretiva no imóvel, observando sempre as diretrizes aplicáveis ao patrimônio tombado, sob responsabilidade do setor competente.”
Sobre as duas unidades, o posicionamento é que a Secretaria de Saúde, atual responsável pelas edificações, aguarda ser informada oficialmente sobre a decisão pelo Ministério Público.

