Após meses com os números de casos confirmados da Covid-19 apresentando quedas em todo o país, o cenário de estabilidade na transmissão da doença, visto até então em algumas regiões do Brasil, começou a se modificar nas últimas semanas. O movimento, que também foi observado em alguns países europeus, pode estar diretamente relacionado à chegada de uma nova variante do vírus em solo brasileiro. No sábado (5), a Secretaria de Saúde do Rio de Janeiro confirmou a transmissão comunitária da subvariante da Ômicron BQ.1 na capital carioca, tendo em vista que a paciente infectada não teria viajado nas semanas anteriores à infecção.
O cenário de transmissão do vírus em Juiz de Fora também demonstrou alterações nas últimas semanas. De acordo com dados disponibilizados pela plataforma JF Salvando Todos, desenvolvida por pesquisadores da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), na 40ª semana epidemiológica (correspondente aos dias 2 a 8 de outubro), a taxa de transmissão da Covid-19 no município era considerada baixa, com 5,14 casos confirmados por cem mil habitantes. Entretanto, após duas semanas, na 42ª semana epidemiológica (correspondente ao período de 16 a 22 de outubro), a média subiu para 10,39 casos por cem mil habitantes, sendo considerada “moderada”.
Na análise do médico infectologista Rodrigo Daniel, ainda que os casos da doença possam vir a aumentar com a circulação da nova variante em território nacional, é importante ressaltar que ela tende a ser menos letal do que as variantes anteriores. “Diante de um cenário em que a maioria das pessoas já esteja vacinada, a tendência é que os indivíduos que eventualmente venham a contrair a nova variante do vírus tenham casos mais leves e sem a necessidade de hospitalização. Entretanto, é imprescindível relembrar que a Covid, ainda que em casos não graves, pode deixar sequelas naqueles que contraem a doença”, avalia. Já para aqueles que ainda não se vacinaram ou não estiveram expostos à Covid, o médico indica que o risco do desenvolvimento de complicações médicas ao contrair a doença se torna mais alto.
“A recomendação, neste momento, é que todos tenham o compromisso de manter a carteira de vacinação em dia, tomando as respectivas doses de reforço que já estão disponíveis para o público em geral. Além disso, o uso de máscara é indicado para aqueles que estejam com sintomas gripais, ou que convivam diretamente com pessoas que possuam uma menor imunidade, como idosos ou pessoas transplantadas, por exemplo”, alerta Daniel. Com o período de festas de fim de ano se aproximando, ele também destaca a importância de ventilar os ambientes, tendo em vista que, desta maneira, existe uma menor chance de que partículas do ar, que possam vir a carregar o vírus, venham a ficar concentradas em um ambiente.
Cautela
Para o coordenador da plataforma JF Salvando Todos, Marcel Vieira, ainda é necessário avaliar com cautela os recentes aumentos no número de casos em algumas regiões do país e na Europa. “Nós percebemos, nas últimas semanas, leves aumentos no número de casos confirmados de Covid-19. Por mais que os quantitativos não chamem a atenção, tendo em vista que o número de confirmações atualmente tem sido muito menor ante o período mais agudo da pandemia, é plausível pensar que o aumento dos casos pode ser muito maior do que estamos observando pelos números oficiais, já que nunca testamos tão pouco quanto agora. É de suma importante, portanto, reforçar a necessidade de as pessoas se vacinarem com as doses de reforço, para continuarmos seguros diante deste cenário”, ressalta.
Tendo por base dados disponibilizados pela Secretaria de Saúde da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF), cerca de 63,3% da população do município já recebeu ao menos a terceira dose dos imunizantes contra a Covid. Já 41,36% dos habitantes teriam recebido a quarta dose na cidade. Os percentuais foram levantados pela Tribuna, por meio de cálculos que consideram a estimativa populacional de 2021 de Juiz de Fora (577.532 habitantes) feita pelo IBGE. A reportagem também indagou a PJF sobre o número de casos confirmados de Covid-19 no município na primeira semana de novembro. O Município, no entanto, afirmou não possuir os dados por uma indisponibilidade dos sistemas utilizados pelo Ministério da Saúde no país.