A tradicional Festa Alemã do Bairro Borboleta, na Cidade Alta, teve início nessa terça-feira (6) no endereço costumeiro dos anos pré-pandemia: na Rua José Lourenço, entre as ruas Antônio Stephan e Júlio Menini. No entanto, chamou a atenção de moradores da região a realização da festividade num trecho da via que está interditado desde 2021. Naquele ano, cerca de um quilômetro da Rua José Lourenço foi fechado por conta de frequentes deslizamentos de talude no local. Desde então, populares criticam a falta de solução para os problemas e os impactos causados no trânsito da região.
A interdição do trecho da Rua José Lourenço aconteceu no dia 19 de agosto do ano passado em função de riscos de escorregamento de terra identificados pela Defesa Civil. Na ocasião, foi informado que o órgão monitorava 40 imóveis nas imediações. A situação foi identificada por meio de trabalho de georreferenciamento, quando, naquele momento, as chuvas agravaram o cenário. A Administração municipal estima que a intervenção necessária para a regularização do trecho teria custo superior a R$ 7 milhões.
Dos cerca de mil metros que tiveram o trânsito impedido desde então, a Festa Alemã será realizada em um trecho de aproximadamente 350 metros. Na última sexta-feira (2), a Tribuna esteve no local e ouviu questionamentos de moradores. “A festa será feita num local que afirmaram ser área de risco. Fizeram um serviço de manutenção no local onde será a Festa Alemã, mas não deixa de ser uma área de risco, já que é um trecho que estava fechado”, avalia Paulo Schroder, morador da Rua Antônio Stefan, localizada nas imediações de onde será realizado o evento.
O estranhamento foi compartilhado por outros moradores ouvidos pela Tribuna, assim como a crítica pela situação de abandono que o trecho da Rua José Lourenço estaria até a aproximação da Festa Alemã. Segundo alguns populares, a via apresentava mato alto, árvores descuidadas e sujeira decorrente de escorregamentos de terra, problemas que teriam sido solucionados nas últimas semanas. “Por conta da festa, a Prefeitura arrumou (o trecho). Antes, estava cheio de mato e, neste tempo todo, não havia arrumado nada”, critica José Expedito, também morador da região.
Questionada sobre o suposto abandono da via, a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF), por nota, afirmou que os trabalhos de poda e corte de árvores são realizados por toda a cidade de maneira preventiva, levando em conta a aproximação do período chuvoso. “Também com o objetivo de reduzir os possíveis impactos causados pelas chuvas que estão por vir, as ações de capina foram iniciadas na via na última semana”, diz o Executivo, o qual garante que a via recebeu serviços de limpeza, poda de grama e tapa-buracos em fevereiro.
Organização da festa garante segurança
Integrante da organização da Festa Alemã, Salcio Del Duca afirma que a articulação com a PJF para liberação do trecho da Rua José Lourenço para o evento aconteceu ainda em junho. A parte da via que será utilizada, segundo ele, não passa por riscos. “O problema estrutural do piso da Rua José Lourenço que gerou a interdição da via é na parte alta dela. Está a um quilômetro e meio de distância do trecho onde realizamos a Festa Alemã desde 2016”, explica. “Em junho, foi batido o martelo para o evento acontecer na via, considerando a história que a Festa tem no bairro (…). Foi feito um trabalho em conjunto com a Prefeitura e nos foi garantido que era possível a liberação e que o trecho não teria nenhum perigo.”
Em contato com a Tribuna, a PJF informou que a Defesa Civil fez mapeamento de toda a via e classificou os trechos quanto ao grau de risco. “A maior parte da área foi classificada como R4, risco muito alto, e não foi liberada para utilização. Já o trecho onde vai ocorrer o evento não apresenta perigo iminente de deslizamento de terra”, explica o Município.
Quanto ao trânsito da região, que poderia ser especialmente problemático em função da maior demanda causada pelo evento, o organizador da Festa aposta no plano de adaptação do tráfego nas proximidades. “O plano de trânsito é um binário em mão única. A mudança do trânsito com a instalação do binário vai acabar aliviando o bairro desse trânsito.”
O planejamento citado por Del Duca prevê alteração no sentido de circulação da Rua Tenente Paulo Maria Delgado, na altura da Alameda Henrique Schaefer, seguindo para as ruas Simão Gabriel Sffeir, Humberto Menini, próximo ao 560; e Irmão Menrado, 553, que estarão com a circulação apenas em mão única. As ruas Antônio Stephan, São Cosme e São Damião ficarão sem saída, dedicadas à circulação de veículos dos moradores da região.
Nos dias comuns, trânsito sobrecarregado
Se a Festa Alemã conta com um planejamento diferenciado para mitigar os impactos no trânsito, o cotidiano comum dos moradores do Bairro Borboleta foi impactado com uma maior demanda nas vias no entorno da José Lourenço. As principais críticas foram de comerciantes da Rua Irmão Menrado, a qual tem tráfego nos sentidos São Pedro e Centro, tornando-se um ponto central de passagem de veículos na região. Em horários de pico, segundo os populares, longas filas de veículos são formadas no local, que tem ruas estreitas em contraposição à intensa demanda.
O problema de escoamento do trânsito tomou tal proporção que afeta o movimento de clientes nos estabelecimentos da rua, de acordo com os comerciantes. “Entre 7h e 18h, o trânsito é horrível pela demanda de quem sobe para o São Pedro. Há impacto de clientes que deixaram de vir por conta do trânsito”, lamenta Paulo Sérgio Ribeiro, proprietário de um hortifrúti no local, que está desesperançoso quanto à chance de uma solução definitiva para o problema da Rua José Lourenço. “A Prefeitura não resolve nada. Se for para fazer a obra (de contenção de encosta) do jeito que falaram, isso nunca vai sair.”
Questionada sobre a situação da Rua Irmão Menrado, a PJF afirma realizar um estudo no local para minimizar os impactos do trânsito e reforçar a segurança de pedestres e motoristas. Segundo o Executivo, a Secretaria de Mobilidade Urbana (SMU) fez um estudo no local e realizou a manutenção de toda a sinalização vertical e horizontal da via.
Empresa contratada para projeto de contenção
Em fevereiro, a A1MC Projetos Ltda foi contratada pela PJF para elaborar o projeto de contenção em quatro áreas de risco, incluindo a Rua José Lourenço. O custo aos cofres públicos foi de R$ 192.043,05, em contrato com duração de oito meses. À Tribuna, a PJF confirmou a contratação e informou que, logo após a entrega do projeto, será realizada a licitação para contratar a empresa que ficará responsável pela execução da obra. O Executivo ainda justifica a manutenção do fechamento da Rua José Lourenço por conta de riscos em alguns trechos.
Além do projeto de contenção na via do Bairro Borboleta, a A1MC Projetos também está encarregada de elaborar projetos em áreas de risco da Rua Francisco Altomar, no Bairro Ipiranga, Zona Sul; do Córrego Humaitá, no Bairro Industrial, Zona Norte; e na Rua Odilon Araújo, no Bairro Bonfim, Zona Leste.