Depois de três anos de apreensão e busca de respostas, a situação vivida por moradores e vizinhos de um prédio na Rua Custódio de Rezende Bastos, no Jardim dos Alfineiros, Zona Norte, evacuado em 31 de janeiro de 2016, pode estar perto de chegar a um final. Decisão judicial determinou que a construção seja demolida pela Prefeitura de Juiz de Fora (PJF), devido ao risco de desabamento da estrutura. Ainda não há data certa para que isso ocorra, mas a PJF prepara licitação para contratar empresa especializada para a demolição. Além disso, os processos que cobram à construtora indenizações para as pessoas afetadas estão em fase avançada.
O imbróglio começou depois que as colunas do prédio começaram a apresentar rachaduras, em janeiro de 2016, meses depois de as primeiras famílias terem se mudado para lá. Em 31 de janeiro daquele ano, a Defesa Civil foi acionada e apontou que dois pilares do prédio de seis andares apresentaram rompimento após sofrerem sobrecarga. Além disso, foram detectadas trincas e rachaduras em janelas e painéis de tijolos. Treze famílias que viviam no local precisaram sair às pressas. Além dos moradores, famílias de duas casas vizinhas precisaram sair devido ao risco de que seus imóveis fossem atingidos caso o prédio desabasse. Um galpão localizado nos fundos do imóvel também foi evacuado.
A Tribuna esteve no endereço na última semana, e constatou que a estrutura está ainda mais danificada. O prédio não tem mais janelas e portas, já que, segundo vizinhos, elas teriam sido furtadas. Vigas de sustentação também foram levadas. Há mais rachaduras e parte de uma das sacadas do primeiro andar caiu há duas semanas. E os problemas vão além da construção. O lote está tomado por mato, e, conforme os vizinhos, a falta de capina está atraindo animais peçonhentos, caramujos e insetos para a área. Há a denúncia também de que pessoas em situação de rua estariam dormindo no local.
Famílias afetadas amargam prejuízos
O funcionário público Fábio César Rodrigues era um dos moradores do prédio condenado. Ele conta que já teve mais de R$ 50 mil de prejuízo se somar as parcelas que já haviam sido pagas do imóvel e o valor do aluguel que paga desde 2016. O homem mora, atualmente, no Bairro Parque Independência, região Nordeste de Juiz de Fora. “A sensação que tenho é de impotência. Entramos na Justiça, foi determinado que a construtora pagasse nosso aluguel e nada foi depositado para nós até hoje. A Justiça colocou uma multa caso este valor não fosse pago, nem assim resolveu. É uma situação complicada, mas, para nós, ficou só o financeiro. Nossa preocupação é com quem mora no entorno e infelizmente voltou. Vidas ainda podem ser perdidas. Tem moradores de rua vivendo lá também”, disse.
Um dos vizinhos afetados pelo problema é Ângelo Cruz. Gerente de uma lanchonete e pai de três filhos, o homem chegou a deixar seu imóvel à época da constatação de sobrecarga da estrutura do prédio, mas voltou. Hoje, ele e a família vivem apreensivos. “Já estavam começando a saquear aqui, sem contar que eu estava pagando aluguel. Durante algum tempo, a Prefeitura pagou o aluguel social, mas eu tinha que dar R$ 500 para completar o valor. Resolvi arriscar e voltar, não tem jeito. A única coisa que cobro é uma resposta. Entrei na Justiça, mas nunca teve uma audiência comigo. A Defesa Civil também não vem aqui mais, não fala mais nada. A construtora nunca deu uma explicação. Estamos abandonados”, diz. Questionada pela Tribuna, a Defesa Civil esclareceu que atende 24 horas por dia pelo 199, e que vistorias devem ser solicitadas através desse número.
LEIA MAIS:
Processos
Pedro Mourão é o advogado que representa as famílias afetadas pelo problema. Segundo ele, diversos processos judiciais tramitam conjuntamente pedindo a indenização dos moradores. “Estamos pedindo à construtora a indenização dos valores que os moradores pagaram pela compra dos apartamentos. Pedi uma perícia em caráter de urgência, onde um engenheiro constatou patologias estruturais graves na estrutura do prédio. Em um dos processos, é preciso que os responsáveis pela construtora sejam citados pessoalmente, porém, eles não foram encontrados até o momento, e isso trava o andamento do caso. Mas os processos já estão chegando na fase que poderão ser julgados e teremos uma decisão. Estamos esperançosos que os moradores recebam o que é de direito”, disse.