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Brasil é 6º país com mais diabéticos no mundo

Diabetes Felipe Couri
Raphaela dos Santos, hoje grávida de 7 meses, foi diagnosticada com diabetes em 2010, mas somente em 2020 iniciou tratamento multisciplinar, que ela julga “fundamental para o sucesso do controle” da doença (Foto: Felipe Couri)
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Aos 39 anos e grávida de sete meses, a psicóloga Raphaela Souza dos Santos busca manter o máximo de cuidado com sua saúde: pratica atividade física regularmente e mantém um acompanhamento com nutricionista e endocrinologista. A rotina de cuidados foi construída ao longo de muitos anos, já que, em 2010, ela foi diagnosticada com diabetes, doença que acomete mais de 15 milhões de brasileiros entre 20 e 79 anos, de acordo com a Federação Internacional de Diabetes. Em 2021, o Brasil foi o sexto país com mais diabéticos no mundo e, para 2045, a entidade projeta que o país deve chegar a 23,2 milhões de pacientes diagnosticados com a doença. Neste domingo (6), a Tribuna dá início a uma série de reportagens sobre o Novembro Azul, mês voltado à conscientização sobre o diabetes, o câncer de próstata e a saúde do homem.

Raphaela foi diagnosticada com diabetes tipo 2 em 2010 e só iniciou o tratamento em 2015, porém, ainda “não seguia as devidas instruções”. Em 2020, ela passou a dar uma maior atenção à doença e incluiu, também, a atividade física como parte importante no tratamento. “Esse acompanhamento multidisciplinar teve início em 2020, quando decidi tratar a obesidade, na tentativa de controlar o diabetes. Tenho certeza que aquela decisão foi fundamental para o sucesso dos cuidados que tenho comigo hoje e, consequentemente, o sucesso do controle do diabetes”, diz.

Para ela, entender que o diabetes é parte da sua condição de saúde foi fundamental para buscar um estilo de vida mais saudável, que não vise apenas o controle da doença. “Hoje estou no sétimo mês de uma gestação que está acontecendo sob muitos cuidados, porém, com grande expectativa do nascimento saudável do meu bebê, pois o que faço é aquilo que é recomendado a todas e todos”, diz.

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Raphaela foi diagnosticada com diabetes tipo 2 em 2010, mas só iniciou o tratamento em 2015 (Foto: Felipe Couri)

Vida normal

Atividade física e alimentação balanceada também integram a rotina da influenciadora digital Helena Paradela. No seu caso, os cuidados se iniciaram desde cedo, quando tinha 8 anos de idade e foi diagnosticada com diabetes tipo 1. Desde então, ela faz uso da insulina, monitora a glicose e controla a quantidade de carboidratos a ser ingerida. “Tirando essas pequenas coisas, vivo uma vida normal, comendo bem e comendo o que tenho vontade, mas com consciência”, conta.

Em sua página no Instagram, a influenciadora busca mostrar aos seus 16 mil seguidores que o diabetes não é algo que toma conta de todos os aspectos de sua vida. “Adoro mostrar para as inúmeras pessoas que me seguem e que também são diabéticas que a gente pode e vive uma vida normal, mas, ao mesmo tempo, gosto de mostrar que o diabetes não me define”, diz.

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‘O melhor tratamento é a prevenção’, diz especialista

O diabetes é comumente classificado em dois principais tipos: 1 e 2. O diabetes tipo 1 é uma doença crônica que atinge cerca de 10% dos pacientes, se manifestando, geralmente, na infância ou adolescência. Já o tipo 2 afeta cerca de 90% dos pacientes e tem relação direta com sobrepeso, sedentarismo, hipertensão, entre outros fatores.

Porém, além dessas divisões clássicas, há outras identificações a partir da produção de insulina – hormônio produzido pelo pâncreas que é responsável por metabolizar a glicose -, como lembrado pela endocrinologista Thaís Tannure. Há, por exemplo, o diabetes tipo Lada, que é autoimune, e o tipo Mody, causado por alterações genéticas. Essas identificações determinam o método de tratamento e, no caso do diabetes tipo 2, de prevenção.

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“Quando vemos aquele paciente diagnosticado com o diabetes mais classicamente caracterizado por tipo 2, que tem associação com outros fatores de risco, como hipertensão e obesidade, os pacientes que conseguirem estabelecer um equilíbrio bom em relação ao peso, bom índice de massa corporal, prática de atividade física regular e uma alimentação de boa qualidade, é possível que consiga não desenvolver o diabetes, ou pelo menos não desenvolver de uma maneira tão abrupta”, explica a médica.

A doença pode levar a dois tipos de complicações: macrovasculares e microvasculares, de acordo com a endocrinologista. A primeira diz respeito aos infartos, AVCs e doenças de grandes artérias, sendo as que mais matam pacientes diabéticos. Já as complicações microvasculares estão relacionadas ao comprometimento dos olhos, dos rins e de terminações nervosas, principalmente das extremidades do corpo.

Ainda existem muitas pesquisas em andamento sobre uma possível cura do diabetes, porém, o que se sabe é que a mudança no estilo de vida é um dos principais métodos para controle da doença, somada aos medicamentos nos casos em que há necessidade. “Eu sempre reforço com todos os pacientes que o melhor tratamento é a prevenção”, aponta Thaís Tannure.

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Novembro Azul: conscientizar e orientar

Originalmente, o diabetes foi a primeira doença relacionada ao mês de novembro para campanhas de conscientização, sendo que o Dia Mundial do Diabetes é celebrado no dia 14, como lembra a endocrinologista e presidente da Associação de Diabéticos de Juiz de Fora, Celia Maria Novaes Pereira. A instituição atua na cidade desde 1959, com o objetivo de promover atendimento mais acessível aos pacientes diagnosticados com a doença. Atualmente, a Associação oferece atendimento a preços mais acessíveis em especialidades como oftalmologia, cardiologia, dermatologia, nutrição, endocrinologia, entre outras.

Em Juiz de Fora, não há um quantitativo de pacientes com a doença. De acordo com a Secretaria de Saúde (SS) da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF), o Serviço de Controle de Hipertensão, Diabetes e Obesidade está realizando uma migração dos pacientes cadastrados e acompanhados para o Centro Estadual de Assistência Especializada. Até julho deste ano, a SS havia contabilizado 1.580 cadastros de pacientes diabéticos. Em nível global, são mais de 537 milhões de pacientes com diabetes, número que pode saltar a 783 milhões em 2045.

De acordo com Celia, a obesidade é um dos principais fatores por trás da projeção de crescimento da doença. “A obesidade é responsável por 40% desse número de pacientes com diabetes. Então, com o crescimento da obesidade, cresce o diabético, com exceção dos casos de diabetes hereditário”, explica.

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Como destacado pela presidente da Associação, uma pessoa morre a cada 5 segundos no mundo devido ao diabetes. Além disso, cerca de 50% dos pacientes não sabem que são portadores da doença. “É uma doença que está com o número cada vez maior”, aponta Celia. “O Novembro Azul é um mês tanto para orientação quanto para conscientização da doença, do que é a patologia e o que ela pode causar. Como toda doença crônica, os pacientes têm a tendência a largar o tratamento, principalmente por ser uma doença que exige não só tomar remédios, mas também fazer dieta”, explica.

Serviços oferecidos pelo SUS

Em Juiz de Fora, o atendimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para diabéticos ou pessoas com suspeita da doença pode ser realizado na atenção primária por meio das Unidades Básicas de Saúde (UBS). De acordo com a SS, além das consultas com profissionais para tratamento, os pacientes também recebem orientações quanto à prevenção de complicações. Em caso de necessidade, os usuários podem ser encaminhados para os Centros Estaduais de Atenção Especializada (Ceae), onde recebem atenção secundária por meio de ações voltadas ao tratamento, redução de complicações e controle da diabetes e também hipertensão.

Para o tratamento da doença, a SS disponibiliza medicamentos como antidiabéticos orais e insulina, bem como insumos para monitoramento, como aparelho para aferição capilar de glicose (glicosímetro), tiras reagentes, lancetas, seringas e agulhas. Os itens podem ser adquiridos gratuitamente nas farmácias das UBSs, a partir da apresentação de receita médica e documento de identidade.

Para receber insulina e insumos de monitoramento, é necessário que os diagnosticados com diabetes realizem o cadastro no Sistema de Gerenciamento da Assistência Farmacêutica, feito na própria UBS. Já o glargina, análogo de insulina de longa duração, pode ser adquirido na UBS por meio da abertura de processo administrativo de solicitação do medicamento, o qual será avaliado por médicos especialistas, conforme parâmetros estabelecidos pela referida resolução.

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