No Brasil, o Observatório do Câncer mostra que o número de casos de câncer de mama em mulheres jovens (abaixo dos 40 anos) já é de 11,9%. João Carlos Arantes Jr., professor do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), tem percebido esse crescimento. Segundo ele, o grande problema é que os cânceres em mulheres mais jovens, em geral, são mais agressivos, com um componente biológico de pior prognóstico. “A maioria dos casos exigirá tratamentos mais agressivos, tanto do ponto de vista cirúrgico (procedimentos mais mutilantes) quanto da terapia sistêmica (quimioterapia com drogas mais potentes)”, conta. Além disso, são cânceres com maior probabilidade de estarem associados a fatores hereditários.
Atualmente, o Ministério da Saúde recomenda que a mamografia seja feita a cada dois anos a partir dos 50 anos, para o público geral, e a partir dos 40 anos em quem tem histórico familiar do câncer – o que gera um desafio para identificar os casos entre essa população mais jovem. O diagnóstico precoce não está relacionado com sintoma; até porque os sintomas mamários aparecem em casos mais avançados, como inversão do mamilo, vermelhidão de pele, assimetria de uma mama pra outra e apalpação de uma íngua na região da axila. Esperar ter sintomas mamários para se fazer um diagnóstico de câncer de mama não é o adequado. O adequado é ter exames de rastreio e avaliação da mama pelo mastologista ou ginecologista uma vez por ano, o que vai guiar a necessidade ou não de biópsia caso alguma lesão suspeita seja detectada.
Foi o caso de Grazielle, que, a princípio, não tinha percebido o nódulo no seio. Quem percebeu foi o seu marido, que insistiu para que ela fosse ao médico. “Eu nunca tinha feito mamografia, foi a primeira vez”, conta. Quando fez o exame de toque, a médica já a encaminhou para mais exames e, em seguida, para o tratamento. Como em outros tipos de câncer, o diagnóstico precoce é essencial para reduzir a mortalidade pela doença, já que quanto mais cedo detectado o tumor, maior é a chance de sucesso no tratamento. Três anos depois, ela toma um bloqueador hormonal e faz acompanhamento de seis em seis meses.
Mudança no olhar sobre a doença
Como esse crescimento é recente, a comunidade científica ainda está se mobilizando para descobrir quais seriam os motivos possíveis para a origem desses casos em uma população atípica. A médica oncologista Tatyene Nehrer de Oliveira entende que mudanças de hábitos estão surgindo com muita força nos últimos anos, e que esses condizem com o aumento do número de casos, principalmente de uma população atípica. “Nós sabemos que os tumores relacionados com a hereditariedade são mais ou menos 5 a 10%. É um nível bem pequeno. Cerca de 90% dos casos estão associados a fatores ambientais, como, por exemplo, dieta”, explica. Para ela, as dietas ricas em ultraprocessados, e os indivíduos que estão no sobrepeso podem estar nesse risco.
Além disso, a médica entende que os exames de mamografia têm uma faixa etária a partir da qual devem ser iniciados, mas quando se vê uma paciente por volta dos 30, ela não estava nem na época de fazer mamografia. “Nós descobrimos em mulheres mais jovens diagnósticos mais avançados porque o screening para essa doença inicia em uma idade mais avançada. A ida ao mastologista seria ideal a partir dos 30 anos; e as que têm histórico de câncer de mama precisam de uma adequação nos exames de rastreio, então a mamografia pode ser iniciada mais cedo e até com uma complementação com exames de imagem”, diz.
Cuidados preventivos para todos os públicos
Da mesma forma, são conhecidas algumas características que ajudam a compreender o fenômeno. “Alimentação inadequada desde a infância, rica em ultraprocessados, além da carência de fibras e outros componentes como antioxidantes, sedentarismo, adiamento da primeira gestação, uso indiscriminado de drogas (incluindo álcool) contribuem absurdamente para a eclosão da doença”, afirma João Carlos Arantes Jr..
Por isso, ele recomenda que a principal medida de cuidados preventivos seja a partir da adequação dos hábitos de vida. “A prática esportiva por volta de 3h por semana reduz em 30% o risco de qualquer câncer”, diz. Alimentação saudável e sono adequado também fazem a diferença, como explica.
‘Existe vida depois do câncer de mama’
Apesar de um diagnóstico de câncer de mama certamente ser um baque, conhecer os tratamentos e entender o que pode ser feito a partir disso faz toda a diferença. Como acrescenta Grazielle, aconselhando outras mulheres: “Faça o autoexame, nem que seja para conhecer a mama. Eu não sabia identificar se era ou não era, se era normal, da anatomia da mama mesmo. Tem gente que tem medo de fazer o autoexame e de ir no médico para descobrir, mas, por mais que venha o diagnóstico, existe vida depois do câncer. Eu venci o câncer de mama e hoje sou corredora de maratona”, diz.