O empresário de 38 anos que confessou ter assassinado a própria esposa, a psicóloga Marina Gonçalves Cunha, 35, foi indiciado pela Polícia Civil por homicídio quadruplamente qualificado. O inquérito, conduzido pela titular da Delegacia de Atendimento à Mulher, Ione Barbosa, contou com os depoimentos de cerca de 30 pessoas, como familiares, amigos e pessoas que, de alguma forma, tomaram conhecimento do relacionamento do casal. Durante a investigação, que durou quase um mês, foram realizados exames para a confecção de laudos sobre o local dos fatos, cadavérico e de luminol no apartamento onde marido e mulher moravam, no Bairro São Mateus, na Zona Sul. No total, o inquérito foi concluído com cerca de 350 páginas.
Conforme a delegada, o suspeito irá responder por ter usado motivo torpe para tirar a vida da esposa, por asfixiá-la, por impedir a defesa da vítima e por feminicídio. “No depoimento do indiciado, ele confessa a prática da asfixia, o que também foi apontado pelo laudo, mostrando o meio insidioso e cruel, pois ele agiu de forma traiçoeira e fria, o que nos induz a pensar na premeditação. Além disso, o corpo da mulher foi colocado no carrinho de supermercado e o local do crime limpado”, ressaltou Ione.
Ela ainda acrescentou que o suspeito disse que não queria matar a esposa, mas a conduta dele mostra o contrário. “Ele saiu de casa e foi ao supermercado para simular uma situação de compra e sair com o corpo do apartamento”, afirmou a delegada. Segundo ela, o exame de luminol reagiu para sangue em local diferente da versão contada pelo empresário. “Ele afirmou que o casal entrou em luta corporal e teria caído perto da cama no quarto, porém o luminol reagiu perto do banheiro, onde tinha muito vestígio de sangue, o que induz a pensarmos que ela poderia estar no banheiro e, ao sair, teria sido surpreendida talvez com um soco, e ali ele já teria começado a enforcá-la, o que é um meio cruel, porque, com a asfixia, a pessoa demora cerca de dois a cinco minutos para morrer, causando-lhe sofrimento.”
Filho diz ter ouvido barulhos na noite do crime
Ione Barbosa explicou que a imputação de crime de feminicídio deveu-se pelo cometimento de delito contra vítima do sexo feminino envolvendo violência doméstica familiar e menosprezo e discriminação pela condição de ser mulher. “Como homem, ele aproveitou da sua condição de poder. Com o feminicídio, a pena de homicídio, que pode ser de 12 a 30 anos, aumenta em um terço quando o crime é praticado na presença de descendente ou ascendente da vítima. Nesse caso, tinham três crianças dentro da casa, com 2, 5 e 7 anos. O mais velho alegou que ouviu barulho, gemidos e arrastamento, chegando a acordar”, pontuou Ione.
O empresário também foi indiciado por fraude processual, cuja pena varia de seis meses a quatro anos, porque ele limpou o sangue do local do crime, mascarando o trabalho de investigação, e ocultação de cadáver, com pena que vai de um a três anos, pois levou o corpo até uma mata, nas proximidades do Parque da Lajinha. O inquérito será entregue na Justiça na próxima segunda-feira. O empresário continua no Ceresp preso preventivamente, sem prazo de saída.
O corpo de Marina, jogado no local no dia do crime, em 21 de maio, só foi encontrado no dia 31 daquele mês, dez dias depois da suposta morte por asfixia no apartamento do casal. Para a investigação, foi relevante o fato de o indiciado ter retirado a aliança e os brincos da vítima e, possivelmente, ter desfigurado o rosto com algum produto. A psicóloga só foi identificada por familiares no dia 7 de junho e, por pouco, não foi enterrada como indigente.