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Procura por atendimento médico e testes de Covid-19 dispara em JF

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Passadas as festas de fim de ano, o número de pessoas com sintomas gripais que procuram unidades de pronto atendimento em Juiz de Fora aumentou. Em alguns locais tem havido filas, e os usuários precisam aguardar por horas para receber atendimento médico. Os sintomas, que podem estar relacionados tanto à Covid-19 como à infecção pelo Influenza, vírus da gripe, também têm levado mais pessoas a buscarem por testes em laboratórios e farmácias de Juiz de Fora, ameaçando, inclusive, a capacidade de fornecimento de testes para a população. Em paralelo, dados divulgados pela Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) nos boletins epidemiológicos já apontam para o alto número de pessoas infectadas pela Covid-19 na cidade.

UPA de São Pedro estava lotada nesta quinta-feira; usuários relataram longa espera para receber atendimento, e hospitais confirmam aumento da demanda (Foto: Fernando Priamo)

Ao longo desta semana, unidades de saúde têm ficado lotadas. A Tribuna esteve em alguns destes locais durante esta quinta-feira (6) e constatou a grande procura por atendimento. Na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) São Pedro, na Cidade Alta, por exemplo, um catador de recicláveis, que preferiu não ter o nome divulgado, acompanhava a esposa e relatou que eles aguardavam desde as 9h por atendimento para a mulher, que estava com fortes sintomas gripais. Ela foi atendida por volta das 16h, mas não obteve diagnóstico. “Ela está com muita tosse, dor de garganta, febre. Foi atendida, mas só passaram um remédio e mandaram de volta para ficar em casa de repouso”, diz.

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O casal, que reside no Bairro Grama, Região Nordeste, já tinha precisado se deslocar até o Bairro São Pedro para conseguir atendimento. “O posto de Saúde de Grama já estava lotado e com as senhas esgotadas”, afirma. Conforme o homem, uma das filhas do casal também precisou de atendimento, pois, assim como a mãe, apresenta sintomas de síndrome gripal. “Ela mora em São Pedro, mas como viu que demoraria aqui, foi até a UPA Norte tentar atendimento, e demorou cerca de cinco horas para ser atendida”.

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A demanda por atendimento também cresceu em hospitais que têm pronto atendimento. No Hospital Monte Sinai, conforme as coordenações do setor de Emergência/Pronto Atendimento e Serviço de Controle de Infecção Hospitalar, o movimento aumentou desde a última segunda-feira, quando a unidade registrou o maior volume de atendimento na semana no pronto atendimento. Segundo o hospital, o aumento da demanda geralmente é maior às segundas, entretanto, nesta última foi “muito maior, em função do retorno das pessoas das festas de final de ano, a maioria com sintomas de síndrome gripal.”

Ainda conforme o hospital, a maior parte da demanda tem ocorrido em função dos sintomas que se confundem entre gripe e Covid-19. “Muitas pessoas buscam o pronto atendimento querendo tirar a dúvida. Mas esta nem sempre é a atitude mais adequada ou confortável para o paciente, pois tem crescido o tempo de espera”, pondera o hospital em nota enviada à Tribuna.

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No Hospital Santa Casa de Misericórdia, a assessoria também confirmou que houve aumento do atendimento por conta de sintomas respiratórios.

‘Aumento de 100%’

No Hospital Unimed Dr. Hugo Borges, a demanda após as festividades de fim de ano aumentou em 100%. De acordo com o diretor técnico da unidade, Cláudio Reiff, já após o Natal houve um volume excessivo de atendimentos no pronto socorro, que registrou um aumento de cerca de 40% nos atendimentos, em função principalmente de gripes e resfriados.

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Nesta semana, conforme o médico, houve uma “explosão de casos e atendimento na cidade” e, na última terça-feira, o aumento no número de atendimentos no pronto socorro do Hospital foi de 100% em relação a duas semanas atrás. “(Neste dia) o hospital fez o maior volume de pronto socorro da sua história, e agora nós observamos, além da gripe, os casos de Covid-19, em famílias e grupos que confraternizaram no Ano Novo. Isso gerou uma corrida aos prontos socorros”.

Apesar disso, ele pondera que a população deve ficar tranquila. “É importante frisar que apesar dessa situação dos prontos socorros estarem tumultuados, não há motivo para pânico da população. Cerca de 90% dos casos (do hospital), ao contrário do que tivemos no ano passado, são casos leves. Isso seguramente é causado pela vacina. É importante frisar que a vacinação completa é fundamental para que a população passe por esse momento”, destaca Cláudio Reiff.

Procura por testes em laboratórios e farmácias também aumentou

Ao longo desta quinta, a Tribuna também ouviu diversos laboratórios e drogarias do município para fazer um diagnóstico da procura por testes em Juiz de Fora. O cenário é unânime, e todos os estabelecimentos procurados afirmaram ter havido aumento na demanda. Até mesmo em locais que não realizam os exames, a procura aumentou nesta semana.

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Segundo o biomédico do Laboratório Carlos Chagas, Elias Bahia, a demanda atual ainda é relacionada às reuniões de Natal, sendo que os encontros do Ano Novo tendem a ter efeitos maiores na próxima semana. Ainda assim, o aumento na procura por testes é evidente, na avaliação dele. “E não são nem pessoas que só estão preocupadas, mas são casos positivos mesmo (que procuram pelos exames)”, constata.

O biomédico afirma que “a maioria dos testes” tem tido resultado positivo, seja para o coronavírus ou para a Influenza. O profissional acredita ter havido aumento de 50% na busca pelos exames. “Foi muito repentino. A gente já esperava um pouco de aumento, mas não a ponto de terminar os testes em distribuidoras, laboratórios e hospitais”, diz Bahia, relatando que alguns locais já não têm estoque. “Acabaram (os testes) para laboratórios e hospitais comprarem. Agora só na próxima semana para chegar importações. No Carlos Chagas ainda tem, porque a gente fez estoque”, explica.

A situação se reflete, também, em drogarias do município. Não é incomum ver consumidores com interesse em comprar testes rápidos fazendo filas nas portas dos estabelecimentos. Em uma unidade da Drogaria Araújo contatada pela reportagem, foi relatado que o responsável pelo setor de exames não poderia atender a Tribuna justamente porque já havia uma fila de pessoas à espera da realização dos testes.

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Na Drogaria Pacheco localizada na Rua Marechal Deodoro, no Centro, o crescimento na procura traz preocupação em relação ao estoque. “Ontem (quarta-feira) chegou a acabar (o estoque de testes). Hoje (quinta), chegou uma nova remessa. Nós estamos conseguindo cumprir com a demanda, mas o estoque tem sido bem a conta”, relata Carolina Tavares, funcionária do local.

‘Índice assemelha-se ao auge da pandemia’

Além de realizar os testes, o Lemos Laboratório faz um monitoramento da quantidade de testes realizados e do percentual de resultados positivos para Influenza e coronavírus. No local, durante o mês de dezembro, o cenário apontava maior quantidade de pessoas que testaram positivo para o vírus Influenza, causador da gripe. A cada cem testes, 22 assinalavam a presença da doença, enquanto, o índice era de cinco pessoas positivas para Covid-19 a cada cem testes.

Nesta primeira semana de janeiro, entretanto, a situação se inverteu. De acordo com o laboratório, 30% dos testes de Covid-19 têm assinalado a presença da doença, enquanto o índice é de 5% para a gripe. “A gente estava tendo muitos casos de Influenza em dezembro, explodiu, e, de repente, a Covid voltou a explodir. O índice de 30% é alto, é o que tínhamos no auge da pandemia”, afirma Isabella Barreto, responsável pelo setor de testagem. Em março de 2021, pelo monitoramento do laboratório, 28% dos testes deram positivo para Covid.

Segundo Isabella, o aumento no percentual de testes positivos ocorre simultaneamente ao crescimento da procura por testes. Entre segunda e quarta-feira, 498 exames foram processados pelo laboratório, com crescimento contínuo ao longo dos dias: 91 testes na segunda, 187 na terça-feira e 220 na quarta. Os três primeiros dias já superam o total de exames realizados na semana anterior, o que resulta em filas na porta do local, de acordo com a funcionária.

Outra observação feita pela funcionária do Lemos Laboratório trata do perfil de contaminação. Atualmente, grupos inteiros de familiares ou amigos estão se contaminando simultaneamente, o que pode ser reflexo da circulação da variante Ômicron. “Várias pessoas relatam que passaram o Natal, tinha uma pessoa assintomática (na reunião familiar) e toda a família foi contaminada. Pelo que eu tenho observado, a variante está se comprovando mais sensível”, constata Isabella.

Demanda acompanha aumento de casos de Covid-19

O boletim epidemiológico da Prefeitura registrou, na quarta-feira (5), 139 novos casos confirmados de Covid-19. Considerando as duas últimas semanas, a média móvel diária atingiu o patamar de 19,43, o que representa um aumento de 867,86% se comparado com o período anterior. Este dado, no entanto, pode estar impactado por um acúmulo de casos que ainda não tinham sido contabilizados, de acordo com a Prefeitura.

A PJF afirma que “em função da instabilidade do sistema nos últimos dias, muitos casos confirmados de Covid-19 foram registrados no dia 5 de janeiro”. Mesmo com esse aumento, não houve alteração no número de mortes, contabilizando um óbito em 24 horas.

De acordo com as informações disponibilizadas pela Secretaria de Saúde, a UTI SUS estava 77,91% ocupada na data; a UTI Covid SUS, 60%; a UTI privada estava com 78,47% de ocupação; e a enfermaria Covid-SUS tinha 39,51% de ocupação na quarta-feira. No total, contabilizava-se uma ocupação geral de UTI em 78,18%. Este dado considera os 35 leitos em funcionamento, já que 16 foram desmobilizados na última semana.

Suspeitas de flurona

Além dos casos de Covid-19, Juiz de Fora já registra cinco notificações suspeitas de dupla infecção pelo coronavírus e pelo Influenza, a chamada flurona. De acordo com a Secretaria de Saúde da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF), as notificações foram enviadas à Vigilância Epidemiológica por um laboratório privado, e as investigações epidemiológicas estão em andamento. Todas as suspeitas foram identificadas esta semana na cidade. A Secretaria de Saúde não informou detalhes sobre o estado de saúde dos pacientes.

A Tribuna entrou em contato com a Secretaria de Saúde da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) e questionou sobre as possíveis medidas para tentar conter o avanço de novos casos de gripe e Covid-19, além da possibilidade de ampliação da testagem na cidade. A pasta municipal não retornou os questionamentos feitos até a publicação desta matéria.

Estado alerta para necessidade de aumento de testagem

Até o momento, Juiz de Fora confirmou apenas dois casos de contaminação pela variante Ômicron no município. Entretanto, outras cidades brasileiras registram surtos de Covid-19 relacionados com a nova cepa, assim como aumento de casos de pessoas com síndromes respiratórias, envolvendo também Influenza.

A situação já desperta a atenção da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), que alerta para a importância de conseguir aumentar a testagem também pelo sistema público de saúde. “Todo paciente com síndrome gripal deve ser testado, o protocolo define isso. Nós vamos aumentar a distribuição de testes e vamos orientar aos municípios pela maior eficiência na testagem de sintomáticos. Vamos orientar também que esses testes fiquem mais acessíveis para o cidadão, que nem sempre quer ir ao posto de saúde para se testar. Que seja na praça da cidade, ou na rodoviária. Estamos discutindo como fazer isso com os municípios”, afirmou o titular da pasta, Fábio Baccheretti, em coletiva à imprensa realizada nesta quarta.

Busca por atendimento médico deve ocorrer em casos de sintomas intensos

O infectologista Marcos Moura orienta que a busca por atendimento médico deve ocorrer em casos de sintomas gripais intensos. “Se a pessoa tiver febre alta, muito cansaço, falta de ar e tosse intensa, ela tem que procurar um médico, que vai fazer a avaliação e, inclusive, as notificações. Ele vai classificá-la dentro dos quadros gripais e fazer um acompanhamento”, explica. Conforme Moura, os sintomas de gripe e de Covid-19 são bem similares. Quando o quadro é gripal, contudo, os sintomas duram, em média, sete dias. Nesse período, o médico orienta o repouso e o isolamento, para que o paciente evite transmitir o vírus para outras pessoas.

Em casos de dupla infecção, pelo coronavírus e pelo Influenza, o médico analisa que por volta do quarto dia de incubação do segundo vírus a acometer a pessoa, os sintomas se associam, o que pode deixar o paciente mais debilitado. Entretanto, não necessariamente vai ser um caso grave. “Principalmente entre as pessoas vacinadas contra a Covid-19, o quadro tende a ser mais brando”, analisa.
Os casos em que deve haver mais atenção são relacionados aos pacientes pertencentes aos grupos de risco, pessoas com comorbidades em geral, idosos e gestantes.

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