Mais de 12 mil candidatos se inscreveram para realizar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em Juiz de Fora, de acordo com informações do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). No primeiro dia de provas, que acontece neste domingo (5), além da redação, os participantes respondem questões objetivas das áreas de linguagens e de ciências humanas. O segundo dia do exame está agendado para a próxima semana, no dia 12 de novembro. As provas acontecem em meio às discussões sobre possíveis alterações no exame, por conta do processo de implementação do Novo Ensino Médio, que teve início no ano passado.
O Enem é composto por 180 questões no total, sendo 45 para cada área do conhecimento: Linguagens, códigos e suas tecnologias; Ciências humanas e suas tecnologias; Ciências da natureza e suas tecnologias; e Matemática e suas tecnologias. Além das provas objetivas, o exame também conta com a redação de um texto dissertativo-argumentativo a partir de uma situação-problema.
A abertura dos portões para realização do exame acontece ao meio-dia. Os candidatos têm até 13h para se apresentarem na porta da sala de provas para os procedimentos de identificação, quando os portões se fecham. Às 13h30, ocorre o início das provas. O participante deve levar um documento de identificação válido, sob pena de ser impedido de realizar o exame. As provas acontecem até às 19h no primeiro domingo e até 18h30 no segundo.
Os gabaritos oficiais das provas objetivas serão divulgados no portal do Inep, assim como os Cadernos de Questões, no dia 24 de novembro. A previsão é que os resultados individuais sejam divulgados em 16 de janeiro de 2024.
Aumento no número de inscrições
O número de inscritos no município, de 12.311, representa aumento de 16% em comparação com o ano passado (10.552). Entretanto, permanece abaixo do que foi registrado em 2020, com 19.350 inscritos.
Em todo o Brasil, são mais de 3,9 milhões de candidatos. Conforme o Inep, houve um avanço no número de inscrições de 13,1%, em relação a 2022, quando foram formalizadas 3,4 milhões de inscrições. No total, são 9.399 locais de prova e 132.456 salas de aplicação, em 1.750 municípios, nas 27 unidades da Federação. Já em Minas Gerais, o número de participantes supera 358 mil.
Porta de entrada para universidades
O Enem avalia o desempenho escolar dos estudantes ao término da educação básica, tendo se tornado a principal porta de entrada para a educação superior no Brasil, por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) e de iniciativas como o Programa Universidade para Todos (Prouni). Além disso, o exame também serve de parâmetro para acesso a auxílios governamentais, como o proporcionado pelo Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).
Instituições portuguesas que possuem convênio com o Inep também aceitam as notas do exame em seus processos seletivos. Conforme o Instituto, os acordos garantem acesso facilitado às notas dos estudantes brasileiros interessados em cursar a educação superior em Portugal.
Novo Enem é adiado após críticas a mudanças no Ensino Médio
Em 2017, o Brasil aprovou o chamado Novo Ensino Médio, que começou a ser implementado no ano passado. Com a proposta de um novo “currículo”, a ideia era que o Enem também sofresse alterações para se adaptar. Entretanto, o ministro da Educação, Camilo Santana, apontou que um novo modelo do exame deve começar a ser aplicado apenas a partir de 2025. Isto porque o Novo Ensino Médio vem sofrendo uma série de críticas, o que levou o Governo federal a rediscutir o projeto, conforme informações da Agência Brasil.
Além de ser um acesso ao Ensino Superior, o Enem também funciona como um diagnóstico do Ensino Médio, como lembrado por Rafaela Reis, professora do Observatório do Ensino Médio, vinculado à Faculdade de Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora (Faced-UFJF). Sendo assim, com uma mudança na forma de ensino, é preciso também reorganizar o sistema de avaliação.
Havia uma proposta de o Enem ser dividido em duas etapas, uma tendo como referência a formação geral básica e outra que seria baseada nos itinerários formativos, de acordo com a escolha da área que o estudante pretende seguir. A mudança havia sido apresentada em 2022, mas não saiu do papel. Como apontado por Rafaela, essa proposta em si já demonstrava algumas questões. Uma delas está ligada ao itinerário formativo, desenvolvido de formas diferentes em cada estado e município, por tratar-se de uma formação “à parte”, em que o estudante escolherá a partir de suas preferências e intenções de carreira.
“Se não há um padrão, como que eu avalio?”, questiona. “Na minha opinião, o Enem não deve se adaptar a esse novo currículo. Foi uma decisão acertada manter o Enem cobrando apenas a formação geral básica, porque é isso que conseguimos, de fato, dizer que, em tese, todos os estudantes do ensino médio brasileiro estão tendo acesso.”
Defasagem
Por outro lado, o Novo Ensino Médio já começou a ser aplicado. Em Juiz de Fora, por exemplo, a Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais informou que o novo formato está em prática em 35 escolas da rede de ensino estadual no município, contemplando cerca de 10.200 estudantes matriculados no ensino médio e Educação de Jovens e Adultos (EJA).
Considerando que toda mudança requer um tempo para adaptação, é possível que a edição de 2023 apresente defasagens nos conhecimentos exigidos pela formação geral básica, de acordo com Rafaela. O Novo Ensino Médio conta com carga horária de 1.800 horas para as disciplinas obrigatórias da Base Nacional Comum Curricular e de 1.200 para os itinerários formativos, totalizando 3 mil horas ao longo dos três anos do ensino médio. Antes, a carga horária era de 2.400 horas para a base comum.
Além da redução na formação geral básica, os itinerários formativos têm exigido que os professores ministrem disciplinas das quais não possuem conhecimento, avalia a especialista. “Os professores estão tendo que parar a vida para trabalhar um conteúdo, o qual eles não foram formados, e que não há um acúmulo de conhecimento científico a respeito. Então, com certeza, haverá defasagem de aprendizagem, mas, obviamente, é uma defasagem muito maior para os estudantes das escolas públicas brasileiras”, diz. “Eles compõem 85% dos estudantes do ensino médio brasileiro. Com isso, o cenário que já é de grande desigualdade acaba sempre se intensificando para quem vem do setor público.”
Há também os efeitos da pandemia da Covid-19 que podem, de certa forma, influenciar na preparação para a prova e no momento da avaliação. De acordo com a professora da Faced-UFJF, houve uma diferença entre as retomadas das aulas e as dificuldades de acesso às tecnologias para o ensino on-line, mas, além disso, existem também questões psicológicas que vêm afetando os jovens.
“Tão logo voltamos aos períodos presenciais, eram muitos os relatos de aumento da violência. Os estudantes voltaram muito mais ansiosos, mais violentos, sem conseguir ficar dentro de uma sala de aula durante todo o tempo, muito mais dispersos. Há um efeito psicológico muito grande que impacta também na maneira como eles estão aprendendo no período presencial pós-pandemia. É inevitável que seja uma geração que vai sofrer muitas perdas no termo de acesso ao conhecimento.”
Como lembrado por Rafaela, o Enem em si é uma prova extensa. Desta forma, as dificuldades de concentração que têm sido vistas nas salas de aula podem, também, se manifestar durante a realização do exame.
Leia mais matérias de Juiz de Fora aqui.
Governo federal apresenta novo PL do Ensino Médio
No último dia 24, o Governo federal enviou ao Congresso Nacional um novo projeto de lei (PL) com diretrizes de reestruturação da Política Nacional do Ensino Médio. O texto altera a Lei 9.394/1996, de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, e revoga parcialmente a Lei 13.415/17, que estabeleceu o Novo Ensino Médio.
De acordo com o Ministério da Educação (MEC), o teto de 1.800 horas da carga horária da Formação Geral Básica teria fragilizado a formação dos estudantes. Desta forma, o PL propõe a retomada do mínimo de 2.400 horas para quem cursar o ensino médio sem a integração com um curso técnico. Em relação à redução da carga horária das disciplinas que faziam parte do ensino médio, como sociologia, filosofia e artes, entre outras, o texto prevê a retomada de todas as disciplinas obrigatórias, incluindo a língua espanhola.
Conforme a proposta, os Itinerários Formativos e introdução dos Percursos de Aprofundamento e Integração de Estudos também devem ser revogados na forma de quatro arranjos interdisciplinares, combinando ao menos três áreas do conhecimento. Pelo PL, cada escola deverá ofertar, no mínimo, dois percursos de aprofundamento e integração de estudos até o início do ano letivo de 2025.
O novo PL do Governo federal contou com a contribuição de diferentes representações da sociedade, entre elas, a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), que encaminhou nota técnica com as críticas ao Novo Ensino Médio e os apontamentos do que deveria ser alterado. De acordo com Hugo Silva, diretor de Escolas Técnicas da Ubes, a entidade vem, há anos, lutando pela revogação do Novo Ensino Médio. Como lembrado, em 2016, houve a “primavera secundarista”, com ocupação das escolas na tentativa de barrar a implementação do projeto.
Entre as pautas defendidas pela Ubes e inclusas no novo PL está a retomada do mínimo de 2.400 horas para as disciplinas obrigatórias e o fim dos itinerários informativos. “Nós acreditamos que, para ter um Ensino Médio de mais qualidade no Brasil, precisamos avançar nessas pautas”, diz Hugo. “Nós temos nos organizado para participar (das discussões em Brasília) com nossos diretores e presidentes para apresentar nossa opinião sobre esse projeto de lei e garantir que ele passe.”
Mais acesso por estudantes de escolas públicas
Conforme o representante da Ubes, o Novo Ensino Médio pode resultar na queda da entrada de estudantes de escolas públicas no Ensino Superior. Isto porque se houve redução na carga horária de disciplinas cobradas no Enem, não há uma preparação suficiente para realização do exame, avalia.
Na percepção de Hugo, para além das discussões entre adaptar o Enem ao Novo Ensino Médio ou não, o exame em si já deveria apresentar mudanças para que mais estudantes de escolas públicas pudessem ter acesso ao Ensino Superior.
“As últimas edições do Enem tiveram o menor número de inscritos em toda a história do exame. Foram avaliações elitizadas. Os estudantes de escola pública pouco conseguiam se inscrever por conta da pandemia, mas também por conta da falta de inclusão digital, que ainda é um problema do nosso país”, explica. “(É preciso) fazer uma divulgação maior, por exemplo. Fazer um ponto de apoio para a galera conseguir se inscrever e, para além disso, promover o debate também sobre a ampliação de vagas para quem vem de escola pública. Para nós, é um tema muito caro, porque o Enem é a principal porta de acesso ao Ensino Superior e ele não pode ser restrito apenas aos estudantes de ensino privado ou aos que conseguem ter acesso à internet.”