A segunda etapa do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2019 acontecerá no próximo domingo (10). Nesse segundo dia de prova, serão aplicadas questões de Ciências da Natureza e Ciências Exatas – áreas que, tradicionalmente, de acordo com especialistas, assustam parte dos candidatos por envolverem questões de cálculo e raciocínio lógico, e devido ao tempo que se tem para resolvê-las. Diretor-geral do Colégio e Curso Nota 10, o professor de matemática e física Luís Cláudio Frutuoso Corrêa pondera que, na sua avaliação, a área de Linguagens é a mais “vilã” do exame. “A (o peso da) nota de Linguagens, historicamente, é baixa, e as pessoas não se atentam para isso. Geralmente, fazem cursos extras de matemática e física, mas deixam linguagens de lado. Por outro lado, a prova de exatas assusta, sobretudo, pela questão do tempo, que é apertado. Por exemplo, fazer uma prova de matemática, com 45 questões em uma média de duas horas é complexo.”
Apesar disso, o professor acredita que, assim como as outras áreas, a de Exatas e Natureza não terão mudanças significativas, uma vez que as questões não foram elaboradas recentemente; elas são preparadas com antecedência de anos para poderem ser previamente testadas. Por esse motivo, o candidato conhecedor da estrutura da prova e familiarizado com os tipos de questões poderá esperar um prova parecida com as dos anos anteriores. O diretor, portanto, orienta que, durante essa semana, o aluno reveja e mantenha o foco em conteúdos de maior relevância. “O aluno que estuda em um cursinho, por exemplo, terá direcionamento sobre o que estudar, mas de um modo geral, os candidatos podem, na área de exatas, rever conteúdos como porcentagem, proporção, geometria plana, regra de três, em que as chances de cair é muito alta.”
Luís ainda sugere que os estudantes busquem, na internet, pelo termo “Raio-X do Enem”. Com a pesquisa, o candidato terá uma sugestão de portais – é preciso selecionar um site confiável – com análises das questões e conteúdos que mais caíram no Enem desde a sua modificação em 2009. “Números complexos, somas de arcos de trigonometria, são conteúdos, por exemplo, que nunca caíram. Pode ser que caia? Sim, mas se cair será uma questão. Por isso, a minha dica é que o candidato não se preocupe em estudar conteúdo muito complexo ou que nunca caiu na prova; ele precisa focar nos que caem todos os anos, que dificilmente mudarão. O ideal é que mantenham a rotina de estudos que já tinham e acreditem no trabalho feito durante todo o ano e também entendam como funciona o sistema de correção da prova.”
Experiência contribui para diminuir a tensão
A aplicação das provas de Linguagens, Ciências Humanas e Redação aconteceu no último domingo (3). Para o candidato que acredita não ter realizado uma prova satisfatória, a psicopedagoga Clara Duarte orienta a não desistir do segundo dia do exame. “É preciso ter a ciência de que, mesmo que o aluno tenha a sensação de ter ido muito mal, ele precisar fazer as outras disciplinas. No segundo dia, ele estará mais calmo, mais confiante, já vai estar em um local e em uma sala que já conhece e isso dá mais confiança. Normalmente, as pessoas se saem melhor na segunda etapa porque a angústia do que é desconhecido, que atrapalha no primeiro dia de prova, é menor”, analisa. Além disso, principalmente para os candidatos que prestam o Enem pela primeira vez, comparecer na segunda etapa possibilita que o candidato tenha compreensão total das provas, casos ele precise fazer novamente o exame.
Durante essa semana, a psicopedagoga também instrui o candidato a continuar estudando todos os dias, mas sem fórmulas “mágicas”. “Eu acho que é manter a rotina que o candidato se habituou a ter e evitar muitas distrações. O diferente, nesse momento, pode piorar ao invés de ajudar”.
Sistema de correção
Citado pelo diretor Luís Cláudio como um conceito a ser compreendido pelo candidato, o método de avaliação adotado pelo Enem, a Teoria de Resposta ao Item (TRI), é um conjunto de modelagens estatísticas, aplicadas por programas computacionais, que busca identificar a aptidão do candidato em relação aos conteúdos ou a uma área do conhecimento. Pesquisador na área de linguagens e especialista na área de avaliação, o professor Higor Pifano explica que a teoria pretende avaliar o quê e como o estudante compreende. “A TRI não quer simplesmente verificar o que se sabe ou o que não sabe, mas como se constrói esse conhecimento. Não é só um dado quantitativo, mas qualitativo do acerto; são esses dados que a teoria quer observar. Para isso, os resultados são colocados em uma escala de proficiência e que, no caso do Enem, vai de zero a mil”.
O professor explica que, a partir dessa modelagem, é possível verificar o padrão de desempenho de cada candidato. “Na prova, você tem questões de diferentes padrões de dificuldade, e isso permite distinguir os estudantes dos que sabem dos que não sabem e, dentro disso, aqueles que sabem mais dos que sabem menos, porque se tem questões mais fáceis e mais difíceis. Por essa modelagem, também é possível calcular a probabilidade dessa resposta ser ao acaso, ou o famoso chute”. Isso é possível, esclarece Higor, porque a teoria permite verificar o padrão de resposta da pessoa. “Se o aluno acerta muitas questões consideradas fáceis e acerta uma difícil, a probabilidade de ser uma resposta ao acaso é maior do que ele realmente saber aquilo. Ele pode, sim, saber aquela resposta, o teoria não desconsidera essa resposta em nenhum momento, mas dentro da modelagem estatística é mais provável de ter sido um chute, e esse padrão é levado em conta. Todas as questões têm uma valoração igual, mas que é agregada a outros valores e indicativos”.
Para o especialista, o cálculo da nota do Enem é interessante por levar em conta o desempenho do candidato em todo o exame. Apesar da teoria, Higor pontua que o importante é o estudante fazer o que ele sabe, tem certeza que irá acertar. “Acima de tudo, o aluno tem que fazer o que ele sabe fazer e priorizar o que ele acha mais fácil. Porque a TRI vai olhar a coerência das respostas. Não é interessante que ele foque somente nas difíceis e deixe de responder ou acertar as fáceis, por exemplo. É importante ser coerente e fazer as que ele consegue fazer, sem priorizar somente um padrão. Tem que ser coerente com o conhecimento dele.”