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Período de chuvas traz preocupações sobre drenagem urbana

destacada by Olavo
Rua Santos Dumont Espírito Santo Centro by Olavo Prazeres
Na Rua Santos Dumont, esquina com a Rua espírito Santo, estrutura traz perigo para pedestres (Foto: Olavo Prazeres)
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Com a chegada de novo período de chuvas, cresce a demanda por manutenção dos bueiros e bocas de lobo em Juiz de Fora. Nas últimas semanas, a Tribuna percorreu a cidade e recebeu relatos de moradores sobre a apreensão acerca da possibilidade de novas intercorrências e sobre insuficiência das ações de consertos coordenadas pelo Executivo. A administração pública, no entanto, destacou a importância da colaboração da população para manter o funcionamento das estruturas de escoamento e procura soluções para maior durabilidade dos bueiros.

Durante os dez primeiros meses deste ano, 16 casos de problemas em bocas de lobo foram notificados por moradores e divulgados pela Tribuna através da coluna “Vida Urbana”. Dificuldades no trânsito de pedestres causados pelas estruturas entupidas, danificadas ou pela falta de tampa nos bueiros estiveram entre os relatos. Com a chegada das fortes chuvas que atingem a região, desde a segunda quinzena de outubro, aumentaram as denúncias de insuficiência na drenagem das águas em diversas regiões.

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No Bairro Benfica, na Zona Norte, o leitor Felype Araújo, morador da Rua Paulo Garcia, reclamou de alagamento causado pelas chuvas da tarde da última terça-feira (29). “Toda vez que chove, a rua inunda. Isso porque choveu uns 20 minutos apenas, acho que se chover por mais tempo, começa a entrar na casa do pessoal.”

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Estrutura quebrada e coberta pela vegetação foi encontrada na Av. Brasil, próximo ao Bairro JK (Foto: Olavo Prazeres)

Também na Zona Norte, mas no Bairro Nova Era, moradores registraram as consequências da chuva nas proximidades da Escola Municipal Cecília Meirelles, localizada na Rua João Evangelista dos Santos. Durante as pancadas tradicionais desta época do ano, a via fica intransitável devido ao entupimento dos canais de saída de água. “Qualquer chuva um pouco mais forte, é impossível passar ali pela escola. Para buscar as crianças, os pais têm que abrir a porta, pegar os meninos e colocar para dentro”, conta o presidente da associação de moradores do bairro, Gerson Pereira de Oliveira, que afirmou não se lembrar da última vez que foi realizada uma operação de limpeza nos bueiros da região.

Já o presidente da Associação de Moradores do Bairro Vila Esperança II, também na região Norte, Manoel Gonçalves, afirmou que a localidade está em situação de abandono pelos órgãos municipais. Liderando a associação há cinco meses, Gonçalves diz que todas as bocas de lobo da região mais baixa do bairro estão entupidas, já tendo realizado diversos pedidos de manutenção. “Tem uns quatro meses que eles fizeram alguma intervenção em uma rua, mas ainda tem vários outros pontos com problema”, aponta.

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Prejuízos ainda estão presentes

Não apenas as bocas de lobo, mas toda a rede de drenagem preocupa a população em diversos bairros. Moradora do Bairro Nossa Senhora Aparecida, Zona Leste, Lucilene da Silva disse que, no fim do ano passado, entre os dias 24 e 26 de dezembro, as fortes precipitações causaram vários pontos de alagamentos e diversas moradias, incluindo a dela, foram atingidas. “Durante a tarde, minha casa encheu d’água e eu perdi móveis, perdi tudo.” Após dez meses, as perdas ainda não foram recuperadas. “Minha geladeira deu problema, tive que mandar arrumar, e o resto eu perdi tudo: cama, sofá, armário, guarda-roupas, mesinha que ficava na cozinha e os alimentos estocados.”

A situação obrigou Lucilene a sair de casa, permanecendo em moradia oferecida pela Prefeitura até maio deste ano, quando fez um empréstimo para conseguir readquirir os móveis e, enfim, retornar para a casa na Rua Nossa Senhora Aparecida. “Nós estamos com medo com essa chuva agora. Ficamos sem saber se vai entrar (água em casa) ou se não vai, porque eles vieram arrumar em dezembro, mas depois entrou chuva novamente”, afirma a moradora, se referindo a chuvas em maio que resultaram em água dentro de residências da região, ainda que em menor volume em relação ao acontecimento do ano passado, o que resultou em nova intervenção da Prefeitura. “A minha sorte foi que não entrou no restante da casa, senão eu teria perdido todos os móveis de novo”, lembra.

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Córrego

No Bairro Mariano Procópio, Zona Nordeste, também fortemente atingido pelas chuvas do final de 2018, operações de limpezas foram realizadas após as intercorrências. As preocupações dos moradores consistem na capacidade do córrego que passa pelo bairro absorver a água da chuva. A galeria é proveniente da Cidade Alta, e parte da estrutura foi canalizada recentemente em prosseguimento das obras da BR-440. Segundo o morador Cláudio Costa, associada a esta preocupação está a falta de conscientização. “A população não se ajuda, coloca o lixo em horário errado, em obras eles deixam o resto na rua e lava aquele cimento puxando para o bueiro. Aquilo vai virando uma crosta”.

Manutenções são feitas conforme a demanda

Também no bairro JK, boca de lobo foi encontrada sem a tampa e preenchimento com lixo (Foto: Olavo Prazeres)

Em entrevista à Tribuna, o gerente do departamento de Operação e Manutenção de Obras da Secretaria de Obras, Domingos Gouvêa, explicou que a pasta trabalha de acordo com a demanda que é registrada pela população nos canais de comunicação, em sua maioria feita através da plataforma Colab. “No caso de limpeza em boca de lobo, a gente entende que os atendimentos por região é mais produtivo do que atender pontualmente. Se não existir um pedido urgente, a equipe atende quando estiver na região”, explica Gouvêa.

De acordo com o gerente, a durabilidade das estruturas varia conforme a localidade. As grades são feitas para suportar o peso de pessoas, mas um caminhão estacionado sobre a estrutura, por exemplo, pode causar as danificações. Uma alternativa encontrada pela pasta foi o desenvolvimento de grades de concreto, inicialmente implantadas no Calçadão da Rua Halfeld, mas que deverão ser instaladas em outras partes da região central de Juiz de Fora por ter mais movimentação de pedestres. “As grades de concreto têm resistência maior, nós fizemos uma peça com resistência maior para não quebrar com tanta facilidade”, afirma.

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Em relação às regiões mais afetadas pelas chuvas de 2018, a expectativa é que os casos mais sérios de enchentes não se repitam após os trabalhos de manutenção realizados pela Secretaria de Obras. “Hoje, o sistema está totalmente limpo, está funcionando adequadamente. Então, não há motivo para ter outros alagamentos daquele tipo. Independente das chuvas que vierem”, projeta.

Apoio da população

Para o professor da Faculdade de Engenharia Civil da UFJF, Fabiano Cesar Tosetti Leal, as dificuldades de drenagem em ambiente urbano podem ter diferentes origens, mas o crescimento populacional não acompanhado pela infraestrutura adequada e a falta de educação ambiental da sociedade são dois fatores que permeiam a maior parte dos problemas. “O lançamento de lixo na rua, a colocação do lixo para coleta em horário inadequado, isso tudo pode levar a problemas da obstrução da boca de lobo e nos sistemas de drenagem como um todo”, analisa.

A crise financeira, segundo o pesquisador, é um elemento que também limita a área de ação do poder público, pois, para realizar uma intervenção mais complexa nos sistemas de drenagem, é necessário um grande investimento financeiro. A alternativa mais eficiente e relativamente barata garantidora de retorno em curto prazo, para Leal, é a conscientização da população local. “A gente deve educar a população a práticas mais adequadas com relação ao descarte de lixo, com relação ao lançamento de água pluvial da residência na sarjeta e não no coletor de esgoto. Isso tudo traz benefício para toda a população do local.”

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