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Coletivo de mulheres repudia nome de festa universitária em Juiz de Fora

Estudantes da medicina negam duplo sentido no uso da palavra "dopamina" e argumentam que cartaz da festa mostra neurônios, reforçando a tese do sentido literal do termo (Foto: Reprodução/Facebook)
Conforme os estudantes, na arte associada à divulgação da festa, buscou-se colocar em destaque a fórmula química do neurotransmissor dopamina, copos de cerveja em alusão ao oferecimento de cerveja liberada no evento e a imagem de MC Marcelly, atração principal da festa (Foto: Reprodução/Facebook)
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Atualizada às 21h01

O Coletivo Maria Maria – Mulheres em Movimento, núcleo local da Marcha Mundial das Mulheres, divulgou nota de repúdio ao título atribuído a uma festa universitária prevista para acontecer no final do mês em Juiz de Fora. Conforme o coletivo, o nome “Dopamina”, dado ao evento, pode ser interpretado como um jogo de palavras entre o sentido real – o de um neurotransmissor – e o ato de dopar uma mulher numa festa. O evento é organizado pela turma 108 da Faculdade de Medicina da UFJF, que negou a intenção de fazer do nome da festa um trocadilho.

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“Não podemos afirmar qual foi a intenção dos organizadores ao criarem tal nome, porém ele dá margem para interpretações que ultrapassam o significado químico da palavra. Logo, não importa se o trocadilho não foi intencional, o que é de fato importante é que esse tipo de nome, sendo usado para uma festa, permite tal interpretação. Não podemos admitir tal ambiguidade quando um dos sentidos possíveis diz respeito ao incentivo de posturas como drogar e abusar sexualmente de uma mulher em uma festa ou em qualquer lugar. Compreendemos que é irrefutável que o contexto de utilização da palavra – uma festa em que é comum o uso abundante de bebidas alcoólicas – desencadeia interpretações como esta na cabeça das pessoas, principalmente considerando a sociedade machista em que vivemos”, diz a nota do Coletivo Maria Maria.

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Conforme uma das integrantes do movimento, Laiz Perrut, o coletivo feminista tem lutado contra esse tipo de nome em eventos, contra cartazes com duplo sentido e até contra festas que liberam a entrada gratuita de mulheres, enquanto cobram valores altos dos homens. Segundo Laiz, a prática sugere a mercantilização do corpo da mulher. “Nossa nota de repúdio não é contra a festa em si, mas contra o nome. Sabemos de diversos casos de meninas que estão sendo dopadas na noite. É uma coisa tão naturalizada que as pessoas nem pensam muito que podem estar influenciando essa atitude”.

Em nota enviada à Tribuna na noite desta quinta-feira, a comissão de formatura da Medicina 108 UFJF e organizadores da festa reiteraram que repudiam qualquer tipo de violência sexual e sua associação ao nome da festa. “Por tradição, sempre escolhemos os nomes em alusão aos assuntos estudados no período, e, no atual, procuramos algo associado ao sistema nervoso e seu funcionamento. Dopamina é o nome de um neurotransmissor, que são substâncias químicas produzidas pelos neurônios e têm a função de enviar informações a outras células. Podem também estimular a continuidade de um impulso ou efetuar a reação final no órgão. Esse neurotransmissor desempenha importantes funções no organismo. A ação principal da Dopamina é a sensação de prazer. No decorrer de circunstâncias agradáveis, a Dopamina é liberada, desencadeando impulsos nervosos, que levam a uma sensação de prazer e bem estar. Sensações essas que pretendemos proporcionar no evento. Dessa forma, se mostra lógica a escolha pelo nome. Na arte associada à divulgação da festa, buscamos colocar em destaque a fórmula química do neurotransmissor, copos de cerveja em alusão ao oferecimento de cerveja liberada no evento e a imagem de MC Marcelly, atração principal da festa.”

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