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Alergia a ovo é a segunda maior dentre as alimentares

ovo pexels
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Pesquisas da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai) indicam que cerca de 30% da população têm alguma alergia em geral, sendo 20% em crianças. Em relação a alergias alimentares, ainda conforme a instituição, não há estatísticas oficiais no Brasil. Porém, a prevalência parece se assemelhar à literatura internacional, que mostra por volta de 8% das crianças, com até 2 anos de idade, e 2% dos adultos com algum tipo dessa condição. Além disso, dentro dessa relação, a alergia a ovo é a segunda mais recorrente, perdendo apenas para o leite.

João Alvim de Albuquerque, de 1 ano e 10 meses, sofre com alergia a ovo. Segundo sua mãe, a vendedora Keli Alvim, ele teve os primeiros sintomas na introdução alimentar, com 7 meses de vida. “Fizemos uma viagem e, lá, João comeu ovo no café da manhã. Fomos para um passeio e ele vomitou bastante”, relata. Na volta da viagem, Keli levou João ao alergista. Os exames deram uma alteração baixa para ovo, de modo que não foi feita nenhuma restrição severa. Posteriormente, o menino apresentou um quadro de dermatite. Um novo exame mostrou reação “altíssima” para ovo. “Desde quando tiramos 100% de qualquer alimento que pudesse conter ovos, ele está sem dermatite”, explica a mãe.

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Com as restrições, Keli precisa pesquisar com atenção ao comprar alimentos. “Sempre olhamos os rótulos dos industrializados, porque produtos que não imaginava podem conter ovo. Na rua, por exemplo, quando levo comida ou se precisar comprar, a escolha é sempre por frutas. Não compro nada em padaria também. O biscoito de polvilho normalmente não tem a restrição, mas se usar os mesmos utensílios de outro produto com ovo, dá reação.”

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Keli Alvim, Bernardo Albuquerque e o pequeno João, que teve alergia a ovo detectada após um quadro de dermatite (Foto: Arquivo pessoal)

Resposta ‘exagerada’ do sistema de defesa

A coordenadora do Departamento Científico de Alergia Alimentar da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia, Lucila Camargo Lopes de Oliveira, explica que a alergia é uma resposta de hipersensibilidade do sistema de defesa do organismo. “Reações ao ovo são, na maioria das vezes, imediatas. Acontecem de minutos até duas horas. Os sintomas podem ser variáveis: urticária, placas vermelhas com coceira, edemas, inchaço, dor de barriga, diarreia, vômito e outros. Em casos mais sérios, há o risco de anafilaxia – reação alérgica grave -, geralmente acompanhada de sintomas respiratórios.”

Lucila esclarece, ainda, que a alergia alimentar é muito mais frequente em crianças e é raro chegar à fase adulta com a condição ou desenvolvê-la. Segundo ela, as pessoas têm um mecanismo de tolerância ao alimento. Quando surge na fase infantil, é porque não conseguiu desenvolver. Já na fase adulta, no caso de surgimento, há uma quebra nesse mecanismo. O motivo para isso ainda não foi descoberto. Dentre as possibilidades relacionadas ao crescimento na incidência de alergias em relação às gerações passadas, a coordenadora atribui à genética, aos fatores ambientais, ao consumo de alimentos ultraprocessados, ao maior uso de antibiótico, ao menor contato com a natureza e com microrganismos, entre outros fatores.

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As proteínas mais alergênicas do ovo estão na clara – principalmente a ovalbumina e a ovomucoide -, mas também podem estar na gema – em sua maioria, a alfalivetina -, conforme a doutora. Além disso, no geral, o ovo que mais envolve alergias é o de galinha. Caso a pessoa tenha reações com essa, é comum passar pela mesma situação com o de outras aves também.

Como saber se tem alergia a ovo?

Para a descoberta da condição, Lucila alerta que, geralmente, a medicina depende da exposição ao alimento. “Os exames laboratoriais não conseguem, sem histórico clínico, confirmar um diagnóstico de alergia alimentar. Há a possibilidade de o resultado ser falso negativo ou falso positivo. Vale lembrar que a exposição não necessariamente é oral e que é possível ter manifestações leves, moderadas e graves, varia para cada pessoa”, ressalta.

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Os testes para detectar a alergia a ovo são diversos. Um deles é o exame de sangue, para ver a resposta dos anticorpos. Há também o teste cutâneo de leitura imediata, no qual a proteína do ovo é colocada em contato com o braço do paciente para analisar reações. Por fim, o teste de provocação oral – o padrão ouro do diagnóstico. Ele é realizado em ambiente hospitalar sob supervisão médica, que alimenta a pessoa e busca ver se haverá rejeição da substância. Esse último só é feito quando ainda há dúvida ou para descobrir se a pessoa adquiriu tolerância natural.

A maioria das pessoas que têm alergia a ovo, à medida que envelhece, adquire tolerância natural, sem intervenção médica, apenas com dieta de restrição. Para os que permanecem com a condição, existe a imunoterapia oral, feita em ambiente hospitalar. “Nela, os médicos tentam ‘ensinar’ o sistema imunológico a tolerar o alimento, fazendo os pacientes o consumirem em doses crescentes e repetidamente até fazer o organismo ‘se acostumar’. Se pararem, podem ter uma reação. Entretanto, uma minoria das pessoas consegue adquirir a tolerância verdadeira – comer quanto e quando quiser. Na dúvida, é importante sempre procurar um especialista para ter um diagnóstico confiável e fazer a restrição correta”, recomenda a médica.

Cuidados e restrições

Em relação aos principais cuidados, a questão das vacinas que contêm ovo em sua composição está no topo. A alergista e imunologista Lucila Camargo destaca que a de maior preocupação é a de febre amarela. Nesse caso, é necessário fazer o processo de dessensibilização, realizado por alergistas, para as pessoas que têm alergia a ovo tomarem a vacina protegidas. Conforme a médica, os outros imunizantes não têm quantidade suficiente da substância, então são liberados para os alérgicos.

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Além dos cuidados no âmbito médico, é necessário ter cautela na alimentação. A nutricionista Carolina van Keulen reafirma a importância de ser cauteloso no caso de alergia. “Alimentos que comemos no dia a dia, como macarrão, biscoitos, bolos e massas em geral, além de algumas balas, alguns sorvetes, molhos prontos, maionese, alguns doces e muitos outros (podem conter ovos). É muito importante a pessoa com essa condição ler os ingredientes e conseguir identificar quais são derivados do ovo. Ou então se tiver só a clara, só a gema, albumina, lecitina, vários componentes”, enumera.

Apesar do alto número de alimentos que não devem ser consumidos pelos alérgicos, Carolina afirma que as pessoas podem retirá-los sem sofrer qualquer malefício. A nutricionista destaca que o ovo é um alimento completo e que traz benefícios para o organismo – principalmente por ser fonte de proteína e pela versatilidade -, mas não deixa de lado a possibilidade de usar alimentos à base de vegetais, os veganos. “Há formas de substituir o ovo nas receitas em casa. Geralmente, com alguns alguns grãos: linhaça, chia, proteína de soja. Conseguimos hidratá-los e colocar no papel do ovo. Dessa forma, pode substituir.”

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