O Hemominas de Juiz de Fora irá reduzir em 45% seu horário de funcionamento para receber doação de sangue e cadastro de medula. A partir de 1° de agosto, o atendimento à população será feito em apenas um turno: entre 7h e meio-dia de segunda a sábado. A unidade tem funcionado, até então, das 7h às 17h, nos dias úteis, e das 7h às 11h aos sábados, ou seja, com carga horária de 54 horas semanais. Com a mudança, serão 30 horas por semana para atendimento à população. O cadastro de medula será feito apenas de segunda a sexta, também no período da manhã.
A readequação, segundo a coordenação do Hemocentro de Juiz de Fora, ocorre devido à queda no número de profissionais que trabalham na unidade. Nos últimos anos, ainda conforme a instituição, a perda de servidores se acentuou e nem sempre foi substituída. Em nota encaminhada à Tribuna, a fundação informou que a circunstância “vem trazendo um grande desgaste às equipes, com adoecimento, absenteísmo, etc, levando, ainda, a um aumento de sobrecarga. Nossa atividade não permite erro, pois lidamos com vidas. É nossa obrigação zelar pelo bem-estar dos servidores e pela qualidade dos nossos produtos”. A nota pontuou que não restou alternativa a não ser reduzir o período de atendimento aos doadores.
A medida não trará impactos para os trabalhadores da saúde que atuam no Hemominas em Juiz de Fora, explicou o diretor estadual do SindSaúde de Juiz de Fora, Fabiano Ponciano. Contudo, ele avalia que a situação comprometerá o estoque de sangue e também os hospitais atendidos pelo Hemocentro. “A população doadora de sangue será obrigada a doar no horário estabelecido e, caso caia o número de doadores, quem sofrerá serão os pacientes nos hospitais que precisam de atendimento. Com o horário integral, já passamos aperto para receber doações, inclusive sempre pedindo ajuda da imprensa para divulgação e chamamento de doadores”, criticou. Por outro lado, a coordenação garantiu que tomou medidas para reduzir “os incômodos que a alteração trará”.
Medidas
Sobre as medidas para reduzir o impacto no estoque de sangue e fornecimento aos hospitais, a coordenação do Hemominas esclareceu que irá ampliar a sala de recepção com acréscimo de cadeiras – para poder receber maior número de doadores; criará mais um consultório para triagem clínica e mais um posto de triagem hematológica, além de ampliar, de oito para dez, o número de cadeiras de doação. A média diária de atendimento é de 145 pessoas. No entanto, cerca de 120 doadores efetivamente realizam a doação. Com as medidas citadas, a expectativa é receber até 180 candidatos diariamente, o que, segundo a instituição, deverá resultar em até 150 doações. Em entrevista à Tribuna no mês passado, a chefe do setor de captação da unidade, Lidiane Moura, informou que o número necessário de doações diárias para atender à demanda dos 57 hospitais assistidos em 27 cidades da região é de 160/dia.
A princípio, a coordenação afirmou que está ciente que terá queda no número de candidatos à doação. Contudo, informou que mede a eficiência de suas unidades por meio de um indicador que avalia o nível de atendimento das solicitações de sangue e componentes feitos pelos hospitais conveniados e que esta mudança será monitorada com base neste critério. Além disso, o Hemocentro de Juiz de Fora pretender expandir as coletas externas por meio dos Paces (Posto Avançado de Coleta Externa) de Leopoldina, Muriaé, e com a implantação do Pace em Barbacena. “Na segunda quinzena deste mês, iniciaremos uma segunda coleta no Pace de Leopoldina, e coletas semanais em Cataguases, na Fundação Cristiano Varela. No Pace de Barbacena, provavelmente, será em agosto. Este esforço significará, segundo nossas previsões, algo em torno de 250 a 300 doações de sangue semanais, o que, com certeza, suprirá nossas perdas iniciais”, citou o texto.
Comissão de Saúde envia representação ao Hemominas
Presidida pelo vereador Antônio Aguiar (MDB), a Comissão de Saúde Pública e Bem Estar Social da Câmara Municipal protocolou uma representação, enviada à Fundação Hemominas, em Belo Horizonte, solicitando informações sobre a redução nos horários para a coleta de sangue. De acordo com o texto da representação, o parlamentar questiona qual a fundamentação técnica para que a redução ocorra, tendo em vista que todas as movimentações que buscam estimular a captação de sangue têm sido no sentido contrário, ou seja, com ampliação em horários de funcionamento.
Na avaliação do presidente da Comissão, a medida expõe a população e a saúde pública. “Os serviços públicos têm que ter uma resposta eficaz e contínua à sociedade, principalmente na questão da doação de sangue. A funcionalidade de um hemocentro se baseia em um tripé que visa a criação de estratégias que melhorem a captação, que busquem soluções para que as transfusões não se sobreponham aos processo de doações, e o terceiro ponto diz respeito ao caráter voluntário da doação: o indivíduo que doa não é remunerado, tem o anonimato preservado e é voluntário. Para uma doação voluntária é preciso que a unidade esteja aberta e receptiva e essa medida é o contrário. Isso é um dano à saúde pública e que compromete o estímulo dos voluntários em realizar a doação”. Na opinião do vereador, outras medidas poderiam ter sido avaliadas para tentar solucionar a questão de recursos humanos da unidade, como contratação emergencial pelo Estado ou permutas de profissionais da rede.
Por meio de nota, a direção da Fundação Hemominas informou que a instituição vem se esforçando para a reposição dos servidores e manutenção dos serviços. “Como é de conhecimento geral, a recomposição do quadro de servidores depende de concurso ou processos seletivos, contudo, no momento, a situação financeira do estado de Minas Gerais está contingenciada pelos limites de gasto de pessoal, determinado pela Lei de Responsabilidade Fiscal”, pontuou o texto.