A Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) divulgou, nesta quarta-feira (5), nota de esclarecimento na qual afirma estar tomando medidas para aumentar a segurança no campus e prevenir que casos de discriminação aconteçam. O posicionamento da instituição acontece um mês após o coletivo Descolônia, composto por artistas e alunos negros do Instituto de Artes e Design da UFJF, divulgar um caso de racismo institucional vivenciado pelo pai de uma aluna. Além de instaurar processo de sindicância para apurar o caso, a universidade também estaria adotando medidas para a formação dos servidores. Há menos de uma semana, o coletivo PretAção está recolhendo assinaturas com o objetivo de exigir respostas sobre o caso.
A agressão teria ocorrido no dia 2 de junho, quando o pai de uma aluna do curso de Cinema e Áudio Visual esperava a filha dentro de seu veículo por volta das 22h, próximo ao prédio onde ela estuda. Na ocasião, o homem teria sido abordado por dois seguranças armados, que pediam reforço por rádio e afirmavam que ele estaria tentando roubar o veículo. Ele só teria conseguido sair do carro após a chegada da filha e também teria sido impedido de registrar um boletim de ocorrência. Segundo a universidade, no mesmo dia da formalização da denúncia, a estudante e o pai teriam tido acesso a relatório elaborado pelos seguranças sobre o ocorrido e, desde então, a denúncia estaria sendo apurada pela Pró-reitoria de Infraestrutura e pela Gerência de Segurança da instituição.
Conforme a nota divulgada pela UFJF nesta quarta, além do processo de sindicância, a Diretoria de Ações Afirmativas está criando um curso de formação para a equipe de servidores e terceirizados da área de segurança, com temáticas relacionadas a discriminações de raça, gênero, classe, entre outros. Outra ação seria a realização de um trabalho “articulado e sistemático com a Pró-reitoria de Infraestrutura, com o objetivo de tornar essa formação uma prática permanente das equipes envolvidas”. A terceira e última medida citada no documento seria a criação do Fórum da Diversidade da UFJF, como um espaço de construção e acompanhamento da política de ações afirmativas.
No entanto, o documento não aponta prazo para divulgação do resultado da sindicância. Questionada pela Tribuna, a assessoria de comunicação da instituição informou que o processo corre em sigilo, mas destacou que todos os envolvidos já foram ouvidos. Ainda conforme o órgão, os representantes do Fórum da Diversidade já foram escolhidos, e a previsão é que as reuniões tenham início em agosto.
Coletivo quer realização de fórum
O coletivo PretAção, formado por mulheres negras, está atuando em conjunto com o coletivo Descolônia para dar respaldo jurídico e psicológico às vítimas. A organização lançou, na última semana, uma petição on-line para recolher assinaturas exigindo que a UFJF se posicionasse. Com a divulgação da nota, o coletivo afirma que o reconhecimento da gravidade do caso é um avanço para as pessoas negras que frequentam o campus, mas defende que ainda há questões a serem respondidas.
“Devemos pontuar a importância da convocação da reunião do Fórum de Segurança da Universidade, que, conforme a resolução 21/2016, artigo 2º, incisos II, III e IV, deve acompanhar permanentemente as condições de segurança no campus levando em conta os depoimentos de membros da comunidade e também construir políticas de segurança institucional em bases antirracistas e atentas para a diversidade sexual e de gênero”, afirmou o coletivo à Tribuna. O grupo disse ainda que as demandas não dizem respeito à punição individual dos guardas envolvidos, mas exige que a UFJF “reconheça sua responsabilidade diante do fato e aplique as políticas de segurança previstas em seus documentos.”