O padre Júlio Lancellotti, vigário episcopal para a Pastoral do Povo da Rua da Arquidiocese de São Paulo e pároco da Paróquia São Miguel Arcanjo na capital paulista, irá receber o título de professor doutor Honoris Causa da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). A escolha, que se deu por unanimidade do Conselho Superior (Consu) em outubro, foi feita em razão da relação direta entre a trajetória do padre e os princípios da instituição. Ainda não há data para a cerimônia de entrega do título ao religioso.
Há mais de quatro décadas, Lancellotti é conhecido pela sua luta em favor dos setores vulneráveis da sociedade, atravessando diversos períodos históricos nacionais, incluindo a Ditadura Militar (1964-1985), a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) em 1990 e o desenvolvimento da Política Nacional da População em Situação de Rua nos anos 2000. No último dia 22, o sacerdote participou da cerimônia de abertura da VII Mostra de Ações de Extensão e destacou o papel da universidade pública na luta por uma sociedade mais justa e igualitária.
“Acredito que a universidade tem essa vocação: de manter um diálogo permanente e de ver a totalidade, onde somos parte de um todo. Não há como pensar o futuro dos povos e as especificidades das lutas sem considerar o todo. Cada luta, como a dos povos originários e por moradia, tem suas peculiaridades, mas todas convergem para a transformação. Essa transformação não se alcança isoladamente, mas num processo contínuo envolvendo todas as áreas humanas”, diz Lancellotti.
A iniciativa surgiu da Congregação da Faculdade de Serviço Social devido ao importante papel do padre na “contribuição para o progresso da ciência e da sociedade, combate ao conservadorismo e defesa do pluralismo, da democracia e da liberdade de ideias e de vida em suas plenas acepções”. A sugestão também destacou a trajetória do sacerdote em áreas de dedicação do serviço social brasileiro: “o enfrentamento das expressões da questão social, a defesa intransigente dos direitos humanos, a contribuição na construção de políticas públicas, a luta pela construção de uma sociedade igualitária”.
A UFJF também pontuou que o trabalho de Lancelotti vai ao encontro do que uma Universidade precisa produzir: “transformação social, agentes conscientes de seu papel e da necessidade de resgatar a todos, educar a todos, de ser, por fim, ‘ser humano’ e garantir que todos ‘sejam humanos’, com todos os seus direitos assegurados”.
A honraria concedida pela UFJF se somará a outros títulos de Doutor Honoris Causa concedidos ao padre Júlio Lancellotti pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e pela Universidade São Judas Tadeu (USJT). Segundo a UFJF, o padre já aceitou a honraria, mas a entrega será realizada posteriormente devido a compromissos previamente agendados pelo sacerdote. A lista de professores Honoris Causa da UFJF conta com a presença de personalidades como o filósofo e educador Paulo Freire; o líder indígena, ambientalista, filósofo e escritor Aílton Krenak; a historiadora e expoente do movimento negro Adenilde Petrina; o líder sindical e político Clodesmidt Riani; e o presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva.
Censo da População de Rua de JF
Além dos argumentos citados acima, a UFJF também argumentou que durante a elaboração do “Censo e Diagnóstico da População Adulta em Situação de Rua”, realizado em parceria entre a UFJF e a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF), foram levadas em consideração as críticas do sacerdote a documentos similares produzidos em São Paulo, tanto em relação à construção metodológica quanto às formas de abordagens e percepções da condição de rua.
“Nós buscamos incorporar no desenho metodológico do nosso Censo em Juiz de Fora as questões destacadas por ele, como a maior proximidade com a população em situação de rua, a construção em um espaço de tempo breve para evitar contagem em duplicidade ou omissões. A construção do Censo e essa parceria com a Prefeitura vêm na esteira da luta e da produção dele”, afirma a vice-diretora da Faculdade de Serviço Social, Viviane Souza Pereira, que foi coordenadora geral dos trabalhos do Censo.