O adolescente de 15 anos que confessou ter assassinado a facadas o operador de telemarketing Rodrigo Dias Cantarutti Dantas, 34, teve o flagrante confirmado por ato infracional análogo a homicídio. Na manhã desta quinta-feira (2), ele foi encaminhado pela Polícia Civil à Promotoria da Infância e Juventude, com pedido de acautelamento, no Bairro Santa Lúcia, Zona Norte, diante da gravidade do crime. Depois de audiência, que durou quase toda a tarde, a juíza da Vara da Infância e Juventude, Maria Cecília Gollner Stephan, decidiu pelo acautelamento do adolescente, que seria transferido para o Socioeducativo, ainda na noite desta quinta. Por se tratar de caso envolvendo pessoa menor de 18 anos, não foi divulgado o conteúdo do depoimento do jovem. Ele deverá aguardar, em internação, a realização de uma audiência de apresentação, ainda não agendada, para ser ouvido novamente. Na ocasião, também serão ouvidos advogado de defesa e promotoria. O objetivo será definir sobre a continuidade ou não do acautelamento.
[Relaciondas_post] Enquanto isso, o delegado Rodrigo Rolli será responsável por investigar o assassinato ocorrido no início da tarde de quarta-feira no apartamento da vítima, na Rua Olegário Maciel, entre os bairros Paineiras e Dom Bosco, na região central. Após analisar os materiais apreendidos que pertenceriam ao suspeito, entre eles uma máscara do Jason, personagem do filme de terror “Sexta-feira 13”, e a faca com 20 cm de lâmina provavelmente usada nos golpes contra a vítima, Rolli afirmou que pretende traçar o “perfil” do adolescente, descobrir a real motivação do homicídio e se o crime foi premeditado ou não.
“O que temos até então nas investigações colhidas ontem (quarta-feira) é que o jovem teria encontrado a vítima por meio de um site de relacionamentos dois dias antes, mantido conversas pela internet e, posteriormente, marcado um encontro na Rua Padre Café. Logo depois de se encontrarem, subiram até o apartamento da vítima na Olegário. Dentro do local, iniciaram carícias e beijos. O adolescente desistiu (do relacionamento), foi até o banheiro, retornou e deparou com a vítima somente de cueca. Nessa situação, ele não querendo mais manter a relação, acabou utilizando uma faca que ele portava na cintura e desferiu um golpe contra o pescoço da vítima.”
Ainda conforme o depoimento prestado pelo suspeito à Polícia Civil, na presença de um irmão, 23, como responsável, o homem teria insistido na relação, e o jovem teria desferido as facadas por não conseguir ir embora. Ele disse ter ficado “nervoso” após o primeiro golpe e admitiu ter desferido outros, não sabendo onde. Em seguida, trocou a roupa suja de sangue por outra limpa que levava na mochila. “As investigações são em dois sentidos: primeiro, fechar o local do crime, tentando obter possível gravação do circuito interno que teria no prédio e o depoimento do vizinho (que deteve o jovem) e de outros moradores. Também queremos buscar informações com familiares do adolescente, colegas dele, para traçarmos um perfil desse garoto e saber se ele tinha algum desvio comportamental.”
O delegado afirmou não descartar a hipótese de crime premeditado. “Queremos saber se foi uma situação momentânea ou se há alguma motivação, haja vista que ele foi para um encontro com uma faca de caça com 20cm, uma máscara de filme de assassinato e luvas cirúrgicas, além de ter trocado de roupa. Isso levanta suspeita com relação a outra motivação.”
Durante suas declarações, o jovem alegou ter comprado a faca momentos antes do encontro “para se defender” caso fosse necessário, pois não conhecia o homem e temia por sua segurança. Ele ainda informou ter adquirido a máscara em um evento de jogos eletrônicos, mas não explicou o motivo de ter levado a mesma. Ele acrescentou que nas conversas que teve com a vítima antes do encontro disse estar em dúvida em relação à sua sexualidade.
Crime choca amigos e familiares
Enquanto o adolescente suspeito participava da audiência na Vara da Infância e Juventude, seus familiares aguardavam o término da sessão do lado de fora. Apesar de serem abordados pela reportagem, não quiseram se manifestar sobre o caso. Já sobre a vítima Rodrigo Dias Cantarutti Dantas, que era natural da cidade de Barbacena e morava sozinho em Juiz de Fora, atuando há três anos como operador de telemarketing, um amigo, 25, contou que a vítima era conhecida pelo seu espírito amigável. “Ele sempre mostrava ter respeito ao próximo e gostava muito de ajudar as pessoas. Além de se dedicar bastante ao trabalho”, disse o estudante, que preferiu não ser identificado. A amizade dos dois já durava cerca de quatro anos e meio até ser interrompida com a morte de Rodrigo.
Segundo o jovem, familiares e amigos ficaram chocados ao saber do assassinato. Ele soube da morte do operador por meio de uma mensagem de WhatsApp, na qual outra amiga informava a respeito do esfaqueamento de um jovem de Barbacena. “Quando tivemos essa informação começamos a desconfiar que poderia ser ele, o que foi confirmado mais tarde. Jamais poderíamos imaginar que isso pudesse acontecer, pois Rodrigo não tinha desafeto com ninguém e era muito equilibrado”, comentou o estudante. “Esse caso ainda vai gerar muita repercussão e, o mais importante, uma série de questionamentos a respeito da segurança na internet.” O sepultamento de Rodrigo será realizado nesta sexta, às 10h, no cemitério da Boa Morte, no município de Barbacena.