O tema “Desafios para a valorização da herança africana no Brasil” foi apresentado a mais de 4 milhões de estudantes que realizaram o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) no último domingo (3). Coerente, importante, e atual foi como avaliou o professor de linguagens e suas tecnologias ouvido pela Tribuna nesta segunda-feira (4).
A primeira fase do exame incluiu 90 questões de linguagens e ciências humanas, além de línguas estrangeiras e uma redação dissertativa-argumentativa. Ao todo, os alunos tiveram cinco horas e meia para resolver as questões.
O professor de linguagens Charles Dias leciona na rede estadual e na particular de ensino. Para ele, o tema da redação dialoga com o momento atual do país, visto que, neste ano, foi aprovada, a nível nacional, a instauração do feriado no Dia da Consciência Negra, em 20 de novembro. “Vivemos em um país onde o racismo é estrutural, e o estudo da sociedade, muitas vezes, ignora e apaga identidades, moldando uma visão binária de certo e errado, valor e desvalor. O Enem, um exame que avalia o ensino médio, deve, portanto, verificar se estamos realmente incorporando o conhecimento sobre a cultura e as heranças africana e afro-brasileira, algo que é exigido por lei.”
Conforme explica Charles, o conteúdo abordado em sala de aula, em grande parte, é pautado pelo que é exigido nas provas de vestibular, principalmente no Enem. “A prova, ao abordar temas sociais de tamanha importância, não apenas orienta, mas autoriza nosso discurso.”
Temas atuais
Charles destaca a permanência de temas contemporâneos na parte temática da prova, como a variedade linguística, que foi abordada em várias questões. “Essa abordagem contribui para desconstruir preconceitos em relação à forma de falar de pessoas que não seguem o padrão gramatical, seja por questões regionais, etárias ou históricas. Há muitos fatores que influenciam a maneira como cada um se expressa.”
A bibliografia inclui figuras da cultura popular essenciais para a reflexão sobre temas de inclusão, como Racionais MCs e Rita Lee, além de clássicos da literatura, como Graciliano Ramos e Machado de Assis. “Foi uma prova muito bem construída, que soube trazer e articular temas da atualidade com questões históricas da nossa formação social”, finaliza.
Abstenções
O percentual de alunos que não compareceram à prova no domingo foi de 26,6% do total, conforme balanço preliminar divulgado pelo ministro da Educação, Camilo Santana. Em comparação a 2023, o número de abstenções foi menor. Na época, 28,1% dos alunos não fizeram o Exame.
Dos concluintes do ensino médio da rede pública, 94% se inscreveram no Enem, representando um aumento de 36% em relação à edição de 2023, quando apenas 58% se inscreveram.
Conforme o ministro da Educação, os dados refletem o impacto das políticas que incentivam a participação desses estudantes: “Em vários estados, o percentual de concluintes quase dobrou. Esses números evidenciam o esforço dos estados para estimular as inscrições e o efeito positivo do programa Pé-de-Meia.” Os estudantes beneficiados por esse programa que participarem dos dois dias de prova do Enem receberão uma parcela adicional de R$ 200 em 2025.