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Cidade registra mais de 500 casos de estelionatos cibernéticos em 2023

estelionatos
Golpes aumentaram à medida que cresceram as modalidades de transação por meios digitais (Foto: Tribuna)
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Dados da Polícia Civil apontam que aumentou cerca de seis vezes o número de estelionatos feitos por via digital em Juiz de Fora nos últimos seis anos. Em bases comparativas, foram registradas 531 ocorrências dessa natureza nos primeiros oito meses de 2023, contra 93 do mesmo período de 2018.
Os índices de estelionatos digitais começaram sua progressão mais significativa a partir de 2019. Naquele ano, mais que dobrou a quantidade de crimes dessa natureza no município, indo de 169 para 447 ocorrências. Contudo, esse tipo de ação criminosa viria a crescer ainda mais. Em 2020, já era possível ver novamente as taxas serem superadas, desta vez, de forma mais gradual, com 584 casos registrados pela Polícia Civil. Posteriormente, a incidência desses crimes continuou com um avanço paulatino, com 676 casos.

O novo pico ocorreu em 2022: ao longo de todo o ano chegaram a ser contabilizados 904 denúncias de estelionato cibernético, o mais alto desde então. O novo marco desbancou, inclusive, 2023, quando considerados apenas os oito primeiros meses do ano para uma análise comparativa. Entre janeiro a agosto do ano passado, foram 582 registros de crime dessa natureza da cidade, contra 531 registros no mesmo período em 2023.

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Para o professor e pesquisador em ciência da computação com ênfase em redes de computadores e segurança na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Edelberto Franco, o que ocorre é uma regular repaginação dos golpes. “Em um período de no máximo seis meses os golpes se modificam. Uma brecha que existia pode ter sido fechada, então os golpistas precisam de uma nova. Assim, grandes estruturas têm sido formadas para se atualizar e utilizar o conhecimento tecnológico para o estelionato”, explica. Ele também adverte sobre um movimento mútuo: enquanto os sistemas aperfeiçoam a segurança, os golpistas se articulam para encontrar brechas.

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Transações digitais e fintechs

Outro fator que se deu a partir da transformação digital das empresas foi o aumento do contato da população com os serviços prestados por meios digitais. Uma pesquisa feita pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban) em relação às tecnologias bancárias revelou que o canal “mobile” (celular) é o favorito pelos clientes durante transações financeiras como Pix, consultas de saldo, extratos, investimentos e contratações de crédito. “Existe um aumento na taxa de crescimento no ‘mobile’, para praticamente todos os tipos de transação”, reconhece a instituição sobre essa tendência.

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No levantamento foram entrevistados 18 bancos que, juntos, representam 86% dos ativos bancários do país. De acordo com essas instituições, quase oito em cada dez transações são feitas por vias digitais. Ainda conforme a pesquisa, isso significa que 93% das contratações de crédito e 72% das transações financeiras são realizadas via canal digital.

Edelberto Franco, explica que as altas taxas de estelionato digital encontradas hoje são reflexos tanto do aumento no número de celulares smartphones e de novos aplicativos que permitem transações financeiras quanto do crescimento dos bancos virtuais, as fintechs (o termo deriva de “financial technology”, ou “tecnologia financeira”).

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Golpe através do WhatsApp

Ao cadastrar seu número de celular em plataformas que oferecem empréstimos, Paulo Leonardo virou também um dos alvos dos crimes cibernéticos que acontecem na cidade. O jovem, 22 anos, recebeu uma mensagem que anunciava que ele havia sido aprovado para captar recursos por meio do BNDES FGI (Fundo Garantidor de Investimentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), que busca facilitar o acesso de pequenos empreendedores a crédito. A princípio, a situação parecia coerente. Isso porque, há pouco tempo, o jovem havia aberto uma empresa on-line, o que, na sua visão, justificaria a adesão ao programa de financiamento. Dessa forma, começou as negociações pelo aplicativo de mensagem WhatsApp, junto com a suposta gerente e consultora financeira de um banco.

Paulo forneceu todos os documentos requisitados, como CPF, RG e comprovante de residência. A intenção era que, assim, ele pudesse realizar o cadastramento no banco e ter acesso ao empréstimo. “Passei para ela tudo o que foi pedido, com exceção do Estudo de Viabilidade Econômica (EVE), pois não sabia como obter esse documento. Ela, então, me indicou uma consultora financeira para me ajudar com a emissão do mesmo”, conta Paulo, que, posteriormente, viria a conhecer a segunda suposta funcionária do banco.

A segunda mulher passou a ele um orçamento de aproximadamente R$ 800 para aderir ao serviço. Esses valores poderiam ser transferidos via Pix. Com o “documento” recebido, Paulo recebeu um aceno de que o empréstimo havia sido concluído e o dinheiro do financiamento cairia na conta ainda na próxima semana. No dia acordado, contudo, o rapaz recebeu uma negativa da suposta empresa. “A gerente dizia haver um problema ao creditar o valor em minha conta.”

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Para resolver os problemas, um novo valor foi solicitado pela consultora financeira. “Com a desconfiança, liguei para o banco, expliquei sobre o processo e me foi informado que o banco não faz empréstimos para pessoas que não possuem conta no mesmo. Logo fui conversar com uma advogada, que me orientou a não responder mais e ir a uma delegacia fazer um boletim de ocorrência, porque eu havia caído em um golpe!”, explica indignado. Ele ainda espera ser ressarcido.

Investimento em mais segurança

Para mitigar os impactos de golpistas no ambiente digital, cada vez mais, as plataformas estão investindo em formas de aumentar a segurança, tanto para empresas quanto para os usuários. É o que mostra também o levantamento da Febraban em relação às tecnologias bancárias.

Segundo o estudo que comparou a seguridade entre os anos de 2021 e 2022, dobrou a aplicação de verbas para aumentar a segurança cibernética para profissionais de bancos. E aumentou em 11 vezes o investimento em treinamento em segurança para profissionais de tecnologia da informação. Em números, isso simboliza um salto de R$ 532,7 mil para quase R$ 6 milhões.

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Também foram elencados os temas relacionados a segurança cibernética que tinham mais expectativa de investimento ao longo desse ano. Com a infraestrutura liderando, a seguir aparecem prevenção às ameaças, gestão de identidade e acessos, contratação de especialistas para a área de segurança da informação e, por fim, detecção e respostas a incidentes cibernéticos.

Além do investimento em segurança realizado pelas instituições, o alerta da própria população é necessário, conforme esclarece Edelberto. “Basicamente, desconfie. Não clique em links que receba por mensagem, pare e verifique se quem enviou é realmente confiável, e se você realmente estava esperando por aquela mensagem”, diz.

Ele também chama atenção para o recebimento de supostas mensagens de banco. “Ligue para o número da central oficial e não aquele 0800 que você nunca ouviu falar. Se utilizar algum app de banco em seu celular, reduza o limite das transações. Em último caso, retire os apps de bancos do celular e utilize métodos mais tradicionais até sentir confiança e experiência para realizar transações financeiras por aplicativos”, recomenda o professor.

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