Em uma semana de calor recorde e tempo seco, os juiz-foranos não só tiveram de lidar com o desconforto físico causado pelas altas temperaturas, mas também com os pernilongos “vindos de brinde”. A proliferação dessas pragas que invadem as casas ao longo do dia e não deixam ninguém dormir à noite, seja pelo incômodo barulho que emitem ou por suas picadas, é praxe nessa época do ano, e se intensifica ainda mais em semanas de muito calor. Na última segunda, Juiz de Fora registrou a maior temperatura máxima desde outubro de 2016 e o menor percentual de umidade relativa do ar desde de maio de 1998.
“O maior agravante que a gente tem para esse aumento na quantidade de pernilongos é a alta temperatura. Com o tempo muito quente, os ovos que estão disponíveis chocam e dão origem às larvas que crescem de forma muito rápida, em um período de cinco a sete dias. Então, em uma semana, já temos novos insetos surgindo. O ciclo de desenvolvimento do mosquito está muito rápido”, explica o professor titular do departamento de zoologia do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Fábio Prezoto.
Apesar de o pernilongo (mosquito do gênero Culex quinquefasciatus) poder transmitir vírus e bactérias através das picadas em seres humanos, diferentemente do Aedes aegypti, ele representa menos perigo, porque não provoca surto de doenças. “O chato desse inseto é que ele adentra as casas no começo da manhã e no fim da tarde. Daí ele vai e se esconde em um local escuro, e passa o dia escondido. Durante a noite, quando as pessoas vão dormir, o inseto é guiado até elas pela respiração – os mosquitos são atraídos pelo gás carbônico emitido durante a respiração -, e nesse momento se ouve o barulho chato e acontecem as picadas”, explica Prezoto.
Formas de prevenção
Como os mosquitos adentram as residências ainda durante o dia, a melhor prevenção à entrada dos insetos, de acordo com Fábio Prezoto, é ter atenção às aberturas da casa. “Talvez monitorar as janelas e portas para impedir a entrada do mosquito seja a melhor solução. Por volta das 17h já é recomendado que as pessoas estejam fechando suas casas. Com o calor, fechar totalmente é inviável, então é importante manter uma abertura de ventilação, mas que ela seja telada”, sugere o professor.
Uma vez que o inseto tenha entrado, continua Prezoto, a pessoa pode fazer um busca manual na tentativa de espantá-los ou eliminá-los. “Muitas pessoas usam produtos inseticidas. Eu, particularmente, não gosto muito de recomendar. Não porque não seja eficiente, mas eu acredito que seja muito tóxico e perigoso. Mas caso a pessoa queira fazer a aplicação do veneno, o ideal é que seja realizada algumas horas antes de a pessoa ir se deitar ou ir ficar nesse cômodo, porque até lá, a toxicidade residual, o cheiro forte, já passou”.
A raquete elétrica também é um bom modo de exterminar os pernilongos, além de ser recomendada pelo professor durante a busca manual dos insetos pelos cômodos da casa. “Em casos mais extremos, o que a gente recomenda é a pessoa também passe repelente antes de dormir.”
Preocupação com o vetor da dengue
Para o especialista em comportamento de insetos Fábio Prezoto, ainda que o tempo esteja seco e sem chuvas, o atual cenário também pode indicar iminente proliferação de Aedes aegypti, mosquito vetor da dengue, zika e chikungunya. “No momento nós não estamos vivendo um surto (de Aedes), mas a tendência é que com a chegada do verão e chuvas mais regulares, que abastecem os criadouros pequenos, onde o Aedes aegypti se prolifera, aí nós vamos ter, com certeza, além do Culex (pernilongo), a presença do vetor da dengue”, antevê.
Em relação ao Aedes, o professor Fábio Prezoto chama atenção para que as pessoas não deixem água parada dentro de suas residências e, em época de chuvas, vistoriem quintais e possíveis locais que podem armazenar água. “Uma coisa importante de salientar é que o pernilongo comum se reproduz em locais um pouco diferentes dos locais em que se reproduz o Aedes aegypti. O Culex se desenvolve em água suja e até em água de esgoto, tem a zona de criação fora de casa. Já o Aedes se desenvolve dentro de casa. Então, quando começar o regime de chuvas mais regulares, é preciso atenção”.