A professora Ana Cláudia Vitorette chegou à Paróquia de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, no Bairro Monte Castelo, Zona Norte, com o João, um cachorro de 11 anos nos braços. Durante a benção, proferida pelo frei Carlos de Oliveira Charles, o cão permaneceu quieto. Quando perguntada sobre o motivo que a levou até aquela celebração, ela se emocionou. O que veio em seguida foi uma inspiração no exemplo dado pelo santo, lembrado no dia 4 de outubro: “Um amor e um respeito muito grande por essas vidas. Elas merecem todo o nosso respeito e a nossa dignidade. São criaturas divinas, que só reconhecem o amor.”
João sofreu maus tratos, foi acolhido por uma amiga de Ana Cláudia, e foi adotado por ela há sete anos. Ela conta que não tinha uma relação muito forte com os animais até resgatar um cachorro há 14 anos. Descobrir esse amor levou a professora a acolher muitos outros animais e a encarar esse cuidado como uma missão. João está doente e, durante a bênção, ela pediu por misericórdia para quando ele terminar sua missão ao lado dela. Atualmente, além de João, Ana abriga outros 18 cães e conseguiu levar três deles para receber a bênção na igreja.
“Temos que dar dignidade a esses seres divinos que são nossos companheiros de jornada. É muito difícil pensar que há cerca de 500 cachorros abandonados no canil, negligenciados pelos humanos, que deveriam estar cuidando deles. Precisamos seguir o exemplo de Francisco e cuidar do meio ambiente, em nome deles e também da nossa sobrevivência.”
O encantamento foi o que levou a consultora de vendas Luciana Ribeiro à missa de São Francisco de Assis. “Gosto muito de bichos. Meu sonho era ter um zoológico. Acabei escolhendo ter aves, porque o canto delas me encanta. Todo ano aumenta o número, e assim como nós precisamos de oração, eles também precisam.”
Considerado protetor dos animais, Francisco de Assis, se preocupava, já no século XIII, com a preservação dos ecossistemas. De acordo com o frei Jorge Fernando Silva Coelho, o exemplo do santo se volta para a ideia de que nós somos administradores e não donos do meio ambiente. “Ecologia significa casa. Ele mantinha esse diálogo com os outros humanos e com os animais. Ele sabia que Deus tinha confiado a nós a gestão da natureza e é preciso retomar esse aspecto. Ele respeitava a vida em todos os níveis. Da vida das formigas, até a dos animais domésticos, como cães e gatos.”
Soldado da paz
Além do respeito aos animais, Francisco de Assis também lutava pelas pessoas mais humildes e pela valorização da paz. “Ele pregou e viveu essa paz. Em 2018, o exemplo dele se mantém atual. Ele aponta para a paz, para viver com solidariedade, diz que todos os homens e mulheres devem ter uma vida digna, ter uma casa, ter o pão. Ele sabe que Deus não nos criou para sermos escravos e sim para sermos irmãos. Tanto que a população enxerga essa situação. No dia de São Francisco, as missas ficam todas lotadas”, disse frei Jorge Fernando.
O papa Francisco decidiu tomar esse nome para ele, justamente, por conta da dedicação de São Francisco de Assis às pessoas mais necessitadas. “O papa tem essa sensibilidade, ele também se volta para os mais humildes, mais pobres e defende a dignidade dessas pessoas. Francisco de Assis representou uma renovação necessária da igreja católica, algo que volta a acontecer agora.” A programação de celebração de São Francisco de Assis segue até o próximo domingo (7), e pode ser conferida no site da Arquidiocese de Juiz de Fora.