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Cesu oferece ensino a quase cinco mil jovens e adultos em JF

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Seja para realização de um sonho ou para atender as necessidades impostas pelo mercado de trabalho, a Educação de Jovens e Adultos (EJA) se mostra como uma oportunidade para muitas pessoas correrem atrás do tempo perdido. Em Juiz de Fora, quase cinco mil alunos frequentam o Centro de Estudos Supletivos Custódio Furtado de Souza (Cesu), mantido pela Prefeitura de Juiz de Fora (PJF), nas modalidades presencial e semipresencial, que se apresenta como um espaço acolhedor para quem entendeu que nunca é tarde para recomeçar e voltar às salas de aula.
Quando era criança, Júlio César da Silva acabou desistindo de estudar por não ter encontrado um ambiente escolar favorável. Por ser uma pessoa com deficiência, o bullying que sofria acabou criando barreiras. Porém, a angústia na fase adulta o fez tentar novamente, encontrando uma oportunidade de recomeçar no Cesu. “Toda vez que eu chegava nos colégios, ficavam me chamando de aleijado, ‘mão torta’, aí parei de estudar. Resolvi voltar agora, porque eu vi que estava fazendo muita falta para mim”, conta.

Aos 25 anos, Júlio César está cursando as fases iniciais do ensino fundamental e já tem planos para o futuro, quando se formar: trabalhar com eletrônica. “Antigamente, eu não sabia nem pegar no lápis ou escrever direito. Agora está bem melhor para mim. É muito bom aqui.”

Também nas fases iniciais do ensino fundamental, Roseni Ferreira da Silva, 50 anos, começou as aulas no Cesu esta semana. Natural de Dores do Indaiá, no Centro-Oeste mineiro, ela cursou até a segunda série quando era criança, mas precisou interromper os estudos para trabalhar e ajudar a família. “Eu morava com minha avó e ela sempre me falava para voltar a estudar, só que eu queria trabalhar para ajudar mais em casa. Depois eu fui para Belo Horizonte e lá construí minha família, mas eu sempre incentivei meus filhos a estudar. Eu não estudava, achava que já estava muito velha, mas nos mudamos aqui para Juiz de Fora, e como eu moro aqui perto do Cesu, eu criei coragem.”

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Trabalhando de dia e estudando à noite, Roseni já se demonstrou ansiosa com a volta aos estudos, incluindo as demais atividades ofertadas pela instituição, como informática e teatro. “Eu pretendo fazer um curso, depois, de cuidadora de idosos”, diz. “Tem que saber se informar com a bula de remédios, você coloca no computador, e precisa também se comunicar com os outros parentes. Temos a prática, mas precisa do curso, precisa da leitura.”

Incentivo

Vindo da comunidade de Cachoeirinha, no interior de Santos Dumont, Alcione Aparecida da Silva, 46, também não teve a oportunidade de estudar quando era criança. Na sua região de origem, a escola só oferecia aulas até a quarta série. Com incentivo de outros familiares, como tio e irmãs, há cerca de um ano e meio, ela voltou a estudar e, atualmente, cursa o nono ano do ensino fundamental. “Para mim, foi muito bom e está me fazendo muito bem. Aumentou minha autoestima”, compartilha.

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Os planos para o futuro depois de concluir os estudos também já estão traçados: Alcione pretende cursar psicologia. “Eu trabalho em casa de família há 24 anos. Ainda passo em casa, arrumo janta para o meu pai e venho pra aula”, conta. “Nós damos um jeitinho quando queremos, nos esforçamos.”

Professor de Matemática, Keller Lopes leciona para uma das turmas do Cesu (Foto: Felipe Couri)

Força de vontade

Filho de pais divorciados, William Aparecido da Silva, 35, apresentava uma certa “rebeldia” quando era mais jovem, optando por desistir dos estudos quando cursava o oitavo ano do ensino fundamental. Com o tempo, o amadurecimento e as responsabilidades da vida adulta, com filhos e oportunidades de trabalho, acabaram cobrando a volta para a sala de aula. “O mercado de trabalho é complicado quando não temos estudo nenhum, para poder conseguir uma coisa melhor. Às vezes, você vai fazer entrevista e até tem experiência no currículo, mas você vê que pessoas mais novas que têm ensino médio passam na frente”, conta. Depois de 16 anos sem estudar, ele voltou à escola e irá concluir o terceiro ano do ensino médio neste semestre. Quando finalizar, pretende buscar novas especializações profissionais, como de vigilância ou de bombeiro civil.

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Atualmente, William trabalha como auxiliar de serviços gerais. Conciliando o emprego com a família e as aulas, ele destaca a força de vontade como essencial para seus objetivos. “[A escola] abriu minha mente para enxergar os estudos de uma forma diferente da que eu tinha quando era mais novo. Hoje em dia eu penso ‘poxa, por que eu não terminei quando era mais novo, que a cabeça era mais fresca?’. As coisas eram mais fáceis, com menos compromisso e menos responsabilidade que acabamos adquirindo com o tempo, mas a visão é totalmente outra. Tem sido muito bom para exercitar a mente e o interior também.”

Da direita para a esquerda: Júlio César, William, Roseni e Alcione, alunos do Cesu (Foto: Felipe Couri)

‘O impacto é conseguir mudar a vida do estudante’

Com todas as responsabilidades que vêm com a vida adulta, voltar a estudar requer dedicação, algo que está presente nos alunos do Cesu. Conforme Keller Lopes, professor de matemática da instituição, um exemplo que demonstra isso ocorreu durante a pandemia da Covid-19. Mesmo com as barreiras impostas pelo período, o Cesu ainda buscou levar o ensino para a casa das pessoas, seja com a impressão dos materiais para quem não tinha acesso à internet ou mesmo com a disponibilização das aulas on-line, que teve grande adesão dos estudantes da EJA. “Às vezes, as escolas públicas são discriminadas e não é bem assim. Quando você tem uma direção séria, o ensino público funciona e dá certo”, comenta. “Ensinar on-line foi um desafio para todos os professores. Para os alunos da EJA, eu achei que fosse ser impossível, mas não foi.”

Conforme o educador, que atua no Cesu há quatro anos, a forma de ensinar para alunos da EJA deve ser diferenciada daquela entre adolescentes e crianças, considerando que são pessoas que estão correndo atrás do tempo perdido. “Aqui, com a EJA, eu tento mostrar a aplicação da matemática, como ela é importante não só na escola, mas no dia a dia. Procuro ouvir, são turmas que têm menos alunos, então conseguimos fazer essa diferença. É um trabalho mais humanizado.”

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Para ele, poder transformar a vida dos alunos é algo que faz toda a diferença. Em uma formatura na qual Keller foi paraninfo, ele realizou um discurso que comoveu uma pessoa que estava presente e veio a se tornar seu estudante. “Tenho um aluno que me falou assim: ‘professor, eu voltei [a estudar] depois do seu discurso’. Ele quer ser professor de matemática, e eu tinha falado sobre isso, de sabermos da escassez de professores. Então, para mim, o impacto é esse, é você conseguir mudar pra melhor a vida do estudante.”

Cesu oferece oportunidade para regularizar vida escolar

O Cesu oferece as modalidades presencial e semipresencial. No primeiro caso, as aulas são diárias, com a necessidade de frequência dos alunos, e acontecem somente na unidade do Bairro Teixeiras, Zona Sul de Juiz de Fora. As matrículas são semestrais e, para este ano, ainda estão abertas.

Já na semipresencial, o aluno não é obrigado a frequentar a escola, estudando a partir de apostilas e outros materiais disponibilizados, comparecendo à unidade de referência apenas para provas e para tirar dúvidas com os professores. Além do posto no Teixeiras, que também oferece o ensino semipresencial, a modalidade pode ser encontrada em outras unidades do Cesu espalhadas pela cidade, como no Centro e nos bairros São Pedro, Santa Luzia e Santa Lúcia. No caso do semipresencial, a matrícula pode ser feita durante todo o ano.

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“A EJA, principalmente a semipresencial, é uma forma de regularizar a vida escolar da maioria dos alunos que não tiveram oportunidade ou não tiveram condições na idade correta, e também de inseri-los no mercado de trabalho que exige essa formação”, explica a diretora do Cesu, Rosângela da Silva Campos de Paula. “É uma modalidade muito importante para a classe operária, para os trabalhadores, para as pessoas que, de alguma forma, foram excluídas do ensino regular. A EJA é a última chance delas.”

De acordo com a diretora, as cobranças do mercado de trabalho são os principais motivos que levam as pessoas a retomarem os estudos. Por outro lado, a instituição também recebe alunos idosos, com histórias de estudantes de até 90 anos, que voltaram às salas de aula para realizar o sonho de aprender a ler e a escrever.

Para quem procura se profissionalizar e começar novos projetos após a conclusão do ensino médio, a instituição também conta com parceria com os Cursos Populares para Concursos (CPC) da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF). A iniciativa oferece uma turma na sede do Cesu, para quem quiser fazer a prova do Enem, do Pism ou mesmo concursos públicos. “Temos uma adesão muito grande, porque os alunos tomam gosto e querem continuar”, comenta Rosângela.

Arilson, vice-diretor do Cesu, e Rosângela, diretora (Foto: Felipe Couri)

Ensino humanizado

Para além do lado profissional, o ensino ofertado no Cesu busca também um lado humanizado. Com cursos de música e de teatro, a proposta é complementar a formação pedagógica dos estudantes, o que tem contribuído também para a diminuição dos índices de evasão escolar. “Às vezes, os alunos que entram na EJA, como os mais velhos, não têm muita coordenação motora, então para a alfabetização no tempo certo já é difícil, imagina depois que eles já passaram por muitos anos. Essas modalidades de projetos ajudam na alfabetização desses alunos também”, explica a diretora. “Nós fazemos muita coisa para que esses alunos fiquem na escola. O envolvimento com a escola e com os projetos têm diminuído muito a evasão.”

A instituição também conta com Atendimento Educacional Especializado (AEE), voltado para pessoas com deficiência, como destacado pelo vice-diretor Arilson Fidelis Pedrosa. “Nós temos turmas, temos professores e profissionais para fazer material em braile, professor de libras que atende os alunos. Temos toda uma equipe para inclusão também. Aqui, nós temos 24 alunos da educação inclusiva.”

Para cursar o ensino fundamental (até o nono ano), a idade mínima é de 15 anos. Já para o ensino médio (primeiro ao terceiro ano), o pré-requisito é ter 18 anos. As aulas são gratuitas, assim como todo o material disponibilizado para os estudos, como apostilas e livros. Além disso, o Cesu também oferece merenda escolar para os estudantes.

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