Quando a gente decide adotar um animal – ou dependendo do caso, fazer a compra de um exemplar de raça – é preciso ter consciência de que a chegada desse novo bichinho vai muito além do que se imagina. Por mais que tenhamos a certeza de que os nossos dias passarão a ser mais alegres e afetuosos, o ato de adotar também significa que firmamos um compromisso por um longo tempo.
Cães e gatos vivem, em média, 15 anos. E a primeira coisa a se perguntar é: este animal caberá na minha rotina durante todo este tempo? Como tutor, estarei disposto a arcar com todos os custos e as responsabilidades que envolvem essa relação? Terei tempo para me dedicar a ele e fazer passeios e brincadeiras? Bom, se a resposta para todas essas perguntas for positiva, o caminho está livre para você escolher aquele animal que mais lhe agrada.
“A consciência das pessoas em relação à adoção mudou bastante. Hoje, a maioria chega até nós ciente do perfil de animal que deseja ter. Muitos já entenderam que ter um animal não é a mesma coisa do que ter um objeto, que pode ser descartado quando apresenta o primeiro problema. O animal faz parte da família e é importante para manter o equilíbrio psicológico das pessoas”, explica a presidente da Sociedade Juizforense de Proteção aos Animais e ao Meio Ambiente (SJPA), Maria Elisa de Souza.
Para ela, o trabalho de conscientização realizado pelas ONGs de proteção e defesa dos animais, protetores independentes, redes sociais e a própria mídia tem contribuído muito para compreender a relação entre seres humanos e animais. “É muito comum recebermos ligações de pessoas preocupadas em ajudar animais de ruas, principalmente quando se deparam com um cachorro ou um gato que esteja debilitado ou machucado. A gente tem percebido que os animais têm permitido as pessoas a terem mais liberdade para ser afetivas”, observa Maria Elisa.
Mais de mil animais doados nos últimos quatro anos
Nos últimos quatro anos, o Canil Municipal, gerenciado pelo Departamento Municipal de Limpeza Urbana (Demlurb) da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF), foi o responsável por dar encaminhamento a mais de mil adoções em Juiz de Fora. Mas, da mesma forma que os cães e gatos saem para novos lares, muitos outros chegam. Em julho, a população de animais no canil chegou a 640. Dentre filhotes e adultos, a maioria é de cães, com cerca de 500, e o restante de gatos. A média no volume de animais do canil gira em torno de 500.
Segundo a gerente do Departamento de Controle Animal (Dcan) do Demlurb, Mirian Neder, mesmo durante a pandemia, com a suspensão de eventos e feiras, as adoções continuam acontecendo por meio do Disque Adoção. A procura tem sido boa, diferente de anos atrás. E a taxa de devolução, referente a animais que mesmo depois de adotados retornam ao canil por algum problema, está baixa, cerca de 3%.
“A maioria das nossas adoções tem um final feliz, mas podem ocorrer alguns problemas, pois infelizmente, não conseguimos garantir a forma como o animal vai se comportar no período de adaptação dele na casa do adotante. É uma etapa que dá trabalho, e o tutor precisa ter paciência e entender que o animal precisa de um tempo para compreender onde ele está. Digo que é uma adaptação mútua, pois muda tanto a vida do animal quanto a do adotante. É uma relação pautada no respeito, e, dando tudo certo, a convivência é maravilhosa”, ressalta Mirian.
Os animais adultos disponíveis para adoção no Canil Municipal são entregues aos tutores já castrados, vermifugados e vacinados. Quanto aos filhotes, o adotante é informado sobre a castração, que acontece de forma gratuita nas clínicas veterinárias parceiras do canil. Em ambos os casos, a pessoa assina um termo de responsabilidade e recebe orientações sobre reforço do vermífugo e vacinas. Todos os animais são microchipados, o que permite a sua identificação.
Para ser um bom adotante, é preciso ter mais de 18 anos e renda própria. Além disso, informar ao canil sobre a condição da moradia, se é própria ou alugada, se o proprietário permite animais etc. No caso dos gatos, é exigido que o imóvel seja telado.
“Dificilmente recebemos no Canil Municipal candidatos a adoção que buscam um cachorro para colocar em uma corrente para vigiar o quintal ou o portão. O que ainda precisa melhorar é a questão do abandono. O animal que vive ou que nasce nas ruas dificilmente consegue sobreviver”, afirma Mirian.
Abandono: um problema que precisa acabar
A maioria dos animais recolhidos e colocados para a adoção, seja pelo Canil Municipal ou pelas ONGs de proteção animal da cidade, são frutos do abandono, uma grave transgressão aos direitos dos animais que, infelizmente, ainda é muito presente em nossa sociedade. E os motivos que acabam culminando nesta prática vão desde a falta de planejamento e aporte financeiro à não castração.
“Um dos objetivos da posse ou adoção responsável é estabelecer uma relação mais saudável entre o homem e o animal de companhia, promovendo uma educação que crie a consciência para a guarda responsável, de forma, inclusive, a prevenir outros males mais graves, como os decorrentes da irresponsabilidade dos tutores e traduzidos pelo abandono e consequente superpopulação desses animais nas ruas das cidades”, ressalta a médica veterinária Tamiris Lessa.
A veterinária faz um alerta para um comportamento que ela tem observando nesta pandemia: as adoções por impulso. “O isolamento social provocado pelo coronavírus registrou um aumento surpreendente no número de adoções de animais, provavelmente, pelo fato das pessoas estarem mais tempo em casa e mais distantes da vida social. Tenho receio que esses animais possam ser devolvidos ou abandonados depois que as pessoas voltarem à rotina normal de trabalho e estudo, alegando não ter mais tempo disponível”, ressalta.
Por isso, ela reforça: “Não basta apenas alimentar e fornecer água para o animal resgatado/adotado. É necessário estar preparado financeiramente para arcar com despesas com vermifugação, antipulgas, castração e vacinas, além de visitar o veterinário regularmente”.
De raça ou de rua? Não importa, o amor é o mesmo!
Desde a sua infância, a servidora pública Marina Sad convive com animais e, depois que se casou, fez questão de seguir a tradição. Assim, o primeiro a chegar foi o Zé Roberto, exemplar da raça Lhasa apso que se adaptou bem à vida de apartamento. Anos depois, durante a volta do trabalho, Wendell se deparou com um filhote de cachorro abandonado, que aparentava estar muito debilitado devido a uma diarreia, vermes e muita pulga pelo corpo. A cena fez com que o advogado o levasse imediatamente para casa. Rapidamente eles se apaixonaram por Dudu, então novo membro da família, e se mudaram para uma casa, onde ele e Zé teriam mais espaço para brincar.
Quem pensa que o trabalho dobrou, engana-se. Para Marina, cuidar de dois cães é a mesma coisa que cuidar de um. “Procuramos manter as portas fechadas para eles não fugirem e andar sempre na guia para evitar que sejam atropelados. E ainda ministrar vermífugos e vacinas, dar banho no petshop e ração de boa qualidade, castrar, passear sempre que possível, chamar o veterinário quando necessário e providenciar hotelzinho quando vamos viajar”, enumera os cuidados.
Por mais que o Zé e o Dudu sejam cachorros muito diferentes, cada um trouxe ensinamentos, como o desapego e a gratidão. “O Zé é de uma raça que tem menos energia, se ele puder, fica o dia inteiro deitado no meu pé. Já o Dudu é o típico vira-lata, pula alto, corre, destrói a casa. Acho que o Zé é mais agarrado comigo, e o Dudu, com meu marido. A decisão de ter o Zé foi minha, e eu sempre cuidei mais dele por conta disso. O Dudu foi resgatado pelo meu marido, e achamos que ele nunca se esqueceu isso”, conta Marina. “O cão vira-lata tem muita raça, é tão amigo quanto outro animal”, diz Renato Lopes, diretor da Associação dos Amigos (Aban), que promove adoção de animais por meio do site e do aplicativo Petgreem.
Quando alguém pergunta sobre adoção, Marina destaca que o animal vive por um tempo considerável e tem muitas necessidades. “Não é só gastar dinheiro, mas também dar atenção. E mesmo os vira-latas, mais resistentes, podem apresentar problemas de saúde: o Dudu tem sarna, por exemplo. É uma caixinha de surpresa. E, a nós, cabe apenas amar e cuidar. É difícil imaginar uma vida sem eles”, finaliza.
Onde adotar um animal
Antes da pandemia, um dos eventos mais comuns em Juiz de Fora eram as feiras de adoção. Mas a ausência delas não tem impedido as pessoas de se candidatarem e levarem para casa um cachorro ou um gato. Se este é o seu caso, veja onde encontrar um novo companheiro.
PETGREEN ABAN
É um aplicativo que promove o encontro do futuro tutor com o seu novo bichinho, desenvolvido pela Associação dos Amigos (Aban) e disponível na Play Store (petGreenAban) e também no site. Para acessar, é preciso preencher um formulário sobre seu perfil e o perfil do pet que procura. Com base nestas informações, o sistema faz uma combinação de dados ranqueando os pets que mais se enquadram ao usuário.
DISQUE ADOÇÃO
O Canil Municipal atende pelo telefone (32) 3225-9933, de segunda a sexta, das 7h às 12h e das 13h às 16h. O candidato é entrevistado, informa o tipo de animal que deseja e recebe, pelo WhatsApp, fotos de pets que se encaixam em seu perfil. Com a ficha aprovada, o Canil agenda visita para conhecer o animal e pode fazer a entrega em casa. É possível ainda se candidatar pelo Facebook do Canil e preencher o questionário digital.
Ajude a Sociedade Juizforense de Proteção aos Animais e ao Meio Ambiente
Caso não possa adotar um animal, a SJPA permite que as pessoas apadrinhem um dos animais acolhidos ou envie doações que ajudam a manter seu abrigo funcionando. Podem ser doados ração para cães adultos e filhotes, ração para gatos, patês, vitaminas de uso animal e vermífugos, além de material de limpeza, como água sanitária, detergente e sabão em pó. Para agendar a entrega, entre em contato pelo telefone: (32) 99965-6240. Para doações em dinheiro, a SJPA disponibiliza contas para depósito: Banco do Brasil (Agência 3139-9 / Conta corrente: 22534-7); Caixa Econômica Federal (Agência 1641 / Conta corrente: 2397-6 / Operação: 003); Bradesco (Agência: 3033 / Conta corrente: 1081-2); e PicPay (ong.sjpa).