Com a chegada do outono e a aproximação do inverno, os casos de infecções por vírus respiratórios, como gripes e resfriados, tendem a aumentar. Diante desse cenário, especialistas alertam a população, reforçando a importância da prevenção, cuidado com os sintomas e busca por atendimento adequado.
O Governo de Minas Gerais decretou estado de emergência em saúde pública nesta sexta-feira (2), devido ao aumento expressivo nos atendimentos por doenças respiratórias. A medida terá validade inicial de 180 dias. A decisão foi motivada pelo aumento dos casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), pela superlotação das UTIs pediátricas e pela circulação simultânea de diversos vírus, como o rinovírus, o vírus sincicial respiratório e o influenza A — todos associados a quadros mais graves. Além disso, o manejo de casos graves que exigem suporte ventilatório e leitos de terapia intensiva já excede a capacidade operacional da rede de saúde, elevando o risco de desassistência e de mortes.
Aumento sazonal e principais sintomas
Diante do cenário provocado pela chegada do outono, a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) emitiu um alerta à população na última terça-feira (30). No comunicado, a Secretaria de Saúde explica que a circulação de diversos vírus respiratórios — como o rinovírus, os vírus Influenza A e B, o Vírus Sincicial Respiratório (VSR) e o SARS-CoV-2, causador da Covid-19 — costuma aumentar durante o outono e o inverno, afetando pessoas de todas as idades. No entanto, grupos como crianças, idosos e indivíduos com comorbidades têm maior risco de desenvolver formas graves da doença, o que exige atenção redobrada às medidas de prevenção.
Entre os principais sintomas listados pela PJF estão incluídos: coriza, tosse, dor de garganta, febre, dor no corpo, espirros e dor de cabeça. Em casos mais graves, pode haver falta de ar e desconforto respiratório, exigindo atenção médica imediata.
Em nota, a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES/MG), por meio da Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Juiz de Fora, informou que, de janeiro a abril de 2024, segundo o SIVEP GRIPE, foram registradas 87 notificações de síndrome respiratória aguda grave, ou seja, que exigem internação. Nesse ano, até a última quarta-feira (30), foram 28 notificações, número 67,8% menor que o do ano passado. A SES ressaltou, porém, que estes dados estão sujeitos a alterações e dependem da correta notificação e da inserção oportuna nos sistemas de informação, portanto, casos não notificados podem subestimar esses dados.
SRAG recua em Juiz de Fora
De acordo com dados obtidos pela Tribuna de Minas, Juiz de Fora registrou, até abril de 2025, 43 notificações de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), o valor representa quase metade das 85 notificações registradas no mesmo período de 2024.
No caso das síndromes gripais com suspeitas de Covid-19, também houve queda significativa: foram 1.737 notificações em 2024 contra apenas 93 em 2025.
Entre as medidas que contribuíram para essa redução, a PJF destacou a ampliação dos horários das Unidades Básicas de Saúde (das 7h às 19h nos dias úteis, com funcionamento aos sábados, das 7h às 12h), o aumento das equipes de Saúde da Família de 99 para 229 no último ano, a disponibilização de testagens rápidas para Covid-19, exames RT-PCR para detecção de diversos vírus respiratórios, acesso a medicamentos antivirais quando indicados e a intensificação da vacinação.
Atualmente, a vacina contra a Covid-19 está disponível no SUS para crianças, gestantes, idosos, pessoas com comorbidades e outros grupos prioritários. Já a vacina contra a Influenza está liberada para toda a população acima de 6 meses de idade, com 27.858 doses já aplicadas até esta quarta-feira (30).
A Prefeitura informou ainda que mantém uma avaliação contínua do cenário epidemiológico das síndromes respiratórias, com vigilância constante dos vírus em circulação, o que permite a implementação de estratégias eficazes para prevenção e mitigação dessas doenças.
Hospitais veem aumento de internações
O Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora (HU-UFJF) já sente os reflexos da nova onda. De acordo com o médico infectologista que trabalha na unidade, Rodrigo Souza, a situação também pode pressionar outras unidades hospitalares, “isso pode causar represamento desses pacientes nas unidades de pronto atendimento, o que pode causar superlotação das unidades, principalmente com crianças”.
O especialista confirmou o crescimento nos casos graves: “já recebemos aumento das confirmações de algumas doenças de transmissão respiratória na unidade”. Segundo ele, há uma predominância do VSR: “há a predominância do vírus sincicial respiratório, muito comum em crianças pequenas, causador da bronquiolite, mas também pode acometer pessoas mais velhas”.
Para Rodrigo, além dos cuidados, também é essencial saber diferenciar os quadros da doença para poder procurar a unidade adequada. “Pacientes que têm sintomas mais leves, como só coriza, tosse, sem falta de ar, devem procurar a unidade básica de saúde.” Já os casos mais graves precisam de urgência, “lábio arrocheado, falta de ar, respiração ofegante, dificuldade de manter-se em pé, (esses sintomas) requerem atendimento com mais agilidade, com mais recursos”, explica.
Entre alguns dos sinais de alerta, ele destaca “os pacientes que têm falta de ar, pacientes adultos que têm dificuldade para respirar, estão cansados, às vezes com fala entrecortada, não conseguem falar grandes frases sem fazer pausas, pacientes que têm falta de ar, que têm dispneia, são pacientes que merecem atendimento imediato”.
O infectologista também explica que a automedicação é motivo de preocupação, para ele, “alguns medicamentos podem mascarar sintomas e a pessoa ter o retardo no seu tratamento”. O medicamento para tratamento da influenza deve ser feito nos primeiros dias de sintomas”, explicou.
Prevenção: ventilação, máscara e vacina
O infectologista e professor do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFJF, Dr. Marcos Moura reforçou que as medidas de prevenção ainda são válidas mesmo após a pandemia. “As doenças respiratórias estão muito associadas a confinamento e, nesse período (outono e inverno), as pessoas ficam muito próximas, em ambientes fechados, em aglomerações, e aí facilita muito a transmissão desses vírus. Nesses casos, a medida eficaz é o uso de máscara, mas o distanciamento social é o mais adequado.”
Ele ressalta que ambientes fechados e que são comumente espaços de contaminação, como hospitais, salas de emergência e asilos, devem ser evitados ou, ao menos, fortemente ventilados, uma vez que a ventilação tende a coibir a contaminação. Para ele, pessoas com sintomas devem usar máscara. “A ventilação tende a coibir, mas é interessante que quem tem algum sintoma respiratório use a máscara também, porque essa pessoa pode evitar a transmissão para os demais.”
Segundo o Dr. Marcos, o clima frio também favorece a propagação: “no inverno, os ambientes fechados tendem a ficar com essas suspensões infecciosas mais tempo no ar, com pessoas mais próximas das outras, tudo isso facilita muito mais a transmissão”, explica. Além disso, sintomas como coriza, espirros e tosses induzidos pelo frio também ajudam a disseminar vírus.
Sintomas, grupos de risco e cuidados
Dr. Marcos afirma que os sintomas são muito semelhantes entre as viroses: “febre, dor no corpo, coriza, espirro, tosse… Uma tosse que, inicialmente, pode ser seca, pode se tornar produtiva, com muito catarro, que pode fazer com que a pessoa tenha sintomas respiratórios mais francos”. Segundo ele, o cansaço, dor no corpo e a fraqueza são sintomas comuns entre todas as viroses respiratórias. “A febre pode variar de pessoa a pessoa, pode ser febre mais alta em crianças e febre mais baixa em idosos.”
Ele explica que os quadros leves duram entre “3 a 7 dias”, mas a evolução precisa sempre ser acompanhada. “Os quadros mais arrastados tendem a se associar a pessoas que não fazem repouso, se hidratam mal ou vão evoluir para o quadro grave.”
Os grupos mais vulneráveis, segundo ele, são: “idosos, crianças de 6 anos de idade para menos e gestantes.” Entre os comórbidos, pacientes com doenças cardiovasculares, pulmonares, oncológicas, imunossuprimidos, hepatopatias, nefropatias.
Ele ressalta que o cuidado imediato passa por descanso e hidratação: “o repouso, o tratamento sintomático é fundamental — tratar a dor, tratar a febre, hidratar bastante o paciente e mantê-lo em repouso”. Ele também reforçou o papel da vacinação: “Nesse período, a gente tem que focar na vacinação de Covid, na vacinação de gripe para toda a população… e os idosos também podem vacinar de doenças pneumocócicas”, explica e reforça, “a recomendação sempre é a vacinação… seja a pública da gripe e da Covid, ou, no serviço privado, a vacina para vírus sincicial respiratório e pneumocócicas bacterianas.”