O Bairro Estrela Sul é retrato da falta do planejamento urbano de Juiz de Fora. O crescimento exponencial da área, nos últimos dez anos, trouxe problemas graves para a mobilidade de todo o entorno, que tem sua falha mais emblemática no trevo de acesso ao bairro, entre a Ladeira Alexandre Leonel e a Alameda Pássaros da Polônia. Quem passa pelo local de carro precisa ter paciência para suportar as retenções no tráfego e atenção redobrada para não se envolver em acidente. Afinal, são inúmeros os cruzamentos possíveis, vindo de todos os lados, sem qualquer controle efetivo do tráfego. Pior para os pedestres, que não têm qualquer ponto seguro para atravessar. A faixa de pedestre mais próxima, por exemplo, está em frente ao Hipermercado Bretas, a 200 metros de distância, a uma área de aclive. A Settra afirma que discute a situação com empresas do entorno, mas ainda não foi apresentada uma solução para o problema.
Na semana passada, o jornal observou o comportamento de motoristas e pedestres em um horário considerado de pico, depois das 17h. Durante cerca de 40 minutos, foram vários os flagrantes de riscos de acidentes e atropelamentos. Na descida da Alameda Pássaros da Polônia, embora não haja esta sinalização, alguns condutores fazem fila dupla para chegar ao cruzamento. Os que estão à direita, em sua maioria, descem a ladeira, mas outros cortam outros carros para seguir em direção ao shopping. Este mesmo espaço é disputado pelos motoristas que seguem a partir do Bairro Cascatinha, em direção à ladeira. “Estou na fila da esquerda esperando a minha oportunidade e vem um carro da direita cortando caminho. Prefiro dar a passagem para evitar batidas, mas tem gente que não pensa assim e parte para a discussão”, disse um motorista que estava na alameda.
No caso dos pedestres, o risco é flagrante. Para evitar atropelamentos, é inevitável correr entre uma calçada e outra. Quem tem mobilidade reduzida, como os idosos, chega a ficar vários minutos aguardando a vez, dependendo da oportunidade dada pelo próprio condutor. Em resumo, não existe qualquer forma segura de vencer o trecho uma vez que todas as possibilidades são arriscadas.
Polos geradores
No início do ano, a Tribuna divulgou o problema, alertando para as constantes batidas que ocorrem no cruzamento, algumas com feridos. Na época, a Settra informou que iniciaria um estudo para remodelar o tráfego no trevo, mas até o momento isso não foi feito. Procurado pela reportagem, o titular da pasta, Rodrigo Tortoriello, informou que a Prefeitura decidiu por um outro caminho. “Estamos trabalhando em conjunto com os polos geradores de tráfego da região para buscar soluções que melhorem a segurança e o fluxo neste trecho”, disse, acrescentando que o diálogo, em fase avançada, ocorre com representantes do Independência Shopping, do Hipermercado Bretas e do Spazio Design.
“Nossa ideia é, através do diálogo, chegarmos a uma solução para mitigar as consequências do aumento de fluxo por conta da atividade comercial deles. Os três estabelecimentos foram os que mudaram a ocupação urbana desta região, e por isso foram chamados para encontrarmos soluções em conjunto.” O secretário preferiu não adiantar qual seria o papel destas empresas, mas revelou que obras são necessárias. Procurada pela Tribuna, a assessoria de comunicação do Independência Shopping confirmou que está em negociação com a Settra, mas afirmou que não há nenhuma ação definida.
A assessoria disse ainda estar disponível para uma parceria no sentido de buscar uma solução. O Spazio Design também confirmou participação no estudo. Por meio de nota, a assessoria pontuou que “o Spazio Shopping Design está participando do estudo da Prefeitura para melhorar o sistema viário nesta região. Como um empreendimento sempre disposto a colaborar para o desenvolvimento econômico e social de Juiz de Fora, acreditamos que a iniciativa beneficiará a todos no entorno”. A assessoria do Hipermercados Bretas também foi procurada, mas não retornou até o fechamento desta edição.
Sem paliativos
De acordo com Tortoriello, a solução viária para o trevo não é simples. Ele explica que o acesso ao Estrela Sul foi construído em um outro contexto de ocupação urbana da área, que não levou em consideração a possibilidade de fluxo tão elevado. “Este trevo foi desenhado para outro tipo de movimento. É semelhante ao que vemos em rodovias para acessos de cidades pequenas. Não foi estimado, na época, que existiria ali o fluxo de pedestres que tem hoje, por exemplo. E para dar garantia de segurança, não basta a gente simplesmente implantar uma faixa de travessia. Eu não posso induzir o cidadão a achar que uma faixa deixará ele seguro, pois isso não vai acontecer.”
O secretário também foi questionado se existe a possibilidade de soluções a curto prazo, enquanto o diálogo com os empreendedores não chega a um resultado. Perguntado se um conjunto de semáforos reduziria os danos, o secretário afirmou que paliativos não resolverão. “Precisamos fazer um estudo da área, para entender o comportamento dos motoristas e quais destinos eles usam. São necessárias contagens volumétricas e simulações para chegarmos a um consenso. Qualquer paliativo, hoje, deixaria a população ainda mais em risco.”