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Aumento de fios nos postes da cidade desperta atenção e exige cuidado

fios
Poste na Rua Santo Antônio, nas proximidades do Parque Halfeld, fotografado
em abril de 2015 e em outubro de 2023 (Fotos: Leonardo Costa e Felipe Couri)
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Tudo parecia normal na vida de Maicon Lanzoni na manhã da terça-feira, 10 de outubro. Como de costume, já “na hora do almoço”, ele montou em sua bicicleta para entregar quentinhas pelo Bairro Bandeirantes, no trabalho em que ajuda a mãe para ganhar uma renda extra. Em seu trajeto, na Rua Antônio de Paula Mendes, o jovem não viu um fio partido, pendurado no poste até próximo ao solo, que acertou em cheio seu rosto.

“Quando me choquei com esse fio eu caí, mas imediatamente me levantei, pois não tinha visto meu rosto cortado, nem minha roupa suja de sangue. Peguei minha bicicleta e ia retornar a minha residência para avisar minha mãe que as quentinhas tinham caído, que era para ela arrumar outras, porém, uma moça que estava no local no momento do acidente não me deixou retornar, pois eu estava com o rosto ferido e sangrando muito”, relembra Maicon. O acidente rendeu um corte profundo no rosto e no pescoço do jovem, que precisou tomar 25 pontos.

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A regra ABNT/ NBR 15.214:2005, que dá conta das redes de distribuição de energia elétrica e do compartilhamento de infraestrutura com redes de telecomunicações, disponibiliza por volta de cinco faixas, com 10 centímetros cada, para serem utilizadas para a passagem dos cabos de internet (ópticos) ou dos de telefonia. A norma também avalia a altura que cada fio deve ter no poste, que é entre 5,20m e 5,70m, além de características como o diâmetro total dos cabos, peso máximo e até mesmo o lado correto de instalação no poste. Entretanto, em Juiz de Fora, assim como em várias cidades brasileiras, pode ser facilmente visto o uso desordenado dos postes. Cabos sem revestimentos, apenas pendurados ao poste e caídos no chão – como o que atingiu Maicon -, em altura mais baixa que o recomendado e até embolados no meio da rua evidenciam o excesso de fios nas ruas.

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Tal uso desordenado é preocupação, inclusive, de um artigo publicado pelos engenheiros eletricistas Alfredo Marques, Cláudia de Figueiredo e Érika Lasmar, em conjunto com a engenheira civil Maria Consuelita Oliveira. Conforme destacam os autores, “o compartilhamento de postes nas condições em que se apresentam atualmente, chama a atenção para a segurança dos trabalhadores e transeuntes, dos veículos em movimento, impactando negativamente o visual da cidade. Nem sempre a atividade de instalação ou manutenção das redes que atendem as telecomunicações é realizada observando as normas técnicas de trabalho em altura e, em especial, os cabos energizados”.

Cruzamento das ruas Espírito Santo com Santo Antônio, próximo à Catedral Metropolitana, fotografado em abril de 2015 e outubro de 2023

Instalações clandestinas

De acordo com o engenheiro eletricista Paulo Júnior, a maioria dos fios que ocupam os postes na região são de empresas de telecomunicações, e o excesso, em grande parte, pode estar associado ao uso irregular. “Para colocar esses cabos, as empresas têm que fazer projetos para encaminhar para a concessionária dos postes. Como esse trâmite é demorado, muitas empresas passam o cabo clandestinamente.” Na mesma linha, os autores do artigo citado acima destacam que, por conta do aumento das demandas tecnológicas, “as normas e códigos têm sido infringidos com as intervenções efetuadas nos centros urbanos”.

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No trabalho dos repórteres fotográficos Leonardo Costa e Felipe Couri é possível ver claramente o aumento do número de fios em diversos postes da cidade, entre os anos de 2015 e 2023. Responsável pela concessão dos postes em Juiz de Fora, a Cemig ressaltou que as prestadoras de serviços de telecomunicações são responsáveis pela fixação e preservação de seus cabos, fios e cordoalhas dentro das normas técnicas. “A responsabilidade pela operação, manutenção e correção de eventuais condições irregulares, assim como os custos, também é dessas empresas”. Atualmente, mais de 40 empresas possuem contrato de uso mútuo e de compartilhamento de postes.

Detalhe da rotatória da Rua São Mateus com Doutor Romualdo, em
abril de 2015 e em outubro de 2023

Risco iminente

Já sobre as irregularidades e o uso desordenado dos postes, a companhia afirmou que uma empresa específica faz um levantamento acerca da ocupação compartilhada dos postes por cabos, fios e cordoalhas das empresas de telecomunicações. “Quando são identificadas situações irregulares, inseguras ou chegam informações de terceiros sobre situações inadequadas, imediatamente a Cemig aciona, por meio de notificações, as empresas de telecomunicações. Em casos de risco iminente, a própria Cemig realiza o primeiro atendimento para tentar eliminar a condição de risco, até que as empresas responsáveis realizem as adequações definitivas nas respectivas redes. Ao observar descumprimento das cláusulas estipuladas em contrato pelas empresas que compartilham os postes, as sanções aplicadas pela Cemig podem ser desde notificações até, eventualmente, a retirada dos cabos da empresa verificada e a rescisão do contrato”, explica.

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Apesar de haver regramentos sobre o uso compartilhado dos postes, ele muitas vezes não é cumprido, observam Marques, Oliveira, Lasmar e Figueiredo. Como solução para o problema, os autores mencionaram que “transferir a rede aérea para subterrânea poderia ser uma solução para as cidades brasileiras, porém o custo do serviço é alto”. Enquanto isso, a Cemig orienta que, ao observar fios partidos ou caídos ao solo, por exemplo, a população acione a companhia imediatamente.

Poste na Rua Oswaldo Aranha, esquina com Avenida Presidente Itamar Franco, em abril de 2015 e em outubro de 2023

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