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Cuidador de idosos suspeito em caso de morte de advogado é preso

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Após prestar depoimento na delegacia, Carlos Viana foi levado para o Ceresp (Foto: Olavo Prazeres)
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O cuidador de idosos Carlos César Viana, 59 anos, foi preso no fim da manhã desta sexta-feira (3) pela Polícia Militar e encaminhado à 1ª Delegacia Regional, em Santa Terezinha, antes de ser conduzido ao Ceresp. Ele é investigado pela Polícia Civil no caso da morte do advogado aposentado Simeão Cruz, 80, para quem trabalhava há cerca de oito anos. O idoso faleceu em casa e foi sepultado às pressas, sem o conhecimento da família, no dia 13 de maio, no Cemitério Parque da Saudade. Um testamento, datado dois dias antes e assinado pelo idoso, deixou como herdeiros de seus bens o cuidador e a jornalista Denise de Assis Zaghetto, 52, suspeitos de estelionato. Ela já havia sido presa pela PM na quinta-feira (2), quando chegava em sua casa no Bairro Bom Pastor, Zona Sul, e está na Penitenciária Ariosvaldo Campos Pires. Já Carlos foi capturado na residência de uma amiga no Bairro Santo Antônio, região Sudeste, onde estaria desde a noite anterior. A Secretaria de Administração Prisional (Seap) confirmou a entrada dele no Ceresp.

“Tivemos informações de que o suspeito poderia estar escondido no local. Fizemos uma análise preliminar da movimentação, na expectativa de que algum morador pudesse sair. Após contato com a proprietária, o senhor Carlos se apresentou”, explicou um dos policiais responsáveis pela prisão, sargento Silvaney de Castro. “Ele foi bem cooperativo e esteve tranquilo durante toda nossa atuação, tanto que no deslocamento não houve a necessidade da utilização de algemas. Na delegacia, foi apresentado à autoridade policial para as providências decorrentes.” O cuidador seria submetido a exame de corpo de delito antes de ser encaminhado à unidade prisional.

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Os investigados foram presos mediante mandados de prisão, solicitados à Justiça pelo delegado à frente do caso, Eurico Cunha Neto, e concedidos pela juíza Rosângela Cunha Fernandes, da 1ª Vara Criminal de Juiz de Fora. O delegado esclareceu ter pedido as prisões preventivas dos investigados para não haver prejuízo às investigações. Segundo ele, no computador da jornalista foram encontradas pesquisas de passagens aéreas para o exterior. “Levando em consideração que ela poderia fugir ou prejudicar as provas, solicitei a prisão.” Já a detenção do cuidador, conforme a polícia, tem o objetivo de evitar a destruição de provas.

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Defesa vai pedir revogação de prisão preventiva

Os advogados que defendem Carlos César Viana acompanharam o cliente nos procedimentos no plantão da delegacia de Santa Terezinha e garantiram recorrer da decisão que colocou o cuidador atrás das grades. “Fomos pegos de surpresa. Nesse tipo de crime (estelionato), a prisão preventiva é desnecessária. Não estamos entendendo o motivo. Além disso, ele é (réu) primário, possui bons antecedentes e não é pessoa voltada ao crime”, disse Marcelo Toledo.

O advogado Giovanni Malta acrescentou que seu cliente é inocente e iria se apresentar às 16h desta sexta-feira (3), diretamente à delegada regional, mas acabou sendo detido antes pela PM. “Ele não teve participação (no estelionato), e a morte (de Simeão Cruz) foi natural.” Diante das suspeitas de o testamento ter sido forjado, a Polícia Civil chegou a fazer a exumação do corpo do idoso a fim de verificar a causa do falecimento. Os restos mortais foram enviados para necropsia em Belo Horizonte, mas ainda não há previsão para o resultado. Toledo informou que iria ao Fórum Benjamin Colucci verificar o fundamento do pedido de prisão preventiva. “Vou solicitar a revogação. Caso seja indeferida, vou entrar com habeas corpus em Belo Horizonte. O Cesar preenche todos os requisitos para ficar em liberdade e vem colaborando com toda a instrução criminal”, completou.

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Na quinta-feira, quando Denise Zaghetto foi capturada, o advogado da jornalista, Ulisses Sanches da Gama, afirmou que a apresentação de sua cliente à delegacia também já estava planejada. Diante da prisão, a defesa entrou com pedido de revogação da preventiva, considerada ilegal pelo advogado, que também pretende recorrer ao TJMG.

Testamento teria sido assinado por idoso “de forma debilitada”

Segundo as investigações iniciadas em 8 de junho, o testamento deixado por Simeão Cruz teria sido redigido pela jornalista e beneficiária Denise Zaghetto e levado até o idoso em sua residência antes de ele morrer. Para o delegado Eurico Cunha Neto, o advogado aposentado teria assinado o documento “de forma debilitada”. “Tudo leva a crer que as coisas não ocorreram de forma correta e que aconteceram diversas práticas criminosas.” Ainda de acordo com ele, os depoimentos dos envolvidos foram contraditórios e há fortes indícios de estelionato, em uma prática conhecida como “golpe do testamento”. O documento foi assinado por três testemunhas, sendo elas uma amiga, 57, e um ex-namorado da jornalista, 58, além de um ex-motorista de Simeão, 28, que, segundo Eurico, não estavam presentes no momento em que o idoso assinou.

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Já em relação ao óbito, o delegado afirma ser necessário aguardar o resultado do laudo após a exumação do corpo. As hipóteses de homicídio e latrocínio (roubo seguido de morte) ainda não foram descartadas. A família da vítima entende que o Samu deveria ter sido acionado, e a necropsia realizada na ocasião do falecimento.

Durante buscas nas casas dos investigados, no decorrer das apurações, foram apreendidos celulares, notebook, documentos, medicamentos e R$ 8.700, que seriam provenientes de um saque de R$ 40 mil realizado na conta de Simeão. Ainda é apurado o destino de R$ 39 mil referentes à venda do veículo do aposentado, poucos dias antes de ele morrer, e o desvio de outros bens. A Polícia Civil também solicitou a quebra de sigilo bancário do idoso, da jornalista e do cuidador.

Apesar de Simeão não possuir descendentes diretos vivos e ter os dois irmãos falecidos, a família formada por dez sobrinhos estranhou a morte dele e o testamento, já que o idoso teria bom relacionamento com todos e teria sido sepultado às pressas, sem que os parentes fossem comunicados. Ao buscar informações, os familiares descobriram que o cuidador, a jornalista e uma terceira pessoa teriam providenciado o enterro, sem velório. Para o sepultamento no prazo inferior a 24 horas, foi exigido o atestado médico, no qual constam como causas da morte insuficiência cardíaca e hipertensão arterial. “Ele faleceu às 7h e foi enterrado às 13h. A gente espera esclarecer isso tudo, porque nem nos deixaram despedir do meu tio”, disse o sobrinho Marcelo Cruz, 49, em entrevista anterior à Tribuna.

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