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Homem é baleado por engano durante perseguição policial

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Um jovem de 25 anos foi alvejado por policiais militares depois de ter sido confundido com assaltante. Os disparos foram feitos durante uma perseguição na rodovia AMG-3085, na noite da última terça-feira (30), e um dos tiros acertou a coluna vertebral de Samuel Rodrigo dos Santos. Ele viajava com o cunhado e um colega rumo a Ubá, onde mora com a família e trabalha como balconista de uma farmácia, quando ocorreu o episódio. Os policiais teriam confundido o carro do trio, um sedan, com um modelo idêntico que havia sido tomado de assalto naquele mesmo dia. As vítimas alegam que os militares, todos lotados no Pelotão Rodoviário da Polícia Militar, só viram que se tratava de um engano depois que ouviram o anúncio no rádio da viatura dando conta de que o carro roubado já havia sido encontrado na Zona Norte de Juiz de Fora. Dois dos três militares envolvidos na perseguição foram presos.

Conforme o relato do baleado, que aguarda vaga na Santa Casa de Misericórdia e está sem movimento em uma das pernas, eles trafegavam pela rodovia, por volta de 21h30, quando perceberam um carro se aproximar em alta velocidade. Samuel era o único que estava no banco de trás. “A estrada é muito escura, o carro atrás de nós estava com o farol alto e parecia que queria ultrapassar. Hora nenhuma vimos que era a polícia. O rapaz que estava dirigindo chegou a encostar para que eles passassem, mas como eles continuaram atrás, seguimos. Já estávamos quase chegando ao trevo de Coronel Pacheco quando deram o primeiro tiro. Na hora achei que era o escapamento. Só depois que continuaram foi que vi que era tiro, aí desesperamos, achando que era um assalto”, disse.

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Na ânsia de tentar fugir dos perseguidores, o condutor acelerou o carro. Segundo os três ocupantes, os militares continuaram a atirar. Foi quando um dos projéteis atingiu Samuel nas costas. “Comecei a gritar de dor, logo em seguida, eles ligaram o giroflex, aí paramos, já na MG-353. Deus nos salvou, podia ter sido muito pior”, comentou. A preocupação de Samuel agora é com sua saúde. “Estou aqui jogado e não sei quando vai sair minha vaga. Não estou mais conseguindo movimentar uma perna, preciso operar com urgência”, afirmou.

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‘Em momento algum vi que se tratava da polícia’

Quem dirigia o carro era Alexandre José Gonçalves, 44, que também trabalha na farmácia. Segundo ele, no momento em que a viatura se aproximou com os faróis altos, a primeira coisa que pensou foi que era alguém com pressa. “Faltava cerca de 5 quilômetros para chegarmos ao trevo, voltávamos de Varginha. Na mesma hora reduzi e joguei o carro para a direita, para que eles passassem. Em momento nenhum vi que se tratava da polícia. Em seguida ouvimos o primeiro pipoco, pensamos ser do escapamento. Logo depois, mais barulhos. O Samuel ainda brincou que o cano de descarga estava muito ruim. Só depois é que identificamos serem tiros. Comecei a gritar que era assalto e acelerei. Em seguida, o Samuel foi baleado. Saindo do trevo pensei em ir para o posto da polícia que tem na rodovia, mas aí ligaram o giroflex e parei. Ainda imaginei: será que é bandido usando carro falso da polícia?”, comentou.

Alexandre relatou que só depois que foram abordados – o ponto exato da MG-353 ele diz não se lembrar – é que os militares ouviram no rádio o chamado dizendo que o carro roubado havia sido recuperado em Juiz de Fora. “Aí eles se assustaram e falaram: ‘meu Deus’. O tempo todo falamos que éramos trabalhadores, que era um engano. Falamos que o Samuel estava ferido, eles acharam que era mentira. Em alguns minutos, chegaram mais umas nove viaturas. Como não conseguiram contato com o Samu, eles mesmos socorreram o Samuel.” Para Alexandre, foi um erro sem justificativa. “O final da placa do carro que tinha sido roubado era 3636, e era de Belo Horizonte. O nosso, o final é 5751, de Ubá. Como confundem? Foi Deus estarmos aqui, vivos.”

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Carro roubado e recuperado na Barreira do Triunfo, com o qual os policiais teriam confundido o veículo com placa de Ubá

O carro em que viajavam era do cunhado de Samuel, Rodrigo Rosário de Souza, 33, dono da drogaria onde todos trabalham. Ele estava no banco do carona. Conforme seu testemunho, mais de 11 tiros atingiram seu carro. Os pneus traseiros também foram furados pelos projéteis. “O que questiono é por qual motivo não ligaram o giroflex, não se identificaram. Atiraram sem saber. E se matam alguém? Poderia ser qualquer pessoa. Hoje meu cunhado está lá jogado no hospital. Ainda fizeram uma ocorrência de ‘direção perigosa’, colocando o Alexandre como autor. É absurdo”, desabafou.

Conduta dos militares será apurada

A Polícia Militar confirmou que foram feitas duas ocorrências, uma delas de lesão corporal, na qual Samuel é vítima, e os militares, autores. Já no outro documento, Alexandre José Gonçalves é autor pelo crime de direção perigosa. Ele recebeu voz de prisão, mas foi ouvido e liberado. De acordo com o comandante do Pelotão de Trânsito da Polícia Militar, tenente Júlio César de Almeida, os três militares envolvidos, dois cabos e um sargento, estavam na viatura de onde foram feitos os disparos. Um dos cabos, que conduzia o carro, não teria atirado. Os outros dois militares foram presos no dia do fato pelo crime de lesão corporal. Os três tiveram suas armas apreendidas. Ainda não se sabe qual deles atingiu Samuel. Eles foram liberados dois dias depois do episódio.

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Ficha de vistoria aponta como motivo da apreensão “Direção perigosa” (Foto: Reprodução)

O tenente Júlio César Almeida acompanhou toda a ocorrência. Ele destacou que se tratou de um engano, constatado após a abordagem, e que não havia nada de irregular ou ilegal no veículo ou com os ocupantes. Ele afirmou também que os três envolvidos nunca tiveram passagem pela polícia. O oficial disse, entretanto, que os militares alegaram que estavam com o giroflex e sirene ligadas. “Os militares estavam fazendo uma blitz em frente ao nosso posto policial, na MG-353, quando chegou via rádio o anúncio de que tinha ocorrido um roubo de carro na Zona Norte da cidade. Três homens eram os suspeitos. A possível rota de fuga deles seria a AMG-3085, então eles se deslocaram para lá. A dona do carro roubado disse que não sabia a placa do mesmo, pois havia acabado de comprá-lo, e por este motivo só tínhamos o modelo e cor do carro. Ao chegar à rodovia, a guarnição se deparou com o carro de Ubá. Eles alegam que deram ordem de parada, que não foi acatada”, relatou.

Segundo o comandante, a versão dos policiais dá conta de que o condutor do carro perseguido fez diversas manobras perigosas e que andou em zigue-zague na pista. A alegação dos cabos e do sargento é que o sedan só parou quando caiu em uma valeta. “Logo em seguida que o carro parou e foi feita a abordagem dos três ocupantes, foi avisado no rádio que o carro roubado havia sido encontrado no Bairro Barreira do Triunfo. Não está claro o motivo de não terem parado. Não havia nada de ilegal com eles. Isso tudo será apurado no processo”, comentou.

O oficial destacou que é sempre frisado com a tropa a necessidade da cautela nas abordagens. A principal preocupação é com o uso da arma de fogo. “Os militares atiraram no intuito de parar o carro, que, naquele situação, poderia bater em outro. Não para atingir ninguém. É preciso ter critério para atirar, orientamos que se tenha discernimento quando for usar a arma de fogo. Fazemos aquilo que chamamos de uso diferenciado da força, temos instrução sobre isso, vamos utilizá-la em cada estágio de acordo com a necessidade”, finalizou.

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