Um homem, de 31 anos, acusado de espancar e matar com pelo menos 30 facadas a companheira Jaqueline Bianca Souza de Paula, 25, está sendo julgado, na tarde desta quinta-feira (3), no Tribunal do Júri de Juiz de Fora. O crime, qualificado como feminicídio, aconteceu no dia 1º de outubro de 2020 na casa onde a vítima morava, na Rua Abdo Dib, no Bairro Marumbi, Zona Leste. Inconformado com o término do relacionamento de cinco anos, o suspeito teria esperado discretamente a mulher chegar à residência para atacá-la. Ele foi preso em flagrante depois do assassinato, quando lanchava em um trailer da Avenida Getúlio Vargas, e estaria planejando fuga para o Rio de Janeiro. O homem segue detido preventivamente no sistema prisional, segundo a assessoria da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp).
A sessão de julgamento teve início às 12h30 no Fórum Benjamin Colucci e é presidida pelo juiz Paulo Tristão. De acordo com a denúncia do Ministério Público, feita pelo promotor Hélvio Simões Vidal, no dia do crime, por volta das 18h30, o acusado, “com intenção de matar, por motivo torpe, com meio cruel e mediante recurso que impossibilitou a defesa da vítima, desferiu facadas contra Jaqueline, sua companheira, atingindo-a no crânio, hemiface direita e esquerda, região cervical esquerda, tórax e abdômen, braços e mão esquerda, levando-a a óbito no próprio local dos fatos, em consequência de hemorragia grave, secundária a traumatismo vascular do pescoço, conforme laudo de necropsia”.
Ainda segundo o MP, além de pelo menos 30 lesões perfurantes, o denunciado produziu na vítima equimoses (roxos) nos dois lados do rosto e nariz, nos braços e pernas, e escoriações no tórax. “Lesões estas indicativas de brutalidade impiedosa e espancamento concomitante às lesões por arma branca.”
De acordo com a denúncia, antes de morrer, mas já agonizando, Jaqueline teria dito a um parente que o companheiro foi quem a havia esfaqueado. O suspeito foi visto por vizinhos chegando minutos antes de “agredir brutalmente” Jaqueline e deixando o local onde ela morava, na condução de uma moto. “Diante das características da motocicleta, repassadas ao militares, ele foi identificado, casualmente, quando estava em uma lanchonete na Avenida Getúlio Vargas, esquina com a Rua Marechal Deodoro, onde fazia um lanche, se preparando para fugir para o Rio de Janeiro; no entanto, foi preso em flagrante.”
A Promotoria destacou que o denunciado confessou o crime à polícia. Na ocasião, contou que morava com a vítima há cinco anos e que, nos dia dos fatos, se desentenderam por não aceitar a ruptura do relacionamento. “Ele pegou uma faca de cozinha e desferiu diversos golpes contra Jaqueline, além de espancá-la de modo animal, tendo evadido do local em sua moto e jogado as roupas sujas de sangue no Paraibuna.”
Dessa forma, o MP concluiu que o feminicídio foi praticado no âmbito da violência doméstica e familiar pelo acusado, por motivo torpe, em razão do sentimento de posse e por não aceitar o fim da relação. “Ao submeter Jaqueline a uma ‘surra’, com inumeráveis lesões com arma branca e espancamento, o denunciado utilizou meio cruel e impiedoso, causando sofrimento desnecessário à sua companheira.”
Também foi apurado que, apesar de estar separando da vítima, o homem ainda possuía a chave da casa onde ela morava. Para surpreendê-la, ele teria escondido a moto para que a mulher não percebesse sua presença e ficou aguardando a chegada dela, armado com a faca, “não permitindo qualquer defesa da vítima”.
Durante a pronúncia, a Justiça destacou que, quando era menor de idade, o denunciado praticou ato infracional análogo a homicídio contra sua ex-namorada. Jaqueline também já havia sofrido violência doméstica anterior, e pelo menos um boletim de ocorrência foi registrado. Segundo o documento, de 15 de maio de 2016, a jovem contou à polícia que o casal havia saído para se divertir. No entanto, o homem teria ficado para trás e chegou em casa depois, muito nervoso, gritando e a agredindo com socos, tapas e uma mordida no rosto. Na ocasião, ele ainda ameaçou matá-la caso acionasse a polícia e chegou a ser preso em flagrante.