O 4º Depósito de Suprimentos (DSup) do Exército voltou a ser palco de escândalos. Depois de militares lotados na unidade terem sido condenados por desvio de suprimentos e de centenas de armas que deveriam ter sido destruídas serem vendidas para terceiros, inclusive para traficantes, a unidade é novamente cenário de um Inquérito Policial Militar (IPM). Desta vez, um ex-comandante do Depósito, um subcomandante – ambos coronéis há quase 30 anos de serviço na corporação – e um capitão que ocupava a função de fiscal administrativo foram indiciados por suspeita de possíveis irregularidades no uso de verbas do DSup. O Ministério Público Militar apura a participação deles em esquema que beneficiaria uma empresa na realização de obras antes de o processo licitatório ter sido concluído. Acusado de corrupção ativa e desobediência à lei de licitações, o ex-comandante impetrou habeas corpus contra ato do encarregado do inquérito, em Belo Horizonte, solicitando ainda a desconstituição do indiciamento. Em dezembro do ano passado, porém, o Superior Tribunal Militar decidiu, por unanimidade, denegar a ordem por falta de amparo legal. Na prática, o inquérito continua, e o Ministério Público Militar poderá ou não oferecer denúncia contra os envolvidos. Como as investigações estão em curso, os nomes dos suspeitos não serão divulgados.
Apesar dos levantamentos terem sido iniciados em março do ano passado, o então comandante do DSup continuou à frente da unidade até novembro. Em entrevista à Tribuna, o comandante da 4ª Brigada de Infantaria Leve, general Eduardo Paiva Maurmann, explicou que o levantamento das primeiras denúncias anônimas contra o comando do DSup não apontou nada até que, no final do ano passado, apareceram novas informações.
“Em uma apuração sumária, não vamos afastar um profissional com quase 30 anos de serviço e uma carreira sem nada que o desabone, porque houve uma denúncia anônima. Antes disso é feita toda uma apuração e, inicialmente, não se verificou nada. Passado um tempo, na segunda denúncia recebida, começamos a realizar um trabalho de inteligência para verificar se tinha algum fundamento, foi quando surgiu um fato novo: uma pessoa que já tinha sido ouvida mudou o depoimento. Em novas diligências, chegamos a mais de 500 horas de gravações. Uma das diligências realizadas esta semana (última semana de janeiro) tinha o objetivo de verificar se essas gravações eram dos autores. É prematuro crucificar os oficiais, porque são indícios de crime, já que o IPM não está concluso, embora a gente acredite que o Ministério Público vai acatar a denúncia. Eles vão ter toda a possibilidade de defesa e podem vir a responder na Justiça. Quem vai julgá-los será a Justiça, não somos nós. Se a Justiça vier a condená-los, eles sofrerão as sanções do Exército. O que nos diferencia como uma instituição de grande credibilidade é a honestidade, a probidade, e a gente persegue isso com muito afinco. A nossa grande preocupação é reforçar os nossos valores e não participar de impunidade. O Exército, na dúvida, deixou de entregar ao comandante o distintivo do comando”, afirmou o general.
Se os envolvidos forem denunciados, responderão a processo judicial. Em caso de condenação, eles poderão ser excluídos das Forças Armadas.