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Movimento vegano cresce e abre mercado em Juiz de Fora

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Há cinco anos, as palavras vegano/vegetariano raramente eram vistas nas embalagens dos produtos disponíveis nos supermercados, armazéns e até mesmo nas lanchonetes e outros estabelecimentos alimentícios da cidade. Com o tempo, os produtores e os empresários demonstram uma preocupação maior em oferecer opções para as demandas desse público. Os menus também ganharam itens com elementos que substituem especialmente a proteína animal. Mas quem é adepto do estilo de vida que busca excluir todas as formas de exploração e crueldade contra os animais, como define a Vegan Society, ainda destaca que é preciso avançar em muitas frentes.

Para adotar o estilo de vida que tem base na ética animal, é preciso balancear alimentação e fazer substituições adequadas (Foto: Fernando Priamo)

Pesquisa do Ibope Inteligência, de 2018, mostra que pelo menos 14% da população se declara vegetariana. Os dados revelam crescimento nessa população de 75% na comparação com levantamento anterior, feito em 2012. Esse recorte representa um número da ordem de 30 milhões de brasileiros. O estudo ainda aponta crescimento do interesse por produtos sem componentes de origem animal em mais da metade dos entrevistados (55%), que afirma que consumiria mais produtos veganos se as informações sobre o assunto estivessem mais destacadas nas embalagens ou se o preço fosse semelhante ao das opções convencionais (60%). O levantamento foi feito em 142 municípios, considerando capitais, periferias e interior das regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sul e Sudeste. A margem de erro é de dois pontos percentuais, com nível de confiança de 95%.

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Outras iniciativas, como o MapaVeg, se dedicam a mapear o crescimento do número de vegetarianos e veganos no Brasil, por meio da inscrição dessas pessoas na página do projeto. Atualmente, São Paulo e Rio de Janeiro encabeçam a lista dos estados com mais veganos e vegetarianos e Minas Gerais fica na quarta posição, atrás do Rio Grande do Sul. Entre as cidades, Juiz de Fora ocupa a 29ª posição no país e a terceira em Minas. Para além de mostrar que o movimento está em crescimento, há a necessidade de dispor de informações de qualidade para o público.

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“Temos alcançado um esclarecimento maior, porque os debates, antes, ficavam focados exclusivamente na alimentação. Mas o veganismo vai muito além disso. Hoje vemos um maior número de eventos e palestras que abordam os direitos dos animais, abrindo o assunto para um âmbito maior”, destaca o coordenador da Sociedade Vegetariana Brasileira em Juiz de Fora (SVB- JF), Ewerton Braga. Ele destaca que é preciso entender a complexidade que envolve o direito dos animais, apontando a necessidade do reconhecimento da extensão desse direito a todos os animais e não só para os domésticos”. Entender essa essência é o primeiro passo, segundo Ewerton. Para ele, é preciso relacionar o grande consumo de derivados de matéria-prima animal com a necessidade de uma conexão do meio ambiente como um todo.

Substituições balanceadas

Há várias razões para adesão ao veganismo/vegetarianismo: pode ser por questões relacionadas à saúde; preocupações com as relações ambientais; a religião; mas a principal é a ética animal. Embora envolva um consumo consciente de todos os produtos, a alimentação é uma das principais preocupações. “A alimentação vegana tem bases científicas que trazem vários benefícios e pode prevenir e ajudar no tratamento de diversas doenças. Os maiores guidelines do mundo, como a Organização Mundial da Saúde (OMS), também mostram que qualquer pessoa pode adotar uma dieta vegetariana ou vegana, em qualquer etapa da vida, seja gestante, lactante, idoso, adolescente, desde que a alimentação seja balanceada nutricionalmente”, pontua Luiza Magella, nutricionista e chefe de cozinha.

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Segundo Luiza, quem retira os produtos de origem animal do prato deve fazer as substituições corretamente. “Muita gente para de comer carne sem ter muita consciência sobre como substituir os alimentos, principalmente os que são fontes de proteína. É o que mais gera dúvida. É importante fazer essa correlação da maneira correta, ter um prato variado, comer comida de verdade, de preferência, orgânica. Não é só colocar carboidratos ruins no prato, processados e industrializados. Com boas substituições, você vai estar bem nutrido e não precisa se preocupar com deficiências. Ela ainda reforça que essa não é uma forma de alimentação cara e inacessível, pelo contrário.

“Muitas pessoas também têm a visão equivocada de que ser vegano é ser 100% saudável, mas a indústria está trabalhando forte nesse mercado. Então, é preciso ter cuidado. Não adianta parar de comer carne e só ingerir junk food (comida rica em calorias e com baixa qualidade nutritiva). Geralmente, vegetarianos e veganos costumam ter uma consciência maior, mas não é regra”, salienta a nutricionista.

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Ela aconselha a quem quiser se tornar vegano ou vegetariano que procure um profissional capacitado, que possa indicar boas escolhas e substituições. “Quando as pessoas tiram a proteína animal de forma geral, não só a carne, mas também o leite e os ovos, precisam saber como substituir, procurar boas fontes de informação e dados corretos. O leigo que faz buscas pela internet vai pensar que é muito difícil, mas é mais fácil do que parece. As pessoas que complicam demais o que é fácil.” Um dos desafios, segundo ela, é quebrar tabus nutricionais, como a possibilidade de falta de proteína, cálcio, ferro, e a vitamina B12. Mas Luiza adverte que é possível encontrar equivalentes entre os vegetais. “Se tiver um aporte equilibrado, é possível obter todos esses elementos em produtos que não são de origem animal”.

Consumo consciente

Família em harmonia – Priscila, Camilo e o filho Saulo são veganos (Foto: Fernando Priamo)

Para a microempreendedora do ramo alimentício Priscila Ferraz Baltar, dona da Mult.Veg, o veganismo é o futuro, embora ainda considere não ser possível se chegar a ser 100% vegano, porque a iniciativa engloba muitos fatores que vão além da questão alimentar. Por isso, ela prefere usar o termo consumo consciente. “Isso ajuda as pessoas a abraçarem e a acolherem mais o movimento”. Ela parou de comer carne vermelha por conta de sua saúde. Ela tinha adotado uma cachorrinha e a veterinária que a atendeu é vegana. Ela recomendou o uso de spirulina, o que a levou a conhecer um produtor de tofu chamado Laércio, que é vegano há muitos anos.

“Ele (Laércio) começou a mandar informações muito pertinentes em relação ao veganismo. Não tinha como não parar para refletir e ressignificar. Eu engravidei e logo depois senti meu corpo muito diferente do que era antes. Pesquisei muito a respeito e entendi que o ideal seria retirar a carne vermelha da alimentação. Antes de tudo, foi por essa questão de saúde. Depois, vira um efeito cascata. O efeito positivo que você vê em você, você quer levar para o meio ambiente e para os animais.” Priscila propôs um trabalho a Laércio. A produção de tofu estava crescendo e ele precisava de ajuda. “Descobri muitas coisas e fui vendo muitas oportunidades, muita carência de produtos. Só vendíamos tofu, e as pessoas chegavam perguntado se tínhamos carne de jaca. Eu respondia: ‘não tem, mas vou ter que dar um jeito de ter’. Aí eu comecei a produzir carne de jaca.”

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Dois anos depois de iniciar sua transição, ela ainda considera que passamos por um processo de conscientização. “Certos aspectos são culturais. Temos também muita falta de informação, e ela é a chave para tudo. Se as crianças tivessem acesso nas escolas desde pequenas, com conhecimento atualizado, podendo colocar em prática o que aprendem, seria um grande passo.” Ela ainda explica que não é tão simples tirar a carne do prato, seja em função do paladar ou das relações sociais. Ela considera que muitas pessoas ainda consomem carne todos os dias porque é um hábito. “Falta consciência na hora de trocar um bicho por um germinado, um grão, um cereal. Passa por sair da zona de conforto, por buscar mais informação” Hoje, não só Priscila, mas o marido dela, Camilo, e o filho, Saulo, também são veganos.

Busca por melhor qualidade de vida

O encontro da chefe de cozinha Sara Manso, dona da marca Delícias da Sara, com as ideias do veganismo aconteceu quando ela e a mãe dela descobriram que eram intolerantes à lactose. “Minha mãe teve uma doença no intestino que também a tornou intolerante a glúten. Fomos entender que é uma questão genética da nossa família. Tomei a decisão de não consumir mais leite e comecei a produzir para que a minha mãe tivesse o que comer.”

Com as vendas também vieram os pedidos para que ela fizesse receitas sem carne e sem ovos. Ela passou a frequentar palestras sobre o tema, buscar informações, e tudo isso foi somado pelo carinho que tem com os animais. “Resgato e adoto gatos desde que me conheço por gente. Fui ligando uma coisa com a outra. Porque não faz sentido explorar um e resgatar e matar o outro. Foi uma conexão que aconteceu aos poucos”, detalhou. Isso a levou a repensar o seu consumo em outras áreas, inclusive. Ela conheceu a cosmética natural, que agride menos o ambiente. ´”Precisamos pensar nas próximas gerações e fazer com que os animais tenham uma vida mais digna, podendo ter acesso aos mesmos direitos que nós temos. Tudo isso foi uma mudança na minha vida.”

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Com a alimentação sem produtos de origem animal, Sara viu suas taxas como colesterol e açúcar no sangue baixarem, assim como a pressão arterial, que também estava alta. “Não digo que sou uma pessoa que fica tentando convencer todo mundo a fazer o mesmo. Ainda consumo muita comida considerada junk food. Mas tenho uma consciência alimentar diferente. Hoje, depois de três anos, há muitas opções que não tínhamos antes.”

Depois que passou a produzir alimentos veganos, Sara percebeu que as preocupações vão além de não conter matérias primas de origem animal. “As pessoas se preocupam em saber sobre o que estão comendo, em ser algo sustentável, que não agrida o meio ambiente e que também não estejam associados à exploração humana.”

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