O número de óbitos em decorrência da Covid-19, no mês de julho, quase dobrou em Juiz de Fora, em comparação ao mesmo período do mês passado. De acordo com dados da Secretaria de Saúde, neste mês, foram confirmados 37 óbitos. Em junho, o número de mortes por Covid-19 foi de 21. O levantamento feito pela Tribuna considera os registros pela data de ocorrência do óbito, e não por data de divulgação.
A crescente ocorre após um período em que a cidade registrou poucas mortes por Covid-19. Conforme a secretaria, em abril, cinco pessoas morreram vítimas da doença, e, em maio, quatro. O infectologista Mario Novaes afirma que esse aumento dos óbitos tem relação, principalmente, com a baixa adesão às doses de reforço e o abandono das medidas primárias de proteção, como o uso de máscaras e evitar aglomerações. “A procura pelo reforço está ínfima. O município liberou a aplicação do imunizante para todos acima de 3 anos, e a população não está se vacinando. O que ocorre é que o vírus vai atingir principalmente essas pessoas, que não estão protegidas e se tornam mais suscetíveis à doença.”
Ele ainda alerta para maior transmissibilidade das subvariantes BA.4 e BA.5 da Ômicron, responsáveis por novos surtos da Covid-19 em diversas partes do mundo. Estas, somadas ao período mais frio e às chamadas “doenças de inverno”, têm sua disseminação potencializada. “Muitas pessoas estão contaminadas e nem sabem, acham que é um resfriado típico do tempo frio.”
Os dados disponibilizados pela Secretaria de Saúde também comprovam a maior contaminação. O boletim epidemiológico mostrou um aumento de 270% no número de casos confirmados entre maio e junho. Em maio, foram divulgados 743 casos, e em junho, 2.797. Os dados de julho ainda estão em atualização, disponíveis apenas até o período do dia 19, quando já havia 1.933 novos casos.
Maioria dos óbitos é de idosos
A maior parte das mortes por Covid-19 ainda é de pessoas idosas, acima de 60 anos. Mas em julho, dos 23 óbitos detalhados pela PJF, estavam uma mulher de 55, um homem de 47 e uma criança de apenas 1 ano. A menina tinha doenças associadas: doença cardiovascular crônica, doença neurológica crônica e pneumopatia crônica. Conforme autoridades em saúde, as comorbidades, além da idade, são fatores de risco para que a Covid-19 se agrave. A Secretaria de Saúde da PJF não divulga a situação vacinal das vítimas.
O infectologista, Marcos Moura, afirma que atualmente é difícil observarmos casos de pacientes sem comorbidade que evoluem para óbito por conta da Covid-19. “Geralmente são pacientes que acabam sendo internados por outros motivos e também estão com Covid”.
Por outro lado, ele atenta para a redução no número de leitos específicos para a doença. “Durante o inverno ocorre o crescimento de doenças respiratórias, e os pacientes com Covid acabam disputando um espaço com outras enfermidades.”
Para ele, o aumento dos casos positivos se dá devido ao fácil acesso aos mecanismos de testagem. “Hoje em dia temos testes rápidos em farmácias, de fácil acesso e baratos. Se compararmos com ano passado, tínhamos menos testes positivos e um nível de mortalidade mais preocupante. Atualmente, o número de casos é muito superior ao de mortes, principalmente por conta da vacinação. Por isso é importante manter o esquema vacinal em dia, mesmo que a doença esteja se tornando endêmica.”
Em resposta à Tribuna sobre o número de leitos voltados para Covid-19, a Secretaria de Saúde afirmou que “cumpriu, no dia 20 de maio, a determinação do Ministério da Saúde e da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, e desmobilizou os leitos das Unidades de Tratamento Intensivo (UTI) exclusivas para a Covid-19 na rede hospitalar da cidade, que passaram a atender, como leitos normais, a população em geral.” Ainda por meio da nota, a assessoria da PJF ressaltou a importância de a população procurar os postos de vacinação para realizar a imunização com as doses de reforço.
Nível de transmissão ‘elevadíssimo’
Segundo o boletim informativo da plataforma JF Salvando Todos publicado no dia 6 de julho, o número de casos registrados até então apresentava sinais de estabilização, embora em um patamar muito elevado, enquanto o número de vidas perdidas já começava a apresentar “aumentos preocupantes”.
O dado mais recente do boletim estipulava que o nível de transmissão da Covid-19 em Juiz de Fora era “elevadíssimo”, uma vez que foram registrados 140,43 casos por 100 mil habitantes. O nível é considerado elevadíssimo quando há registro de 100 ou mais casos por 100 mil habitantes.