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Jornalista investigada em caso de morte de advogado é presa

Fachada da penienciária ariosvaldo campos pires; MP fez ação contra o tráfico no local

Penitenciária Ariosvaldo Campos Pires em Juiz de Fora

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Foi presa, no início da tarde desta quinta-feira (2), a jornalista Denise de Assis Zaghetto, de 52 anos, investigada no inquérito policial que apura a morte do advogado aposentado, Simeão Cruz, 80. O idoso foi sepultado no dia 13 de maio, no cemitério Parque da Saudade, cinco dias após assinar um testamento, deixando como herdeiros ela e o cuidador dele, Carlos César Viana, 59.

A prisão ocorreu em virtude de um mandado de prisão preventiva, expedido pela juíza Rosângela Cunha Fernandes, da 1ª Vara Criminal de Juiz de Fora, na quarta-feira (1º). O cumprimento da prisão foi realizado pela Polícia Militar, por volta do meio-dia. Segundo informações da Polícia Civil, após ser capturada, a jornalista teria passado por exame de corpo de delito e, em seguida, encaminhada para a Penitenciária Ariosvaldo Campos Pires.

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A Secretaria de Administração Prisional confirmou a entrada da suspeita na unidade. Denise foi presa quando chegava a sua casa, no Bairro Bom Pastor, na Zona Sul, e não ofereceu resistência. “Deslocamos para sua residência e fizemos contato com os moradores, mas eles disseram que ela não se encontrava. Ficamos próximos ao local fazendo campana, e, quando ela se aproximou, fizemos a prisão”, disse o sargento Carlos Henrique Maurício, da 4ª Companhia de Policiamento Especializado da PM, acrescentando que, após ela ser detida, foi conduzida para a delegacia, ficando sob responsabilidade do delegado de plantão.

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As investigações sobre o caso envolvendo as circunstâncias da morte de Simeão e um possível estelionato, em um crime conhecido como golpe do testamento, tiveram início há quase dois meses, quando a família de Simeão procurou a Polícia Civil. Conforme as apurações,o idoso foi enterrado às pressas sem que os parentes fossem comunicados da sua morte. O corpo dele foi exumado a pedido do delegado à frente do caso, Eurico Cunha Neto.
A Justiça também expediu, na quarta-feira, mandado de prisão preventiva para o cuidador Carlos César Viana. Todavia, de acordo com o sargento Carlos Henrique Maurício, apesar das buscas, ele não foi localizado. Carlos vai continuar sendo procurado para o cumprimento do mandado.

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Polícia temia fuga de suspeita para o exterior

Os restos mortais do advogado foram enviados para necropsia em Belo Horizonte, e o exame deve apontar as causas da morte de Simeão Cruz. À Tribuna, o delegado Eurico Cunha Neto disse, nesta quinta, que solicitou as prisões preventivas dos investigados, pois caso ficassem soltos, poderiam atrapalhar as investigações. “No computador dela, foram encontradas pesquisas de passagens aéreas para outros países. Levando em consideração que ela poderia fugir ou prejudicar as provas, solicitei a prisão. Já a prisão do cuidador tem o objetivo de evitar a destruição de provas”, esclareceu.
Na casa dos investigados, foram apreendidos celulares, notebook, documentos, medicamentos e R$ 8.700, que seriam provenientes de um saque de R$ 40 mil realizado na conta de Simeão. Ainda é investigado o destino de R$ 39 mil referentes à venda do veículo do aposentado.

Sobre o testamento, o delegado afirmou que o documento foi feito pela jornalista e levado até o idoso (em sua residência), cinco dias antes de ele morrer. À época, o delegado disse que “ele assinou de forma debilitada. Tudo leva a crer que as coisas não ocorreram de forma correta e que aconteceram diversas práticas criminosas”. O documento foi assinado por três testemunhas, sendo elas uma amiga, 57, e um ex-namorado da jornalista, 58, além de um ex-motorista de Simeão, 28, que, segundo Eurico, não estavam presentes no momento em que o advogado assinou o documento.

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As investigações prosseguem, e o delegado aguarda autorização judicial para periciar os celulares e o notebook apreendidos e também a quebra de sigilo bancário do idoso, da jornalista e do cuidador. Os suspeitos poderão responder por estelionato e ainda serão apurados outros possíveis crimes. Neste caso, diante do resultado do laudo do Instituto de Medicina Legal (IML).

Defesa

Procurado pela reportagem, o advogado da jornalista, Ulisses Sanches da Gama, afirmou que a apresentação de sua cliente à delegacia já estava planejada, mas, diante da prisão, a defesa entrou com pedido de revogação da decisão judicial, uma vez que a considera ilegal. “Ela foi presa preventivamente por uma questão midiática. O inquérito foi encerrado e não há nenhum requisito para que fosse decretada a prisão preventiva. Tão logo a Justiça se manifeste a respeito da revogação, iremos impetrar um habeas corpus em Belo Horizonte.”

Já o advogado do cuidador, Giovani Malta do Valle, disse ter sido informado sobre o pedido de prisão pela reportagem. “Meu cliente está tranquilo, trabalhando e se encontra em Juiz de Fora. Se realmente foi solicitada a prisão, ele irá se apresentar e não tem porque se negar a alguma coisa e nós vamos aguardar. Ele quer provar sua inocência”, ressaltou.

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Entenda o caso

O caso veio à tona depois de a família do advogado, formada por dez sobrinhos, estranhar o fato de o idoso ter sido sepultado às pressas, sem que os parentes fossem comunicados. Ele não possuía descendentes diretos vivos e tinha dois irmãos já falecidos. Em entrevista recente à Tribuna, o sobrinho de Simeão Cruz, o professor e agente de viagem, Marcelo Cruz, 49, contou que a família só soube da morte porque vizinhos teriam percebido uma movimentação estranha em frente ao prédio do idoso, no Bairro Alto dos Passos. Ao buscar informações, os parentes descobriram que o cuidador, a jornalista e uma terceira pessoa teriam providenciado o enterro, sem velório. Para o sepultamento no prazo inferior a 24 horas, foi exigido o atestado médico, no qual constam como causas da morte insuficiência cardíaca e hipertensão arterial. Pouco tempo depois, a família soube da existência do testamento.

De acordo com o delegado Eurico Cunha Neto, os depoimentos dos dois beneficiários sobre o testamento de Simeão Cruz foram contraditórios. Ainda conforme a investigação, o cuidador trabalhava para o aposentado há oito anos. Ele relatou que, aos poucos, o idoso foi perdendo contato com todos, desejando deixar parte dos bens para ele.

Já a jornalista, em depoimento, alegou que conhecia o idoso por possuir parentes vizinhos dele e afirmou ter passado a ter mais contato com o aposentado há cerca de três anos. Ela disse não ter conhecido os familiares dele e acrescentou que o homem decidiu deixar seus bens para ela e o outro beneficiário porque os familiares não tinham contato nenhum com ele. A investigada contou que, cerca de 20 dias antes de sua morte, Simeão teria manifestado vontade de deixar um testamento e teria pedido a ela para digitar.

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