O Instituto de Desenvolvimento Social Fênix nasceu durante a pandemia de Covid-19, quando a fundadora, Vanessa Farnezi, percebeu um aumento significativo de pessoas sofrendo com a insegurança alimentar. A ideia era preparar refeições e já distribuí-las prontas, para que os indivíduos que estivessem necessitando de uma alimentação balanceada e não estivessem com estrutura adequada pudessem se beneficiar. Desde então, o instituto continua distribuindo 120 marmitex por dia, quatro vezes por semana, mas lida com um problema de logística: não conta com um espaço próprio para realizar esse trabalho. Para contornar a situação, os voluntários precisam preparar a comida em um local, montar as marmitas e se deslocar de carro com todo esse material até outro ponto, onde podem fazer a distribuição e onde os indivíduos podem fazer a refeição sentados. O cenário, no entanto, dificulta o trabalho diário e acaba gerando imprevistos.
A Tribuna acompanhou a rotina do instituto para entender como essa preparação é feita e as dificuldades que eles enfrentam. Às 7h30, chega a primeira equipe de trabalho do instituto no ambulatório da Glória, onde conseguiram um espaço para o preparo dos alimentos. Quem chega primeiro é a cozinheira e suas auxiliares, responsáveis pelos pratos, que geralmente contêm carne, arroz, feijão, salada e legumes. Além disso, é comum que eles ofereçam suco e uma sobremesa. Todo o preparo é feito com alimentos que são doados ao instituto.
Depois que a comida fica pronta, uma equipe chega por volta das 11h para fazer a montagem dos marmitex e acomodar todo esse material no carro utilizado para transportar as refeições. A equipe vai até o pátio do Parque Alto, onde já há uma fila de pessoas esperando para se alimentarem. Em seguida, a terceira equipe faz a distribuição das marmitas.
No dia que a Tribuna acompanhou a distribuição, Maria Custódia da Silva Oliveira, de 63 anos, estava à frente na fila. Ela revela que se alimenta com o que o instituto doa desde que eles começaram o seu trabalho. Ela já tinha acompanhado a organização nos locais anteriores, e mora na Vila Ideal, tendo dificuldade para conseguir a alimentação adequada por lá. “A comida é gostosa, dá força para a gente continuar nesses momentos mais difíceis”, ela conta. Por outro lado, a beneficiada também se preocupa com a possibilidade de o instituto não conseguir continuar realizando esse trabalho. “É uma segurança. Sem esse prato, como a gente vai fazer?”, indaga.
Joana D’Arc da Silva, de 58 anos, que passou por problemas financeiros graves durante a pandemia, tendo ainda que cuidar de uma filha com problemas de saúde, tem o mesmo receito. “Às vezes você tem arroz e feijão, mas não tem carne e nem verdura, ou não consegue ter a estrutura e o tempo para preparar a comida”, conta. Sua percepção é de que o número de pessoas pedindo pelas marmitas do instituto aumentou durante os últimos anos. “Vejo gente trazendo criança porque precisa mesmo. Recentemente eu consegui um emprego, mas mesmo assim ainda preciso vir em muitos momentos, porque não tenho horário de almoço”, explica.
Já no caso de João Batista Clemente, de 55 anos, que está esperando conseguir a aposentadoria, foi preciso recorrer ao espaço porque teve uma costela quebrada e não consegue mais cozinhar, devido ao esforço físico. “Consigo me alimentar aqui e chego em casa à noite e não como mais. Faz a diferença”, diz.
Para Jorge Francinho Silva, de 65 anos, que mora no Monte Castelo, está desempregado e precisa pagar aluguel sem ajuda, encontrar uma alimentação balanceada tendo que arcar com os altos custos de mercado está sendo complexo. “Venho quase toda semana, e se isso aqui acabasse faria uma falta muito grande para quem precisa”, diz.
Dificuldades de estrutura
Apesar de conseguir beneficiar mais de cem pessoas às segundas, terças, quintas e sextas-feiras, quando o instituto faz entregas, o deslocamento acaba tornando o trabalho mais difícil para todos. Enquanto no ambulatório o pessoal do instituto não pode fazer a distribuição, na quadra não há cozinha, e, por isso, a equipe precisa sempre ficar entre esses dois espaços. “Antes, não tínhamos um carro para fazer esse deslocamento, e era mais complicado ainda”, conta Vanessa.
O que o projeto mais precisa, hoje, é de “alguém que abrace o instituto como um todo”. A fundadora explica que faz falta ter um local para organizar o estoque, colocar material de limpeza e mesmo para o trabalho diário das equipes funcionar melhor. “Nós vemos tantos imóveis fechados na cidade, que estão desativados por algum motivo. Mesmo que não seja uma doação, mas um empréstimo por um tempo, já faria muita diferença”, explica.
Motivos para continuar e formas de contribuir
A fundadora também gostaria que o instituto pudesse atender mais pessoas, porque, geralmente, os indivíduos pedem para repetir aa comida, mas não há quantidade suficiente para atender a todo mundo, já que as refeições são feitas a partir das doações. “A gente quer fazer mais, e queríamos que mais gente viesse conhecer o projeto de perto, para saber quais são as dificuldades e de que forma podemos ajudar”, diz.
Mesmo com os problemas apontados, que também atingem o instituto de outras formas, ela explica que sente que precisa continuar. Afinal, as refeições de pessoas como Maria Custódia, Joana, Jorge e João Batista dependem do instituto. “É muito gratificante para a gente saber que tá contribuindo um pouco, saber que tá amenizando um pouco essa fome. Nós não estamos salvando o mundo, mas estamos fazendo a diferença no mundo das pessoas que passam. O sorriso e a alegria quando sabem que vai ter um suco, algo diferente, motiva. A vida tem muitas dificuldades, mas se alegrar com a alegria dos outros deixa tudo mais leve”, reflete.