Uma manifestação contra a saída da delegada Ione Barbosa da Especializada de Atendimento à Mulher está marcada para esta quinta-feira (4). O protesto pacífico, em forma de apitaço, será às 14h em frente à 1ª Delegacia Regional de Polícia Civil, em Santa Terezinha, Zona Nordeste de Juiz de Fora. As expressões públicas de inconformismo com a transferência anunciada na última sexta não só prometem ganhar as ruas – depois de se espalharem pelas redes sociais -, como também já se concretizaram em um abaixo-assinado eletrônico por meio da Avaaz.org. O documento hospedado pela rede para mobilização social global através da internet já contava com cerca de 400 assinaturas até a tarde desta terça.
“Na verdade, não é um protesto. É um pedido de socorro. A nossa intenção é fazer uma manifestação na porta da delegacia pedindo socorro para nossas autoridades. Por quê? Qual é o motivo de tirar uma delegada que está fazendo um trabalho tão importante para Juiz de Fora e que tem nos protegido?”, questiona a advogada Rose França, ex-vereadora, ex-coordenadora da Casa da Mulher e uma das integrantes do movimento.
Ione estava à frente da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) há quase quatro anos e também é membro do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher. O anúncio da saída dela pegou de surpresa muitas vítimas de crimes e colegas de trabalho, principalmente por ter acontecido no fim do Mês da Mulher, quando a policial fez várias palestras, sobretudo em torno do tema da violência doméstica. Em nota emitida na segunda pela assessoria da Polícia Civil, o delegado regional, Armando Avolio Neto, confirmou a mudança da titular da Mulheres para a 4ª Delegacia (Zona Nordeste), por meio de permuta com a delegada Carolina Magalhães. Ele ainda destacou que “a movimentação das autoridades policiais é uma prática normal, por interesse da administração.”
“Acho que a Dra. Ione trabalha muito bem a proteção à mulher, à família e às pessoas hipossuficientes. Além disso, ela atua na emancipação e no empoderamento feminino. E isso é muito importante. Minha pergunta é: o que a Polícia Civil vai nos oferecer de proteção? Porque a violência contra a mulher está aumentando a cada dia”, pontua Rose França. Ela garante não falar apenas como ex-funcionária pública e representante do povo, mas também como profissional pós-graduada em Serviço Social e mestre em Psicologia, especializada no enfrentamento à violência contra a mulher. “A vítima precisa muito se sentir protegida para ter coragem em denunciar.”
Mais uma para agregar
Mesmo sem compreender os meandros da Polícia Civil, Rose França também considera não ser adequada a retirada de uma delegada, já que a ida de mais uma autoridade para a Especializada de Atendimento à Mulher poderia agregar. “Nós precisamos que aumente a Delegacia de Mulheres”, que continua contando com a delegada Ângela Fellet. “A Dra. Ângela se propôs em trocar, em sair da Delegacia de Mulheres, para deixar a Dra. Ione no comando, tendo em vista a importância do trabalho dela, que ela mesma reconhece. Por que então retirá-la se ela está fazendo um trabalho tão interessante para Juiz de Fora?”, volta a perguntar ex-coordenadora da Casa da Mulher.
A expectativa é de que cinco mil assinaturas sejam recolhidas pelo abaixo-assinado eletrônico, visando a permanência de Ione como titular da Especializada. “Dra. Ione, ao longo de todos os anos chefiando a Deam, demonstrou em todos os momentos o amor pelo seu trabalho e a empatia quanto às vítimas. Sempre atuante em seu cargo, Dra Ione também faz palestras em diversos lugares de Juiz de Fora – MG a fim de abordar temas como violência doméstica e familiar, violência psicológica, pedofilia e abuso infantil. Juntos seremos mais fortes! #SomosTodosIoneBarbosa”, diz o texto.
Novamente questionada nesta terça-feira (2) devido às inúmeras manifestações contra a transferência da delegada, a Polícia Civil informou, por meio da assessoria, que a movimentação das autoridades prevalece. “A Polícia Civil reforça que essa alteração não prejudicará a proteção ao direito das mulheres em Juiz de Fora, pois a especializada conta agora com o retorno da delegada Carolina, com a atuação da delegada Ângela à frente dos trabalhos e com uma equipe de policiais civis que continua preparada e empenhada em investigações envolvendo a violência contra a mulher”, finalizou a instituição em nota enviada na segunda.
“Estamos torcendo para que o delegado regional e as nossas autoridades competentes, como a nossa delegada Sheila (Oliveira), que agora é deputada estadual (PSL) e que tanto nos representa, possam tomar frente disso pela proteção das mulheres e mantenham a Dra. Ione, ao invés de transferi-la”, concluiu Rose França.